TEMATICA VARIADA, COM MAIOR INCIDÊNCIA NA MUSICA GENERALISTA, E NA FOTOGRAFIA, OBVIAMENTE COMO PILAR DE ESTAS DUAS FORMAS DE ARTE, ESTARÁ A POESIA
sexta-feira, 23 de março de 2012
Vinho: conhecer a história, perceber o presente
quinta-feira, 28 de abril de 2011
John Coltrane
John Coltrane
Como é que tantos sons tocados tão depressa conseguem soar tão belos ao ouvido?
John Coltrane definiu o Saxofone Tenor no espaço de 10 anos, desde os seus trabalhos com Miles Davis e Thelonious Monk até às suas excursões a solo, não há melhor que ele. Se Jimi Hendrix é a referência na guitarra John Coltrane é a do Saxofone. Isto não é novidade nenhuma para quem conhece os grandes do Jazz e o porquê de o serem.
E comparando Coltrane aos outros compositores de Jazz que mais adoro, compreende-se que apesar de para muita gente o Jazz ainda soar a dialogo musical incoerente e excessivamente complexo, tudo o que John Coltrane fez, Miles Davis e Charles Mingus nunca teriam conseguido ter feito. Esta é a beleza das referências em todos os géneros. Há sempre alguma coisa que algum deles não consegue fazer tão bem como o outro. Todos eles foram pioneiros, não há ninguém no Jazz que não lhes siga as passadas, mas são todos dramaticamente diferentes. Enquanto Charles Mingus tinha uma abordagem mais clássica ao Jazz Avant-garde utilizando ensembles maiores e uma estética mais clássica piscando o olho ao Blues, Miles Davis queria sempre estar na proa do barco no que tocava às inovações mais recentes do mundo da música pegando em todas as inovações técnicas que a electricidade tinha para dar ao mundo da música e deixando sempre a questão "O que é Jazz?". Entretanto, John Coltrane com o formato "simples" de um quarteto, aperfeiçoava a linguagem melódica de todos os solistas que viriam daí para a frente com técnicas de composição e construção melódica que hoje são norma em muitas vertentes do Jazz.
Apesar de tudo, todos eles eram génios no que faziam, nos instrumentos que tocavam e na forma como quebravam as barreiras. Mas no entanto, arrisco-me a dizer que como instrumentista, nenhum deles teve o impacto que John Coltrane teve. Alguns dos temas que Coltrane escreveu são hoje considerados standards do Jazz e grande parte deles, são das peças mais impressionantes tecnicamente no mundo da música.
Até agora parece que Coltrane é apenas um inovador técnico. Mas se há provas que ele vai muito além disso é em álbuns como Giant Steps ou My Favorite Things .
My Favorite Things é a recomendação que faço e é dos meus álbuns favoritos de Jazz. Para começar, foi a estreia de Coltrane a gravar com um Saxofone Soprano , que é dos instrumentos que mais gosto de ouvir. Depois há duas performances que são das melhores no catálogo de John Coltrane: "My Favorite Things" e "Summertime", ambas standards quando Coltrane as gravou e ambas com direito a arranjos absolutamente assustadores, em que todos os músicos brilham.
Neste álbum contamos com McCoy Tyner no piano, Elvin Jones na bateria e Steve Davis no contrabaixo, uma secção rítmica que mete Coltrane no paraíso antes sequer de ele dar uma nota. O arranjo do tema que se tornou conhecido no filme "Música no Coração" e que dá nome ao álbum é particularmente arrepiante: uma mutação absurda do tema, numa uma viagem pelos confins da música indiana e do Jazz.
Summertime tem um solo estrondoso de bateria de Elvin Jones e McCoy Tyner não pára no álbum inteiro. Dois músicos que estariam para se tornar lendas absolutas do Jazz.
É um álbum relativamente curto e de fácil digestão para quem tem medo das divagações dos solistas, por isso dêem uma olhadela, com os ouvidos de preferência.
sábado, 23 de abril de 2011
Os ovos de Páscoa de Peter Carl Fabergé
Os ovos de Páscoa de Peter Carl Fabergé são os mais caros do mundo e considerados até hoje verdadeiras obras-primas da joalharia. Um requinte que lhe valeu a preferência dos czares da Rússia.
A receita para se fazer um ovo de Páscoa como o conhecemos hoje é simples: mistura-se açúcar, cacau e leite com alguns outros ingredientes e temos um presente irresistível que normalmente dura menos de uma semana, para os chocólatras como eu.
Já a receita dos ovos de Páscoa criados pelo joalheiro Peter Carl Fabergé é um tanto mais cara. Em seu ateliê, ele criava ovos com ingredientes como pedras preciosas, metais e esmaltes.
O primeiro ovo Fabergé foi criado em 1885 sob encomenda do czar Alexandre III, que queria presentear com algo especial sua esposa, Maria Feodorovna, por ocasião da Páscoa. O joalheiro criou então um ovo em ouro esmaltado que aparentemente não tinha nada de extraordinário. Mas ao ser aberto descobria-se em seu interior uma gema de ouro que dentro tinha uma galinha com olhos de rubi, que por sua vez continha uma réplica em diamante da coroa imperial.
Ao receber o presente, a imperatriz ficou encantada e assim o czar nomeou Fabergé o joalheiro oficial da corte. Os ovos se tornaram uma tradição da família imperial russa. Todo ano Carl criava uma nova peça e a única condição imposta por Alexandre ao artista era a de que cada ovo devia ser único e conter uma surpresa dentro.
A tradição permaneceu após a morte de Alexandre III e foi continuada por seu sucessor, Nicolau II, só encontrando seu fim com a queda do império, em 1917. Com a posse do novo czar, Fabergé passou a produzir dois ovos por ano - um para a nova czarina, Alexandra Feodorovna, e outro para a viúva de Alexandre.
Os ovos tinham motivos temáticos sempre ligados ao cotidiano da família imperial e a momentos históricos da Rússia como, por exemplo, a inauguração da estrada Transiberiana. Depois da primeira exposição em que os ovos foram mostrados ao mundo, em 1900, o joalheiro viu seu prestigio atingir o auge. Abriu novos ateliês fora da Rússia e passou a ser procurado por clientes particulares interessados em adquirir ovos e jóias imponentes.
A joalheria de Fabergé alcançava seu ápice, mas em contrapartida o império russo declinava. A crescente crise da corte czarista afetou a obra de Carl, que começou a optar por materiais semipreciosos na confecção de suas peças. Nesse contexto, os ovos criados pelo joalheiro ficaram para sempre ligados à imagem da decadência do regime czarista, um paradoxo entre a pobreza que assolava o país e a opulência de um Império falido.
Devido ao conturbado momento histórico, Fabergé decidiu em 1916 fechar sua joalheria. Os ovos, que faziam parte das jóias imperiais foram em parte saqueados e outros confiscados pelo novo governo. Sendo visto como um símbolo da luxúria que dominava o antigo governo, o joalheiro teve que buscar exílio na Suíça, onde viveu até a sua morte em 1920.
Décadas depois da revolução, os ovos passaram a ser muito valorizados, tanto pela beleza inigualável como pela mística que se criou em torno da má sorte da família imperial. Colecionadores de todo o planeta disputavam as peças em leilões que acabavam sempre em arremates por valores extremos.
O mais caro deles, vendido por 12,5 milhões, foi leiloado em 2007. E apesar do preço, não era um dos ovos produzidos para os czares, mas um ovo feito para um cliente particular do joalheiro. Estima-se que Fabergé tenha produzido 56 ovos imperiais, mas destes apenas 44 foram localizados.
terça-feira, 19 de abril de 2011
sábado, 15 de maio de 2010
Trabalho infantil: a América a preto e branco
Trabalho infantil: a América a preto e branco
The american dream - o sonho americano. É impossível não evocar a imagem da Estátua da Liberdade à entrada do porto de Nova Iorque a acolher os emigrantes que deixaram os seus lares distantes à procura de uma vida melhor no Novo Mundo. Vinham de todas as idades. Muitos chegavam ainda crianças, ao colo dos seus pais, olhando à volta para o ambiente estranho e fantástico da grande cidade. Desde logo começavam a trabalhar e a procurar, no fundo, a sua oportunidade na terra de todas as oportunidades.
Mais por necessidade do que por ambição, desde tenra idade os futuros americanos davam à sua nação o seu esforço e a sua juventude numa época em que as crianças eram adultos pequenos e em que o trabalho infantil era um privilégio. A América cresceu tanto à custa dos emigrantes como das suas crianças, adultos à força que não tiveram tempo de brincar.
Lembremo-nos das imagens cruas dos meninos de "Era uma vez na América", de Sergio Leone, das atribulações dos recém-chegados retratadas com ironia em "Os imigrantes", de Charles Chaplin, para falarmos apenas em termos de cinema; mas lembremo-nos também das fotografias de Alfred Stieglitz ou de Dorothea Lange, dois nomes consagrados. Menos conhecido foi Lewis Hine que dedicou grande parte da sua actividade de fotógrafo a documentar cenas de trabalho infantil nos EUA.
Entre 1908 e 1912 Hine registou com a sua câmara aquilo que chamou rostos da juventude perdida: crianças de todas as idades, algumas de apenas cinco anos, em trabalhos de gente crescida. E não se julgue que eram trabalhos leves - pelo contrário. Encontramos meninos e meninas nas fábricas, no comércio, nas pescas, nas minas, desde o amanhecer até ser noite cerrada, por vezes mais de doze horas... O fotógrafo conheceu-os todos: Michael, Manuel, Camille, Pierce. Conheceu as histórias de cada um. Posaram para ele, às vezes com o orgulho ingénuo de quem se julga gente grande, embora nos seus olhos estivesse toda a tristeza do mundo. As imagens são lancinantes; não se consegue fixá-las sem uma ponta de comoção.
Algumas destas crianças não passaram da sua meninice. Outras sobreviveram, cresceram e prosperaram, mergulhando fundo na embriaguez do grande sonho americano.
Tema de Era uma vez na América - Ennio Morricone (excerto)
quinta-feira, 22 de abril de 2010
MOLESKINE
Moleskine é simplesmente um notebook de capas pretas envolvido por um elástico, que foi utilizado por diversos artistas e intelectuais. Desde Van Gogh, Matisse, Céline a Hemingway, todos perpetuaram suas notas num Moleskine e através dele moldaram a cultura que herdamos.
De uma forma ou de outra, nos dias que correm várias pessoas usam este notebook, quer pela utilidade, quer pelo fascino da marca, ou talvez com a vã esperança da inspiração divina. Não contesto de forma alguma o Moleskine, pelo contrário, acho-o extremamente elegante, prático e com uma óptima qualidade. O que considero verdadeiramente hilariante é vê-lo nas mãos de pessoas que não o usam, mas passeiam-no simplesmente pelo facto de se julgarem mais eruditos por andarem com um. Assim, como quem não quer a coisa, sempre se pode dar uma de intelectual e dizer que foi o notebook de Ernest Hemingway - sempre fica bem, não?
Durante um período da minha vida, usei Moleskine - falarei sobre isto oportunamente - mas actualmente, para que conste - chamem-lhe rebeldia - prefiro o papel de 100gr de um Winsor & Newtow. Uma fase, talvez.