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O RIBEIRÃO DA MINHA INFÂNCIA
Não o reencontro.
Nem o reencontrarei
o ribeirão da minha infância.
Sua morte foi decreto público
de morte inteira.
De evitar qualquer vestígio.
Não teve prestígio.
Não tinha bandeira.
Nunca o fotografei.
Mas guardei-o em mim.
Nunca foi cartão-postal.
Mas é passaporte de saudade.
O ribeirão dorme
sob entulho,
num embrulho de crueldade.
Dorme sob a assinaturado
do decreto.
No esquecimento geral dorme
e dorme na minha inútil lembrança.
Nada o fará ressuscitar.
Riem de minhas perguntas,
caçoam do meu poema,
me apontam na rua,
me nomeiam entre os animais irracionais.
Não à minha frente
em seus disfarces de lobo e raposa.
Não em meus olhos
com seus olhos de enguia.
Mas em festas de família,sim.
E sobretudo aos sussuros,sim.
Ali dizem o que pensam
e se contorcem de rir até as lágrimas.
Lindolf Bell
In O Código das Águas
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