TEMATICA VARIADA, COM MAIOR INCIDÊNCIA NA MUSICA GENERALISTA, E NA FOTOGRAFIA, OBVIAMENTE COMO PILAR DE ESTAS DUAS FORMAS DE ARTE, ESTARÁ A POESIA
sábado, 5 de maio de 2012
Paixão desavinda
Paixão desavinda
Sentada no rebato da manhã
Com a porta da alma escancarada
Ruindo de velhinha
E de cansaço
Descalça na espora do tempo
Com rédeas de falso veludo
Soltas ao dissabor
Do grito prenhe da solidão
by Jorge Pereira
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Momentos
Momentos
De momentos inspirados
que para outros não passam
de momentos bem pensados
eu diria bem cunhados...
que ninguém percebe
momentos
com sabor artificial
Amor não é só carnal
os olhos comem sôfregos
insanos...e não procuram
a beleza de uma estrela
de Platão como ideal
Já tudo é banal
dos que se tocam sem Amar
corpos-cavernas sem ternura
não são amor
são somatório bestial...
retirar dali para colocar ali
uns montes...tão ...montes!
uma praia... tão praia!
uma multidão...tão...sem nada...
By Jorge Pereira
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Estrelas de vigia
Estrelas de vigia
Sendo a noite eo dia
Cada estrela de vigia
Silêncio rumoroso
Sangrento sol empoleirado
Bebendo a luz do nosso amor
Tempo velho / Escuro
Deixado no lago da insatisfação´
Enquanto cansado
Sob a insónia do desprazer
O tempo que tempo não foi
Não deixou de ser tempo
Sendo a noite e o dia
O rio
E as estelas de vigia
by Jorge Pereira
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Lao Tsé
Cierra tus ojos y verás claramente.
Cesa de escuchar y oirás la verdad.
Permanece en silencio y tu corazón cantará.
No anheles ningún contacto y encontrarás la unión.
Permanece quieto y te mecerá la marea del Universo.
Relájate y no necesitarás ninguna fuerza, ni la energía de los demás.
Sé paciente y alcanzarás todas las cosas.
Sé humilde y permanecerás entero.
Lao Tsé
Mulher!
Naiff by Jorge Pereira
Mulher!
Na tela pintada por um pintor solitário
Um rabisco de beleza do teu olhar
Que me fixa e lentamente me hipnotiza
Uma flor colhida do Éden.
A tua delicada e macia pele
Tocada pelos Deuses latinos.
Os teus lábios juntos aos meus;
O encontro de dois Mundos distintos,
Dois sonhos que se cruzam e se unem
Dois corpos que na intimidade se formam num.
Dentro desse sonho abstracto e irreal
Uma imagem de uma Deusa bela como Vénus;
Preenche o altar vazio do meu coração
E enche de alegria o universo dos prazeres,
E as nossas mãos se cruzam neste ritual
Secreto e silencioso à sombra da luz da lua!
Uma palavra que nunca é pronunciada
Olhares interligados que se devoram;
Um perfume que queima a mais cruel das almas,
Uma cama que ficou por arrumar.
Perto de ti, tudo é irreal... Imaginário;
Uma carícia que me queima a pele;
Em odores exóticos e românticos.
by Jorge Pereira
terça-feira, 1 de maio de 2012
Mulheres que amaram animais
Leda teve um cisne; Pasífae, o touro branco de Poseidon. A mitologia grega tem alguns casos de mulheres em aventuras sexuais com animais. Já homens com animais, não consigo lembrar-me de nenhum.
"Leda e o cisne", a partir dum quadro de Miguel Ângelo.
São sem dúvida casos diferentes: afinal, Leda foi enganada por um deus disfarçado de cisne (devia sentir-se honrada com a visita, imagino), enquanto Pasífae desejou voluntariamente unir-se a um touro. Isto de voluntário não é bem assim. Pasífae foi a vítima escolhida pelo deus Poseidon, que queria vingar-se de Minos, o marido de Pasífae, por este o ter desrespeitado. Poseidon enviou então um magnífico touro branco como oferta a Minos, e com a ajuda de Afrodite fez com que Pasífae se apaixonasse pelo animal. A rainha pediu auxílio a Dédalo, o engenhoso Dédalo que mais tarde construiu o labirinto. O inventor criou uma vaca de madeira dentro da qual Pasífae se escondeu para seduzir o touro e unir-se sexualmente a ele. A história não teve um final feliz: desta união, nasceu o Minotauro, o monstro devorador de homens.
Pablo Picasso, "Pasifae".
André Masson, "Pasifae".
Leda é um outro caso: o da mulher desejada que acaba seduzida (como tantas outras) por Zeus. O pai dos deuses assume a forma dum cisne, e seduz e viola Leda numa noite em que esta dorme também com o marido, o rei Tíndaro. Desta dupla cópula nasceram os gémeos Castor e Pólux, e as também irmãs Helena (a de Tróia) e Clitemnestra. O tema de Leda e o Cisne teve grande sucesso entre os artistas do Renascimento, na sua exploração dos temas da antiguidade clássica. Afinal, permitia-lhes pintar aquilo que nunca poderiam representar entre dois seres humanos: sexo explícito.
Também Pasífae teve sucesso artístico, mas - talvez por a maior parte da arte que nos chegou ter sido feita por homens? - é a imagem da submissa Leda que predomina. Os homens sempre gostaram de ver mulheres a fazer coisas ousadas, sexualmente falando, e Leda encaixa perfeitamente nestas fantasias. Quanto a Pasífae, era o retrato duma mulher sem moral, que no fundo praticava o bestialismo. Como se isso não bastasse, era irmã de Circe e como esta tinha poderes de feitiçaria. Nada de bom se poderia esperar de uma mulher assim: uma mulher que dorme com quem quer, animais incluídos, é a origem dos mais terríveis males e monstruosidades.
Fresco Casa de Vettii, Pompeia: Pasífae e Dédalo com a vaca de madeira
Correggio, "Leda com o Cisne"
Outras culturas têm as suas próprias lendas e prescrições sobre o bestialismo e em várias religiões os deuses mascaram-se de animais para se relacionarem, sexualmente ou não, com os humanos. Seja qual for a moralidade destas histórias da mitologia grega, a verdade é que são terreno fértil para poetas e pintores. Gosto particularmente, no caso de Leda, do quadro de Correggio e de um outro feito a partir de Miguel Ângelo. E pessoalmente subscrevo as palavras do romeno Marin Sorescu, cujo poema se transcreve abaixo: Grande puta,/ esta Leda / Por isso é que o mundo continua/ Tão bonito.
Aqui ficam alguns poemas sobre Leda:
Leda, de Marin Sorescu
Leda passa sorrindo
Por entre as coisas
E vai para a cama
Com todas elas.
O muro fez-lhe um filho
Da hera,
O sol fez-lhe nascer
Um girassol.
Ela fez amor às claras
Com todos os bois,
À cabeça o boi Apis,
Mas, diabos a levem,
Nem sequer se nota.
Grande puta,
Esta Leda,
Por isso é que o mundo continua
Tão bonito.
Leda e o Cisne, de W.B. Yeats (tradução de Paulo Vizioli)
Súbito golpe: as grandes asas a bater
Sobre a virgem que oscila, a coxa acariciada
Por negros pés, a nuca, um bico a vem reter;
O peito inane sobre o peito, ei-la apresada.
Dedos incertos de terror, como empurrar
Das coxas bambas o emplumado resplendor?
Pode o corpo, sob esse impulso de brancor,
O coração estranho não sentir pulsar?
Um tremor nos quadris engendra incontinente
A muralha destruída, o teto, a torre a arder
E Agamêmnon, o morto.
Capturada assim,
E pelo bruto sangue do ar sujeita, enfim
Ela assumiu-lhe a ciência junto com o poder,
Antes que a abandonasse o bico indiferente.
Leda, de Ruben Dario
El cisne en la sombra parece de nieve;
su pico es de ámbar, del alba al trasluz;
el suave crepúsculo que pasa tan breve
las cándidas alas sonrosa de luz.
Y luego en las ondas del lago azulado,
después que la aurora perdió su arrebol,
las alas tendidas y el cuello enarcado,
el cisne es de plata bañado de sol.
Tal es, cuando esponja las plumas de seda,
olímpico pájaro herido de amor,
y viola en las linfas sonoras a Leda,
buscando su pico los labios en flor.
Suspira la bella desnuda y vencida,
y en tanto que al aire sus quejas se van,
del fondo verdoso de fronda tupida
chispean turbados los ojos de Pan.
De Pasifae, a terminar, um poema em inglesa de A.D. Hope pode ser lido neste site.
Baixo-relevo de Leda e o Cisne, autor desconhecido.
Leda, por Dali
Leda e o cisne num mosaico cretense
Paul Cézanne, Leda e o Cisne
Matisse, Leda e o Cisne
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/11/mulheres_que_amaram_animais.html#ixzz1tf5ZSxLz
publicado em artes e ideias por tajana | 6 comentários
Leda teve um cisne; Pasífae, o touro branco de Poseidon. A mitologia grega tem alguns casos de mulheres em aventuras sexuais com animais. Já homens com animais, não consigo lembrar-me de nenhum.
"Leda e o cisne", a partir dum quadro de Miguel Ângelo.
São sem dúvida casos diferentes: afinal, Leda foi enganada por um deus disfarçado de cisne (devia sentir-se honrada com a visita, imagino), enquanto Pasífae desejou voluntariamente unir-se a um touro. Isto de voluntário não é bem assim. Pasífae foi a vítima escolhida pelo deus Poseidon, que queria vingar-se de Minos, o marido de Pasífae, por este o ter desrespeitado. Poseidon enviou então um magnífico touro branco como oferta a Minos, e com a ajuda de Afrodite fez com que Pasífae se apaixonasse pelo animal. A rainha pediu auxílio a Dédalo, o engenhoso Dédalo que mais tarde construiu o labirinto. O inventor criou uma vaca de madeira dentro da qual Pasífae se escondeu para seduzir o touro e unir-se sexualmente a ele. A história não teve um final feliz: desta união, nasceu o Minotauro, o monstro devorador de homens.
Pablo Picasso, "Pasifae".
André Masson, "Pasifae".
Leda é um outro caso: o da mulher desejada que acaba seduzida (como tantas outras) por Zeus. O pai dos deuses assume a forma dum cisne, e seduz e viola Leda numa noite em que esta dorme também com o marido, o rei Tíndaro. Desta dupla cópula nasceram os gémeos Castor e Pólux, e as também irmãs Helena (a de Tróia) e Clitemnestra. O tema de Leda e o Cisne teve grande sucesso entre os artistas do Renascimento, na sua exploração dos temas da antiguidade clássica. Afinal, permitia-lhes pintar aquilo que nunca poderiam representar entre dois seres humanos: sexo explícito.
Também Pasífae teve sucesso artístico, mas - talvez por a maior parte da arte que nos chegou ter sido feita por homens? - é a imagem da submissa Leda que predomina. Os homens sempre gostaram de ver mulheres a fazer coisas ousadas, sexualmente falando, e Leda encaixa perfeitamente nestas fantasias. Quanto a Pasífae, era o retrato duma mulher sem moral, que no fundo praticava o bestialismo. Como se isso não bastasse, era irmã de Circe e como esta tinha poderes de feitiçaria. Nada de bom se poderia esperar de uma mulher assim: uma mulher que dorme com quem quer, animais incluídos, é a origem dos mais terríveis males e monstruosidades.
Fresco Casa de Vettii, Pompeia: Pasífae e Dédalo com a vaca de madeira
Correggio, "Leda com o Cisne"
Outras culturas têm as suas próprias lendas e prescrições sobre o bestialismo e em várias religiões os deuses mascaram-se de animais para se relacionarem, sexualmente ou não, com os humanos. Seja qual for a moralidade destas histórias da mitologia grega, a verdade é que são terreno fértil para poetas e pintores. Gosto particularmente, no caso de Leda, do quadro de Correggio e de um outro feito a partir de Miguel Ângelo. E pessoalmente subscrevo as palavras do romeno Marin Sorescu, cujo poema se transcreve abaixo: Grande puta,/ esta Leda / Por isso é que o mundo continua/ Tão bonito.
Aqui ficam alguns poemas sobre Leda:
Leda, de Marin Sorescu
Leda passa sorrindo
Por entre as coisas
E vai para a cama
Com todas elas.
O muro fez-lhe um filho
Da hera,
O sol fez-lhe nascer
Um girassol.
Ela fez amor às claras
Com todos os bois,
À cabeça o boi Apis,
Mas, diabos a levem,
Nem sequer se nota.
Grande puta,
Esta Leda,
Por isso é que o mundo continua
Tão bonito.
Leda e o Cisne, de W.B. Yeats (tradução de Paulo Vizioli)
Súbito golpe: as grandes asas a bater
Sobre a virgem que oscila, a coxa acariciada
Por negros pés, a nuca, um bico a vem reter;
O peito inane sobre o peito, ei-la apresada.
Dedos incertos de terror, como empurrar
Das coxas bambas o emplumado resplendor?
Pode o corpo, sob esse impulso de brancor,
O coração estranho não sentir pulsar?
Um tremor nos quadris engendra incontinente
A muralha destruída, o teto, a torre a arder
E Agamêmnon, o morto.
Capturada assim,
E pelo bruto sangue do ar sujeita, enfim
Ela assumiu-lhe a ciência junto com o poder,
Antes que a abandonasse o bico indiferente.
Leda, de Ruben Dario
El cisne en la sombra parece de nieve;
su pico es de ámbar, del alba al trasluz;
el suave crepúsculo que pasa tan breve
las cándidas alas sonrosa de luz.
Y luego en las ondas del lago azulado,
después que la aurora perdió su arrebol,
las alas tendidas y el cuello enarcado,
el cisne es de plata bañado de sol.
Tal es, cuando esponja las plumas de seda,
olímpico pájaro herido de amor,
y viola en las linfas sonoras a Leda,
buscando su pico los labios en flor.
Suspira la bella desnuda y vencida,
y en tanto que al aire sus quejas se van,
del fondo verdoso de fronda tupida
chispean turbados los ojos de Pan.
De Pasifae, a terminar, um poema em inglesa de A.D. Hope pode ser lido neste site.
Baixo-relevo de Leda e o Cisne, autor desconhecido.
Leda, por Dali
Leda e o cisne num mosaico cretense
Paul Cézanne, Leda e o Cisne
Matisse, Leda e o Cisne
O Frasco Azul
O Frasco Azul
O frasco azul, num armário, esquecido
de vidro e tampa dourada
Guarda o perfume de um tempo perdido
Memórias com rosto de quem foi amada
De vidro e tampa dourada
Mas corajoso guarda o seu maior bem
O rastro de um sorriso que tanto gostava
... Sonhos e estórias de mais ninguém
O frasco azul, num armário, esquecido
Guarda a dor do meu coração ferido
Na hora em que a saudade nasceu
Apenas de vidro e tampa dourada
Encolhido num canto, tão perto do nada
Jazigo azul de um amor que morreu
by Jorge Pereira
segunda-feira, 30 de abril de 2012
domingo, 29 de abril de 2012
Caio Fernando Abreu
Entrar na realidade
Em luta, meu ser se parte em dois.
Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não.
Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora.
No que está sendo.
Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim,
de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço.
Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar,
mas enfrentar e ...penetrar no que está sendo é coragem.
Pensar é ainda fuga:
aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar.
Entrar nela significa viver.
_________Caio Fernando Abreu
Perco teu mapa
Perco teu mapa
Perco teu mapa
Em cada porto da saudade
A canoa atraca
E não te achando.
Retorno ao mar
Enfrentando a tempestade
O medo / a solidão
E faminto
Fixo-me ao leme da esperança
Temendo a perda de forças
O desvio do porto seguro´
Mar brando / Báia Cristalina
Canoa dos sonhos
Quando o tempo
Em tua ausência / corre
Pondo a embarcação em perigo
Enfraquecendo o amor
Desviando-o....
E não te encontrando
Perco-me de tua rota.
by Jorge Pereira
Perco teu mapa
Perco teu mapa
Perco teu mapa
Em cada porto da saudade
A canoa atraca
E não te achando.
Retorno ao mar
Enfrentando a tempestade
O medo / a solidão
E faminto
Fixo-me ao leme da esperança
Temendo a perda de forças
O desvio do porto seguro´
Mar brando / Báia Cristalina
Canoa dos sonhos
Quando o tempo
Em tua ausência / corre
Pondo a embarcação em perigo
Enfraquecendo o amor
Desviando-o....
E não te encontrando
Perco-me de tua rota.
by Jorge Pereira
Labirinto do amor
Labirinto do amor
Acordo
E diviso
Vislumbro o amanhã esquecido´
Envolto no apetecivel
No evidente conteúdo....
Enquanto a vida
Sorrindo e chorando
De mão estendida
Espera-nos
Vertendo os desperdicios do nosso tempo´
Juizos incalculáveis
No desagrado
Entregues á alma
Com pedaços de vazio
by Jorge Pereira
Klimt e a eterna atração pelo feminino
Este ano comemoram-se 150 anos do nascimento de Gustav Klimt (1862-1918), um dos grandes artistas europeus e um dos percursores da vanguarda vienense. Sua vida foi tão intensa quanto sua obra, e em ambas a paixão pelas mulheres - em seu intimo e despidas de vestes e valores morais - foi seu guia. Nuas, vestidas, deitadas, em movimento ou em momentos íntimos - poucos artistas estiveram tão envolvidos com o universo feminino.
© Gustav Klimt, "Beethoven Frieze" (1901-02) , Belvedere, Viena.
Gustav Klimt viveu em Viena em um momento de efervescência. Durante o século XIX, a cidade se urbanizou; novas ideias a invadiam e atraiam intelectuais de diversas localidades. Um cenário intenso que permitiu muitas alterações no conhecimento científico, na sociedade e na arte. Antes de Klimt, a pintura praticada na cidade era provinciana e a maioria das obras eram retratos da elite vienense. O artista traz uma percepção do espirito humano, um estilo pictórico e decorativo, que vai influenciar o art nouveau. Suas obras são caracterizadas como pertencendo ao simbolismo, e dialogam com a arte japonesa e africana, o que resultou em uma pintura peculiar e muito própria.
© Gustav Klimt, "Palas Atena" (1898).
Foi nesse período que Klimt e mais dezoito artistas dissidentes da Associação dos Artistas Vienensesa criaram a Secessão Vienense, uma crítica à liberdade de criação tolhida pelas academias. Os membros da Secessão foram influenciados pelo movimento Arts and Crafts, da Inglaterra. O grupo buscava resgatar as qualidades do fazer artesanal contra a mecanização, integrando-o com a arte e arquitetura. O afresco Beethoven Frieze é um dos grandes exemplos desse período.
© Gustav Klimt, "As Três Idades da Mulher" (1905).
Ao deixar a Secessão, a obra de Klimt passou a ter um caráter mais pessoal. Assim, as mulheres tornaram-se o foco de atenção, uma verdadeira obsessão do pintor - que soube como retratá-las diante do novo século. Klimt utilizou-se das curvas femininas e do olhar evocativo das mulheres, sempre colocadas como figuras centrais, como verdadeiras armadilhas de sedução para o observador. A nudez é sempre crua, e as mulheres não são objetos passiveis para o prazer, mas para excitar com o seu próprio prazer. E o nu frontal, mostrando até mesmo os pelos pubianos, rompeu totalmente com o conservadorismo tanto da sociedade quanto das artes.
© Gustav Klimt, "Serpentes Aquáticas" (1904-1907).
A obra de Klimt possui um equilíbrio e um diálogo único entre o refinamento sensível e decorativo e a morbidez de sua figuras, que pendem para o simbolismo. Os ornamentos aparentam ser simbólicos em diversos momentos, criando ritmos nos elementos de cinzas e pérolas pálidos e dourado e prata vívidos. A ornamentação foi o caminho escolhido pelo artista para criar uma atmosfera de sonho, onde as figuras não estão ligadas a nenhum tempo ou local, repleta de alegorias que estimulam a imaginação.
© Gustav Klimt, "Fritza Riedler" (1906) , Belvedere, Viena.
© Gustav Klimt, "Frizo Stoclet - O abraço" (1905).
As joias, parte desta ornamentação, são de uma delicadeza e cuidado que atraem o olhar. Assim como as vestimentas. Em 2008, John Galliano apresentou em um desfile da Dior uma coleção totalmente inspirada nos vestidos usados pelas mulheres de Klimt em suas obras. O artista fez parte do Movimento pela Reforma do Vestuário, que pregava um novo tipo de vestimenta para as mulheres – assim como uma reforma nas regras de comportamento. Os vestidos tinham inspiração nas túnicas africanas de cortes largos e com tecidos de estampagem étnicos.
© Gustav Klimt, "Adele Bloch Bauer" (1907).
Outro elemento recorrente nas pinturas de Klimt são as ruivas. Influenciado pelos pré-rafaelitas, que popularizaram a imagem da mulher ruiva, nas obras do artista as madeixas vermelhas ganham o status de sedução e feminilidade.
© Gustav Klimt, "Danae" (1907-08).
Klimt realizou cerca de 3.000 desenhos eróticos, muitas vezes com cenas de sexo explícito – a maioria publicada após a sua morte. Além dos desenhos, muitas de suas pinturas trazem uma carga de intenso erotismo. O ato sexual é revisto através dos personagens clássicos da mitologia grega. A vida também é vista através da passagem do tempo e do sexo. Outra questão explorada por Klimt é o amor entre as mulheres, como na obra As Amigas. E quando o homem se faz presente nas pinturas, é como voyeur ou como complemento.
© Gustav Klimt, "Danae" (1907-08).
© Gustav Klimt, "O Beijo" (1908), Belvedere, Viena.
Klimt sentia-se atraído pela mitologia, principalmente pelas sereias – que eram vistas pelo artista como um símbolo ambíguo da feminilidade e perversidade da mulher. Em Água Agitada, as sereias são mulheres de extrema sensualidade, com seus corpos nus de formas sinuosas como se acompanhassem o movimento da água. Um verdadeiro simbolismo erótico. Muitas das mulheres retratadas pelo artista possuem corpos de uma incrível leveza, como se estivessem flutuando no ar ou na água, sem direção ou orientação.
© Gustav Klimt, "Água Agitada" (1898), Private Collection, Galeria St. Etienne, Nova Iorque.
Já em Judith I, o artista traz uma inovadora versão do mito. Ícone da mulher fatal capaz de submeter qualquer homem aos seus desejos, na obra de Klimt ela aparece sem disfarçar o prazer da dominação – como um prazer sexual - ao segurar a cabeça do general assírio por cuja morte foi responsável. Repleta de ouro – com um fundo em que Klimt buscou reproduzir os relevos assírios do palácio de Nínive – Judith aparece com a roupa transparente e os seios nus. Seus cabelos negros contrastam com os trabalhos em dourados. Uma feminilidade agressiva, onde a mulher tem o pleno poder, mas ainda é repleta de sensualidade.
© Gustav Klimt, "Judith" (1901), Belvedere, Viena.
No final da vida, Klimt abandonou o dourados e as cores fortes e passou a utilizar os tons pastel. Uma viagem à França também fez com que se encantasse pelo impressionismo e com isso alterasse suas pinceladas. Mas seu olhar permaneceu eternamente atraído pelas mulheres.
© Gustav Klimt, "Mäda Primavesi" (1912-13), Belvedere, Viena.
© Gustav Klimt, "Família" (1912-13), Belvedere, Viena.