TEMATICA VARIADA, COM MAIOR INCIDÊNCIA NA MUSICA GENERALISTA, E NA FOTOGRAFIA, OBVIAMENTE COMO PILAR DE ESTAS DUAS FORMAS DE ARTE, ESTARÁ A POESIA
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Mergulha nos Sonhos
mergulha nos sonhos
ou um lema pode ser teu aluimento
(as árvores são as suas raízes
e o vento é o vento)
confia no teu coração
se os mares se incendeiam
(e vive pelo amor
embora as estrelas para trás andem)
honra o passado
mas acolhe o futuro
(e esgota no bailado
deste casamento a tua morte)
não te importes com o mundo
com quem faz a paz e a guerra
(pois deus gosta de raparigas
e do amanhã e da terra)
E. E. Cummings, in "livrodepoemas"
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou se disfaço,
- não sei, não sei. Não se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
mais nada.
Cecília Meireles
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou se disfaço,
- não sei, não sei. Não se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
mais nada.
Cecília Meireles
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
E diz-me a desconhecida:
“Mais depressa! Mais depressa!
Que eu vou te levar a vida!…
Finaliza! Recomeça!
Transpõe glórias e pecados!…”
Eu não sei que voz seja essa
Nos meus ouvidos magoados:
Mas guardo a angústia e a certeza
De ter os dias contados…
Rolo, assim, na correnteza
Da sorte que se acelera,
Entre margens de tristeza,
Sem palácios de quimera,
Sem paisagens de ventura,
Sem nada de primavera…
Lá vou, pela noite escura,
Pela noite de segredo,
Como um rio de loucura…
Tudo em volta sente medo…
E eu passo desiludida,
Porque sei que morro cedo…
Lá me vou, sem despedida…
Às vezes, quem vai, regressa…
E diz-me a Desconhecida:
“Mais depressa! Mais depressa!…”
(Cecília Meireles)
“Mais depressa! Mais depressa!
Que eu vou te levar a vida!…
Finaliza! Recomeça!
Transpõe glórias e pecados!…”
Eu não sei que voz seja essa
Nos meus ouvidos magoados:
Mas guardo a angústia e a certeza
De ter os dias contados…
Rolo, assim, na correnteza
Da sorte que se acelera,
Entre margens de tristeza,
Sem palácios de quimera,
Sem paisagens de ventura,
Sem nada de primavera…
Lá vou, pela noite escura,
Pela noite de segredo,
Como um rio de loucura…
Tudo em volta sente medo…
E eu passo desiludida,
Porque sei que morro cedo…
Lá me vou, sem despedida…
Às vezes, quem vai, regressa…
E diz-me a Desconhecida:
“Mais depressa! Mais depressa!…”
(Cecília Meireles)
Quanto de ti, Amor...
Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço
em que de penetrar-te me senti perdido
no ter-te para sempre -
Quanto de ter-te me possui em tudo
o que eu deseje ou veja não pensando em ti
no abraço a que me entrego -
Quanto de entrega é como um rosto aberto,
sem olhos e sem boca, só expressão dorida
de quem é como a morte -
Quanto de morte recebi de ti,
na pura perda de possuir-te em vão
de amor que nos traiu -
Quanta traição existe em possuir-se a gente
sem conhecer que o corpo não conhece
mais que o sentir-se noutro -
Quanto sentir-te e me sentires não foi
senão o encontro eterno que nenhuma imagem
jamais separará -
Quanto de separados viveremos noutros
esse momento que nos mata para
quem não nos seja e só -
Quanto de solidão é este estar-se em tudo
como na auséncia indestrutível que
nos faz ser um no outro -
Quanto de ser-se ou se não ser o outro
é para sempre a única certeza
que nos confina em vida -
Quanto de vida consumimos pura
no horror e na miséria de, possuindo, sermos
a terra que outros pisam -
Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,
recebo gratamente como se recebe
não a morte ou a vida, mas a descoberta
de nada haver onde um de nós não esteja.
Jorge de Sena
Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço
em que de penetrar-te me senti perdido
no ter-te para sempre -
Quanto de ter-te me possui em tudo
o que eu deseje ou veja não pensando em ti
no abraço a que me entrego -
Quanto de entrega é como um rosto aberto,
sem olhos e sem boca, só expressão dorida
de quem é como a morte -
Quanto de morte recebi de ti,
na pura perda de possuir-te em vão
de amor que nos traiu -
Quanta traição existe em possuir-se a gente
sem conhecer que o corpo não conhece
mais que o sentir-se noutro -
Quanto sentir-te e me sentires não foi
senão o encontro eterno que nenhuma imagem
jamais separará -
Quanto de separados viveremos noutros
esse momento que nos mata para
quem não nos seja e só -
Quanto de solidão é este estar-se em tudo
como na auséncia indestrutível que
nos faz ser um no outro -
Quanto de ser-se ou se não ser o outro
é para sempre a única certeza
que nos confina em vida -
Quanto de vida consumimos pura
no horror e na miséria de, possuindo, sermos
a terra que outros pisam -
Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,
recebo gratamente como se recebe
não a morte ou a vida, mas a descoberta
de nada haver onde um de nós não esteja.
Jorge de Sena
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
BARQUINHO DA ESPERANÇA
.
Poema de Rosa Lobato Faria
Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.
Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.
Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.
Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.
Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
.
Poema de Rosa Lobato Faria
Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.
Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.
Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.
Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.
Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
O Grande Momento
A varanda era batida pelos ventos do mar
As árvores tinham flores que desciam para a
morte, com a lentidão das lágrimas.
Veleiros seguiam para crepúsculos com as
asas cansadas e brancas se despedindo.
O tempo fugia com uma doçura jamais de
novo experimentada
Mas o grande momento era quando os meus
olhos conseguiam
entrar pela noite fresca dos seus olhos...
Augusto Frederico Shmidt
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
A Secreta Viagem
No barco sem ninguém, anónimo e vazio,
ficámos nós os dois, parados, de mão dada...
Como podem só dois governar um navio?
Melhor é desistir e não fazermos nada!
Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
tornamo-nos reais, e de madeira, à proa...
Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos...
Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa...
Aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem...
Aonde iremos ter? — Com frutos e pecado,
se justifica, enflora, a secreta viagem!
Agora sei que és tu quem me fora indicada.
O resto passa, passa... alheio aos meus sentidos.
— Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,
a eternidade é nossa, em madeira esculpidos!
David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"
domingo, 31 de janeiro de 2010
Distante como as estrelas,
Parecias inatingível.
De tanto olhá-las e querê-las,
Desceram para o mar tangível...
Pensei ser alucinação,
Quimera ou louca fantasia,
Quando percebi tua mão
Na minha em perfeita harmonia.
Desejar-te era meu segredo
Ativado pelo delírio
De que de nossa história o enredo
Não fosse apenas martírio.
Contúdo, nas linhas do eterno
Não está lavrado o impossível.
Converteu-se o meu sonho terno
Em realidade factível.
-Mardilê Friedrich Fabre-
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