quarta-feira, 28 de abril de 2010



Poemas, Herman Melville
17 July 2009 1 Comentário
Estes Poemas de Herman Melville são uma selecção de três livros: Fragmentos de Batalha e Aspectos da Guerra, John Marr e Outros Marinheiros e Timoleon,etc, editados pela Assírio & Alvim.

Segundo Elizabeth, a filha, Herman Melville começou a escrever poesia em 1859, aos 40 anos de idade, replicando a fraca excitação do público perante livros como Moby Dick, ignorado à época, apesar de Melville ter conseguido obter algum sucesso com outros títulos.

Curioso que Mário Avelar, o responsável pela selecção e tradução, conclua a nota introdutória sugerindo que as suas traduções sejam sim, versões dos poemas. A edição é bilingue (o original Inglês é bem mais complexo), e o que contribuiu para que esta tradução competente seja apelidada de versão, é o desaparecimento quase total da rima.

Os poemas seleccionados, publicados entre 1866 e 1891 (ano da morte de Melville), são curtos, mas ainda assim os mais relevantes e exemplificativos da poesia de Herman Melville. Movimentam-se nas mesmas paisagens marítimas da outra obra do autor, bem como na própria vida deste.

O mar destes versos tem mais a ver com navios afundados no fundo do Oceano, do que com alvoradas em alto mar com céu azul. Nos poemas dos dois primeiros volumes, existem raízes profundas, francamente Americanas, dada a constante menção aos locais e intervenientes da Guerra Civil. Principalmente em poemas de Fragmentos (…), há um uso meticuloso de vocabulário científico, sendo que a tradução parece mais literata, de um original mais rude, de marujo, mas com uma construção que obedece ao pensamento e não à escrita

O lamento de Melville perante o desvanecer dos valores morais é sentido em todos os poemas, num canto saudoso e que lastima o presente, num autor que se viu rodeado de morte, nomeadamente teve de enterrar dois filhos a quem prevaleceu. A caminhar para o fim da vida, começou a perder o fulgor e o reconhecimento do público, apenas Fragmentos de Batalha e Aspectos da Guerra foi lançado sem ser em edição de autor, e, mesmo assim, apenas vendeu 468 cópias nos primeiros dois anos, de uma edição de 1260.

A única incongruência será a inclusão do último tomo de poemas, Timoleon, etc, de inspiração Grega, mais celestial, com mais luz nos versos, uma esperança que Herman Melville parecia conquistar à medida que a hora da morte se aproximava.

Uma versão leve da obra poética de Melville, que funciona como um bom campo de entrada para descobrir mais do autor, bem como actualiza a memória deste, num país com fortes tradições em poesia de influência marítima.

“Shiloh”

(Abril de 1862)

Flutuando levemente, descrevendo círculos,
Pairam as andorinhas
Sobre o campo em dias nublados,
O campo da floresta em Shiloh-
Sobre o campo onde a chuva de Abril
Confortou corpos ressequidos em sofrimento
Ao longo da pausa da noite
Após o combate de domingo
Em torno da igreja de Shiloh-
A igreja solitária, de troncos feita,
Que para tantos ecoou lamentos de despedida
E sinceras preces
De adversários moribundos ali se confundiram -
Adversários ao amanhecer, amigos ao crepúsculo-
Fama ou país pouco lhes importa:
(Tal como uma bala pode enganar!)
Mas agora no solo jazem
Enquanto as andorinhas sobre eles flutuam,
E o silêncio se instala em Shiloh.

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