Rasgo minha carne
Tiro as máscaras
Mergulho fundo, me reinvento
Gata com sete vidas
Caio em pé e não me deito
Sou felina, sou mulher
Sou teu desejo e segredo
Perturbo teu silêncio
Me escondo atrás da lua
Me desapego
Apago pegadas e sonetos
Sou dança e cantiga
Não tenho medo
Reconstruo minha vida
Crio meu caminho 
Sigo em frente 
Jogando versos ao vento
Myriam Valentina
A Torpe Sociedade onde Nasci 
I 
Ao ver um garotito esfarrapado 
Brincando numa rua da cidade, 
Senti a nostalgia do passado, 
Pensando que já fui daquela idade. 
II 
Que feliz eu era então e que alegria... 
Que loucura a brincar, santo delírio!... 
Embora fosse mártir, não sabia 
Que o mundo me criava p'ra o martírio! 
III 
Já quando um homenzinho, é que senti 
O dilema terrível que me impôs 
A torpe sociedade onde nasci: 
— De ser vítima humilde ou ser algoz... 
IV 
E agora é o acaso quem me guia. 
Sem esperança, sem um fim, sem uma fé, 
Sou tudo: mas não sou o que seria 
Se o mundo fosse bom — como não é! 
V 
Tuberculoso!... Mas que triste sorte! 
Podia suicidar-me, mas não quero 
Que o mundo diga que me desespero 
E que me mato por ter medo à morte... 
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..." 
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