Sei que o cérebro o coração e o ventre    
são uma só forma. O mesmo ponto claro     
no alcatrão profundo da abóbada.     
Que o cérebro murmura     
como o estorninho que devora a verdura     
que se estende diante dos olhos.     
O ventre, esse, pernoita e imita-o     
ao som do ritmo do coração     
que digere os vegetais túrgidos     
a que pude aconchegar os lábios.     
Nada mais bascula no teto     
onde um vapor prende os intervalos.     
Costelas, harpa da noite, com um som     
de osso cristalino em que não toco     
senão quando o cadáver se desenvolver     
deste corpo ornamentado por flores frescas.     
Assim um tronco esvaziado     
pelo formigueiro por vezes confunde-se     
com o meu cérebro, o coração e o ventre.     
O luar eterniza-se como fundo     
deste pensamento acerca das formas.     
É uma pequena cabeça de formiga,     
tão negra que a agradeço aos mestres clássicos     
pelo negrume descrito nas cosmogonias.
   
Fiama Hasse Pais Brandão

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