O Festival Folclórico de Parintins, na Amazônia
A história é simples como todas lendas folclóricas: mãe Catirina está grávida e deseja comer língua de boi. Para atender seu desejo e com medo de que sua esposa perca o filho, pai Francisco mata o boi preferido do dono da fazenda, que ao descobrir manda prendê-lo e pede a um pajé para ressuscitar o boi. O boi renasce e começa a grande festa de comemoração. Para encenar essa história no final do mês de Junho, em arena aberta, para um público de 35 mil “brincantes” como são chamados os espectadores, Parintins, antiga Ilha Tupinambarana, localizada no coração da Amazônia, realiza uma das maiores festas populares do Brasil, o Festival Folclórico de Parintins, mais conhecido como a Festa dos Bois-Bumbá.
Chegar a Parintins que tem apenas sete mil quilômetros quadrados e cem mil habitantes, só é possível de avião depois de uma hora e meia de viagem, saindo de Manaus, ou de barco, após uma viagem que pode durar entre 8 e 24 horas, nada que desestimule os oitenta mil turistas, metade dos quais estrangeiros, que para lá se dirigem todos os anos para vibrar com o espetáculo. Os protagonistas da folia são os grupos do boi Caprichoso (azul e preto) e Garantido (vermelho e branco), que se alternam no palco durante os últimos três dias de Junho, contando de forma e enfoque diferentes a lenda, visando conquistar o titulo de campeão.
Difícil acreditar o que acontece em Parintins nesta época do ano quando a população da cidade entra em estado de êxtase. Para se ter uma idéia, as casas dos mais fanáticos são pintadas de azul ou vermelho para indicar o favoritismo de quem mora ali e casais de torcidas opostas, exibindo na roupa a cor do seu “boi”, se separam, pelo menos nos três dias do festival. Pessoas faltam ao trabalho para aproveitar a festa e para evitar favoritismo, a cor da tinta da caneta usada pelos jurados é verde. A Coca-Cola principal patrocinadora do evento cujo rotulo é vermelho, cor do “garantido”, entrou no ritmo da Ilha e fabricou uma embalagem especial em azul para também agradar os “caprichosos”.
As torcidas colocadas em lados opostos da grande arena, claro que exibindo as cores do seu boi, são obrigadas a permanecer em silêncio quando o concorrente se apresenta, sob pena de perder pontos e quem torce por um, não pronuncia o nome do outro chamando-o apenas de “contrário”. Assim, mesmo com tamanho envolvimento emocional, durante a apresentação são proibidas vaias, palmas, gritos ou qualquer outra demonstração de expressão, quando o “contrário” se apresenta.
Durante as três noites cada boi conta de forma e enfoque diferente a lenda, desenvolvendo um tema exaltando o meio ambiente e as raízes culturais, em encenações coreográficas através de personagens e rituais que remetem aos habitantes da floresta amazônica e às questões ecológicas e sociais que os afligem. Um tapete de cor em movimento é formado pelas tribos de dançarinos que formam, junto com as gigantescas alegorias que se mexem e se articulam, um cenário apoteótico, cujo ponto culminante é a aparição do boi ressuscitado, quando a platéia vai ao delírio e até às lágrimas.
O Caprichoso este ano veio com o tema “Amazonas, onde o verde encontra o azul” e o Garantido tentando arrebatar o título há dois anos nas mãos do “contrário”, se apresentou com “Emoções”. Independente do título ter sempre que ficar com um dos bois, todo mundo concorda que o empate seria sempre o resultado mais justo para esta magnífico espetáculo, exemplo de rivalidade com união, pela cultura da floresta. Como diz o integrante de um dos bois, o “Festival Folclórico de Parintins é a representação dos costumes e tradições de um povo que tem orgulho de suas raízes, numa festa passional de amor e ódio refletida em luzes, cores, criatividade e alegria”.
Oi Jorge!
ResponderEliminarAchei belíssima essa postagem.
Muito interessante....ótimo texto e belas fotos.
Parabéns!
Bjs
Oração
ResponderEliminarEste silêncio... este estranho silêncio que canta na palavra que brota verde da terra...
- J. G. de Araujo Jorge -
Vim deixar meu carinho!
Helena