Moleskine
Moleskine, o cativeiro de palavras
Sobre quando um Moleskine provoca os instintos mais perversos naqueles que cultivam uma obsessão pela palavra.
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Costumo sequestrar palavras que não consigo conquistar em prosa. Sim, sou réu confesso. Com receio de deixá-las no vácuo entre o escrito e o cogitado, faço de meu Moleskine o cativeiro do meu não-verso, do meu não-texto. E as escrevo.
Insinuação. Guilhotina. Longevo. Instigante. Gozo.
Olho, leio, saboreio cada sílaba com tara perversa e creio que, por vezes, as palavras tremem no papel. Desfilam nas linhas dos livros, revistas e jornais em posições provocativas que me forçam a repeti-las bem baixinho. Sussurro na nuca de seu ditongo. Reproduzo um som no espaço de um hiato na esperança de que a palavra me responda do alto de sua apatia, mas nada ouço. Pronuncio não apenas a palavra, mas seu nome, nua de qualquer contexto, desamparada de sentido. E as guardo.
Cintilar. Indolência. Murmúrio. Empáfia. Lassidão.
Não há preferência, classificação de significados ou reputação etimológica. Sinto apenas atração genuína pela reação provocada na pronúncia. A língua que bate no céu da boca, uma palavra que sibila de maneira envolvente, a proparoxítona que exige um esforço sensual. E as escondo.
E assim mantenho as palavras resguardadas em meu Moleskine, forçosamente recatadas pelo meu egoísmo, sufocadas em folhas brancas, ignoradas por olhos que não sejam os meus. Vez que outra, ouço-as murmurarem. E volto para meu harém manuscrito.
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