Terrence Malick e o cinema existencial
Terrence Malick é um desses realizadores cujas obras traduzem uma visão profunda e poética, por vezes metafísica. Em 40 anos de carreira, fez apenas cinco longas-metragens. Mas não lhe falta o apoio dos estúdios.
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Filme "Badlands".
Com um currículo de cinco longas e um curta-metragem, em uma carreira de mais de quarenta anos, Terrence Malick tem contado suas histórias de forma peculiar e inovadora, muito por influência de seu interesse pela filosofia e exploração da dramaticidade da narrativa. Seu primeiro longa-metragem, Terra de ninguém (Badlands, 1973), destacou-se pelo trabalho de edição e pela integração com o elenco, refletindo na tela a naturalidade da atuação. Todos os grandes diretores são lembrados por conseguir arrancar este nível de profundidade de seu elenco.
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Filme "Badlands".
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Cartaz do filme "Badlands".
Alguns pontos particulares da direção de Malick já se encontravam presentes nesta primeira vez, mesmo que em menor escala que nos filmes posteriores - marcas da evolução de um cineasta estudioso e minucioso em sua visão poética. Seu segundo longa foi Cinzas no paraíso (Days of heaven, 1978), um dos primeiros trabalhos de Richard Gere. É uma história passada num cenário bucólico das plantações do Texas no início do século XX. Mais uma vez, Malick foi elogiado por conseguir utilizar o ambiente como mais um personagem, que reflete as ações e os sentimentos dos personagens humanos.
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Cartaz do filme "Days of Heaven".
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Filme "Days of Heaven".
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Filme "Days of Heaven".
Depois de Cinzas no paraíso, Malick afastou-se e decidiu viver em Paris, escrevendo outros projetos para o cinema. Seu filme seguinte surgiu apenas 20 anos depois, baseado no livro de James Earl Jones, Além da linha vermelha (br) / A barreira invisível (pt) (The thin red line, 1998). Nunca a Segunda Guerra Mundial tinha sido filmada desta forma. Um enorme elenco de atores debutantes (e alguns consagrados) participou das filmagens, na Austrália e Ilhas Salomão.
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Cartaz do filme "The Thin Red Line".
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Filme "The Thin Red Line".
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Filme "The Thin Red Line".
A intuição de Malick para a captação do melhor momento de cada cena ficava evidente na ilha de edição, onde centenas de metros de filme eram revistos para o corte. Isso fez com que muitas cenas fossem repetidas muitas vezes - não para conseguir a exatidão da expressão do ator, mas para captar tudo o que pode fazer parte desta expressividade, e isso, muitas vezes, condiz com a natureza, intensamente representada em seus filmes. Na direção de O novo mundo (2006), que conta uma nova versão do romance de John Smith e Pocahontas durante a colonização inglesa da América do Norte, é bastante clara esta dedicação ao ambiente natural. Para o longa-metragem foram filmados mais de 300 quilômetros de rolo de filme.
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Cartaz do filme "The New World".
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Filme "The New World".
Malick, antes de se tornar diretor de cinema, transitou pelo meio acadêmico da filosofia, especializando-se em Martin Heidegger (1889-1976). O cineasta trouxe a bagagem filosófica do existencialismo de Heidegger para os seus filmes. Seus poucos trabalhos mostram o homem face à imensidão da natureza, uma contemplação que retoma mais uma vez a literatura heideggeriana.
A edição dos filmes de Malick pode destoar muito do que fora imaginado no material primário. Na pós-produção de Além da linha vermelha, o diretor experimentou as narrações que havia gravado com alguns atores e atrizes do elenco, da mesma maneira que havia feito em Terra de ninguém com a personagem de Sissy Spacek. Estas narrações são os momentos mais significantes na forma transcendental como Malick explora as multimodalidades do cinema. As chamadas narrativas experimentalistas surgem em tomadas que contemplam o homem em contato com a natureza (tanto a do ambiente quanto a sua própria). As falas, que soam ora como poesia, ora como questões filosóficas, transformam o filme numa fonte de reflexão. Em Terra de ninguém, a substituição de alguns diálogos pelas narrativas experimentalistas foi uma tentativa de Malick contar a história sob um novo foco, uma projeção do pensamento humano sobre as próprias ações. Seu diálogo com o espectador se dá tanto na ação das personagens quanto dentro de seus pensamentos, às vezes extremamente intimistas e metafísicos.
O estilo inconfundível de Malick é também reflexo de sua vida reservada e distante dos holofotes, do trabalho minucioso antes e após o filme (Malick se dedica muito ao roteiro e à edição, as filmagens costumam ser assumidas por outras equipes por ele escolhidas). Esses e outros fatores convergem em projetos com um poder filosófico pouco visto em outras mãos: falam do que todos possuem dentro de si mas que, muitas vezes, não conseguem traduzir sozinhos.
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Cartaz do filme "The Tree Of Life" ("A Árvore da Vida" (br)).
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Filme "The Tree Of Life" ("A Árvore da Vida" (br)).
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Filme "The Tree Of Life"("A Árvore da Vida"
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