TEMATICA VARIADA, COM MAIOR INCIDÊNCIA NA MUSICA GENERALISTA, E NA FOTOGRAFIA, OBVIAMENTE COMO PILAR DE ESTAS DUAS FORMAS DE ARTE, ESTARÁ A POESIA
sábado, 5 de junho de 2010
Nelson Rodrigues
Para o grande público, Nelson Rodrigues não passava de um tarado. Nem era necessário ler alguma das suas obras ou abrir o jornal para ler uma de suas crônicas porque, só de ouvir duas ou três frases, as boas família já calçavam suas meias para fugir dos arrepios: aquele ali era um pervertido! Além do que, nos anos 50, ouvia-se muito falar nos botequins cariocas que o homem escrevia histórias onde os pais se apaixonavam pelas filhas, onde as mulheres traíam os maridos com a naturalidade de quem compra sapatos ou onde as mocinhas gostavam mesmo era de beijar outras mocinhas – e isso quando não estão ocupadas abrindo as pernas para os cunhados. Nelson Rodrigues era um tarado demoníaco. Resposta do autor? A opinião pública é uma débil mental.
Mas o certo é que Nelson Rodrigues acompanhou com reflexões profundas, mesmo que feitas de improviso, sobre o país que via a sua frente, e ele não só assistiu, mas viveu algumas das décadas mais conturbadas da história do Brasil. Aos treze anos de idade já contribuía com o pai nas páginas policias do jornal Crítica, o mesmo que mergulhou no abismo após o assassinato do irmão de Nelson, Roberto Rodrigues, em 1929, da morte do patriarca Mário Rodrigues pouco tempo depois e do linchamento de sua gráfica e redação. Ser testemunha e ator de eventos cruciais do século XX brasileiro, fez a história do autor e sua família com a do próprio país e, fosse sobre a política, sobre a sociedade ou sobre o futebol, a ditadura de Getúlio Vargas fez sobrevir sobre a família Rodrigues e sobre Nelson anos de fome que contribuiriam para que ele desenvolvesse uma tuberculose, uma terrível acompanhante para o resto da vida.
A medida que o autor reconstruía seu espaço na imprensa, erguia seu mito no teatro e amadurecia como autor, passaram-se as diferentes fases do governo Vargas, um governo militar, a expansão da TV, a Segunda Guerra, a volta de Vargas, as revoluções culturais de 60 e 70, o feminismo e outro governo militar.
No conjunto das suas atividades, somado às duras experiências da vida e a sempre proximidade com a política, recebeu aplausos, censura do Estado e a incompreensão da mesma massa que retratava obcecadamente em suas obras. Daí suas opiniões variarem entre o cáustico e o irônico, passando pelo cinismo velado. Sempre conservadoras, um paradoxo que confunde. Os assuntos são variados: casamento, sociedade, ginecologistas, política, futebol, cariocas, seus escritos, etc., etc. E como saber quando ele diz a sério? Nesse caso, a dúvida contribui para alcançar o calibre dos aforismos provocantes do Anjo Pornográfico.
*A maior parte das frases de Nélson podem ser encontradas no livro “Flor de obsessão”, organizado pelo escritor e jornalista Ruy Castro (fã confesso e professo do autor).
“Invejo a burrice, porque é eterna”
“Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos...”
“As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado”
“O brasileiro é um feriado”
"A fidelidade devia ser facultativa"
"Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém"
“Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível”
“Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar com batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um São Francisco de Assis, com luva de borracha e um passarinho em cada ombro”
“Só o inimigo não trai nunca”
“Pode não ser científico, mas é batata! Eu disse que o amor morre no banheiro e provo. Quando um cônjuge bate na porta do banheiro e o outro responde lá de dentro: "Tem gente!", não há amor que resista! Portanto, nada de camas, nem de quartos separados. Separação sim, de banheiros. Cada um deve ter seu trono exclusivo”
"O homem só é feliz pelo supérfluo. No comunismo, só se tem o essencial. Que coisa abominável e ridícula!"
"Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava"
“Toda mulher gosta de apanhar, apenas as neuróticas reagem"
"A platéia só é respeitosa quando não está entendendo nada"
“O carioca é o único sujeito capaz de berrar confidências secretíssimas de uma calçada para outra calçada.“
"Toda unanimidade é burra"
“Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de prata”
"Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma ressentida contra si mesma"
- Nelson, Quais seriam as suas últimas palavras?
- Que boa besta era o Marx! (em entrevista a Otto Lara Resende)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário