sábado, 11 de agosto de 2012

O poeta

O poeta

A vida do poeta tem um ritmo diferente

É um contínuo de dor angustiante.

O poeta é o destinado do sofrimento

Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza

E a sua alma é uma parcela do infinito distante

O infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.

Ele é o etemo errante dos caminhos

Que vai, pisando a terra e olhando o céu

Preso pelos extremos intangíveis

Clareando como um raio de sol a paisagem da vida.

O poeta tem o coração claro das aves

E a sensibilidade das crianças.

O poeta chora.

Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristes

Olhando o espaço imenso da sua alma.

O poeta sorri.

Sorri à vida e à beleza e à amizade

Sorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.

O poeta é bom.

Ele ama as mulheres castas e as mulheres impuras

Sua alma as compreende na luz e na lama

Ele é cheio de amor para as coisas da vida

E é cheio de respeito para as coisas da morte.

O poeta não teme a morte.

Seu espírito penetra a sua visão silenciosa

E a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.

A sua poesia é a razão da sua existência

Ela o faz puro e grande e nobre

E o consola da dor e o consola da angústia.

A vida do poeta tem um ritmo diferente

Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu

Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis.

Vinicius de Moraes

 

 

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