sexta-feira, 9 de julho de 2010


Se eu fosse uma poetisa,
Um dia por certo escreveria,
Um verso de cada cor:
Seria negra a saudade,
Azul a felicidade,
e vermelha a minha dor.
E se ainda não bastasse,
E restasse alguma cor
Precisando de esplendor,
Seria verde a esperança
Desta alguém que não se cansa
De esperar por teu amor...

Autor desc.


Bailarina negra

A noite
(Uma trompete, uma trompete)
fica no jazz
A noite
Sempre a noite
Sempre a indissolúvel noite
Sempre a trompete
Sempre a trépida trompete
Sempre o jazz
Sempre o xinguilante jazz
Um perfume de vida
esvoaça
adjaz
Serpente cabriolante
na ave-gesto da tua negra mão
Amor,
Vênus de quantas áfricas há,
vibrante e tonto, o ritmo no longe
preênsil endoudece
Amor
ritmo negro
no teu corpo negro
e os teus olhos
negros também
nos meus
são tantãs de fogo
amor.

António Jacinto

A OUTRA FACE

domingo, 4 de julho de 2010

(Jim Morrison (1943-1971)

DIAS ESTRANHOS

Os dias estranhos descobriram-nos,
os dias estranhos acharam-nos o rasto,
vão destruir as nossas raras alegrias,
temos de continuar a tocar ou de procurar uma nova cidade.
Estranhos olhos enchem estranhas salas,
as vozes anunciarão o seu fim extenuado,
a hospedeira sorri, os hóspedes em pecado adormecem,
ouves-me falar em pecado e sabes que as coisas são assim.
Os dias estranhos descobriram-nos
e vamo-nos consumindo ao longo das suas estranhas horas
sós, confundidos os corpos, mal empregue a memória,
vamos trocando o dia por uma estranha noite de pedra.
(Jim Morrison (1943-1971)

(Tom Waits (n.1949)

 

 

NUMA NOITE DE NEVOEIRO

Numa noite de nevoeiro, uma estrada abandonada
Na imagem de um espelho crepuscular
Sem sinais de uma estação de serviço
Ou de uma garagem nocturna.
Informaram-me mal, deram-me a direcção errada
O cruzamento nunca surgiu
E fiquei perdido sob uma lua ensanguentada
Numa noite de nevoeiro
Uma estrada abandonada numa difusa colagem de brocado,
Será um motel?
Não sei bem, será o que chamaríamos um albergue vazio?
Porque não há remédio, que raio de situação
Ficar perdido à deriva pelo meio de uma poalha azul
Sem o brilho de uma noite
Sem a chave de um feitiço
Num precário pandemónio
Numa noite de nevoeiro.
(Tom Waits (n.1949)

Aldous Huxley

 

Aldous Huxley

Nascimento
26 de Julho de 1894
Godalming

Morte
22 de Novembro de 1963 (69 anos)
Los Angeles

Nacionalidade
Reino Unido Britânico

Ocupação
Escritor

Gênero literário
Ficção científica

Magnum opus
Admirável Mundo Novo

Influências
Swami Prabhavananda, J. Krishnamurti, F. Matthias Alexander

Aldous Leonard Huxley (Godalming, 26 de Julho de 1894Los Angeles, 22 de Novembro de 1963) foi um escritor inglês e um dos mais proeminentes membros da família Huxley.

[editar] Biografia

Sua família incluía os mais distintos membros da classe dominante inglesa; uma vasta elite intelectual. Seu avô era Thomas Henry Huxley, um grande biólogo defensor da teoria evolucionista de Charles Darwin, tendo desenvolvido o conceito agnóstico. Sua mãe era irmã da romancista Humphrey Ward; a sobrinha de Matthew Arnold, o poeta; e a neta de Thomas Arnold, um famoso educador e diretor da Rugby School que acabou se tornando um personagem no romance "Tom Brown's Schooldays".

Estudou na aristocrática escola de Eton, que foi obrigado a abandonar aos dezesseis anos, devido a uma doença nos olhos que quase o cegou impedindo-o de cursar medicina. Mais tarde, ele recuperou visão suficiente para se formar com honra pela Universidade de Oxford, mas não suficiente para servir o exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial. Em Oxford, engajou-se com a literatura pela primeira vez, conhecendo Lytton Strachey e Bertrand Russell, também se tornou um amigo íntimo de D. H. Lawrence.

Em 1921, lançou "Crome Yellow", o primeiro de uma série de romances e novelas que combinam diálogos emocionantes, e um aparente ceticismo, com profundas considerações morais.

Viveu a maior parte dos anos 20 na Itália fascista de Mussolini que inspirou parte dos sistemas autoritários retratados em suas obras.

A obra-prima de Huxley, "Brave New World" (Admirável Mundo Novo), foi escrita durante quatro meses no ano de 1931. Os temas nela abordados remontam grande parte de suas preocupações ideológicas como a liberdade individual em detrimento ao autoritarismo do Estado.

No ano de 1937 Aldous Huxley mudou-se para Los Angeles, e em 1938, no auge da sua carreira, chegou a Hollywood, como um de seus mais bem remunerados roteiristas. Nessa fase, escreveu romances como "Também o cisne morre" (1939), "O Tempo pode parar" (1944), "O macaco e a essência" (1948).

O cinema para Huxley foi uma aventura tão fascinante quanto suas descobertas e experiências com a mescalina, narradas em "As portas da percepção" (The Doors of Perception), de 1954, livro que influenciou em muito a cultura hippie que florescia, dando nome por exemplo à banda The Doors, pois tais relatos com a droga indígena se assemelham em muito com o LSD que estava em ascensão. Dois anos depois, viúvo, casou-se novamente e publicou "Entre o céu e o inferno".

Huxley viajou ainda pela América Central e em 1958 visitou o Brasil, tendo conhecido os índios do Xingu e as favelas do Rio de Janeiro.

Em 1959, foi agraciado pela Academia Americana de Artes e Letras com um prêmio por seus romances. Tal premiação era concedida a cada cinco anos e havia sido entregue anteriormente a Ernest Hemingway, Thomas Mann e Theodore Dreiser.

Huxley permaneceu quase cego por toda a sua vida. Sua esposa, Maria Huxley, faleceu em 1955. Um ano mais tarde, Huxley casou-se com Laura Archera. Ele morreu em 22 de Novembro de 1963 na sua pequena casa de Los Angeles.

Huxley produziu um total de 47 livros ao longo de sua vida. O crítico britânico Anthony Burgess uma vez afirmou que Huxley fora o pioneiro do "romance cerebral". No entanto, outras correntes de críticos classificaram Huxley como um ensaísta, ao invés de romancista, pois suas obras eram conduzidas mais apoiadas sobre suas ideias do que o desenrolar de personagens ou contextos de histórias.

[editar] Bibliografia

Esta é a cronologia de alguns de seus trabalhos mais conhecidos:

  • 1920 - Limbo, contos de estréia
  • 1921 - Crome Yellow, romance
  • 1923 - Antic Hay (Ronda Grotesca), romance
  • 1926 - Two or Three Graces (Duas ou Três Graças), contos
  • 1928 - Point Counter Point (Contraponto), romance
  • 1932 - Brave New World (Admirável Mundo Novo), romance
  • 1936 – Eyeless in Gaza (Sem Olhos em Gaza), romance
  • 1937 - Ends and Means (Despertar do Mundo Novo), ensaios
  • 1939 – After Many Summers (Também o Cisne Morre), romance
  • 1941 – Grey Eminence (Eminência Parda), bibliografia romanceada
  • 1943 – The Art of Seeing, ensaios
  • 1945 - Time Must Have a Stop (O Tempo Deve Parar), romance
  • 1946 – The Perennia Philosophy, ensaios
  • 1949 – Ape and Essence (O Macaco e a Essência), romance
  • 1952 – The Devils of Loudun (Os Demônios de Loudun)
  • 1954 – The Doors of Perception (As Portas da Percepção), ensaios
  • 1956 - Heaven and Hell (Céu e Inferno), ensaios
  • 1959 – Brave New World Revisited (Regresso ao Admirável Mundo Novo), ensaios
  • 1962 – Island, romance
  • 1978 – The Human Situation (A Situação Humana), ensaios

Festa


Era uma festa de mulheres (não sei aliás se há festas mistas). Vestiram-me a preceito, com uma túnica e uma capa de cerimónia azul marinho com pequenos desenhos dourados, um cinto de lantejoulas e um lenço na cabeça (que, por mais apertado que fosse, caía de cinco em cinco minutos, até que desistiram e fui autorizada a tirá-lo). Olhavam para mim e diziam: 'Aaahhh...!', com um ar de orgulho e admiração pelo resultado final.

Fomos as primeiras a chegar e sentámo-nos em cima dos tapetes e cobertores dobrados e alinhados ao longo das paredes. E então começaram a chegar as mulheres. Eu tinha muita curiosidade em saber como seria aquele contacto mais restrito e íntimo com elas. Será que se riam? Falavam? E falavam de quê? Cada uma que chegava percorria a fileira das que estavam já sentadas, cumprimentando-nos uma a uma. Quando o número de mulheres ultrapassou os 30, achei que era o fim das saudações individuais, mas não. Fosse aperto de mão, beija-mão, beijo na cara ou qualquer uma das muitas modalidades da saudação berbere, era cumprido escrupulosamente.

Havia mulheres de todas as idades; eu estava ao pé das raparigas solteiras, que tocavam bendir e cantavam com voz de rancho, mas havia mães com crianças pequenas, mulheres de meia idade e outras já velhas, todas em traje festivo: era um mostruário maravilhoso de veludos, tules bordados, cetins brilhantes e uma ou outra camisa de dormir mais sofisticada. E no fim dos vestidos, visíveis sobretudo nas que estavam sentadas de pernas esticadas, as meias. As meias são um fenómeno quase tão curioso como o das camisas de dormir. Quase todas as mulheres usam soquetes curtos às florzinhas, aos elefantinhos, às borboletas, aos corações, aos cãezinhos, aos gatinhos, às nuvenzinhas. Olhei em volta e senti-me sozinha nas minhas meias azuis-escuras, sem graça - ainda por cima, lembrei-me de que tenho em casa umas meias vermelhas com umas florzinhas de lado. Imagino que todas aquelas meias venham da China, como as camisas de dormir. Vendem-se no mercado. Há umas, com uns padrões florais mais realistas, que são quase meias de vidro.
De cada vez que um bebé chorava, a mãe respectiva enfiava a mão pelo decote (decote redondo, pouco cavado), puxava a mama para fora (não tentem fazer isto em casa) e mantinha-o calado durante uns minutos. Um miúdo de cerca de um ano começou a andar pelo centro da sala. Deus me perdoe, como diria a minha avó, mas tinha ar de actor de filmes pornográficos. Eu sei que não pode ser, mas tinha. Era o olhar, e eu sentia-me desconfortável a olhar para ele, que me espreitava, desconfiado, pelo canto do olho. A rapariga ao meu lado chamou-o, abraçou-o e deu-lhe um beijo. Convém saber que aqui se beijam as crianças na boca, o que seguramente as torna imunes a muita coisa. Para meu horror, a rapariga virou-se para mim, virou-se para ele e disse-lhe que me desse um beijo. Que fique registado que eu gosto de crianças. Mas a perspectiva de beijar o campeão nacional de infantis pornográficos repugnava-me. O miúdo aproximou a cara da minha, sempre com aquele ar de quem no fundo está a pensar noutras coisas e me vai fazer algum convite esquisito, e eu consegui fazer um desvio estratégico e dar-lhe um beijo na bochecha. Se alguém achou estranho, tenho sempre a desculpa de ser estrangeira. Por estas e por outras é que não quero confundir-me demasiado com os nativos (embora em ambiente citadino já tenha sido tomada várias vezes por marroquina).

Depois veio a comida. Os anfitriões entraram com as mesas baixas, redondas, distribuíram-mas pela sala, trouxeram as tajines e o pão. As mulheres atracaram cada uma à sua mesa. Vistas assim, pareciam estar numa piscina, agarradas em círculo à volta das bóias, com os ombros e as cabeças a espreitar fora de água. De vez em quando via-as olhar para mim, como quem quer saber se como à mão como elas. Confirmado. Faz parte da hospitalidade insistir - muito - para que os hóspedes comam - muito. Quer isto dizer que mesmo que eu esteja em pleno acto de mastigação, há sempre alguém que me faz sinal e me dá ordem para comer mais pão, ou mais carne, ou mais cuscus. Ao princípio ficava baralhada - pois se eu estava a comer...?; agora, limito-me a sorrir e a fazer que sim. Não fui a tempo de ser a primeira a beber do copo de água (partilhado por todas as banhistas de cada bóia), que é uma táctica que tenho adoptado. Claro que, comendo todos do mesmo prato, trata-se de um preciosismo, mas gosto de beber antes de o copo ter bocadinhos de cuscus no bordo. Pois, porque depois da tajine vem o cuscus, que está para eles como o cozido à portuguesa está para nós. E eu por acaso já tinha almoçado em casa, duas horas antes. As que comem cuscus à mão (técnica que nunca experimentei, mas é fascinante: fazem pequenas bolas, do tamanho de bolas de golfe, na palma da mão direita, e depois empurram-nas para dentro da boca com um toque do polegar) acabam a refeição a lamber, não apenas as pontas dos dedos, mas toda a palma da mão, assim como quem lambe a colher de pau que se usou para fazer os bolos.

Lavámos as mãos e recomeçou a música. Tive medo, porque tinha a certeza de que em algum momento iam chamar-me para dançar. E sempre assim. A técnica é não resistir demasiado, para não dar ainda mais nas vistas. Tenho sobretudo receio de que queiram pôr-me a abanar as ancas freneticamente - coisa que elas fazem muito bem, com lenços atados à volta do rabo que acentuam o movimento e que, se tiverem lantejoulas, fazem um barulho simpático ao ritmo da música. Apostei que o perigo viria da Fatima, a mais espevitada, e acertei. Mas não me obrigaram a fazer a dança da anquinha. Limitaram-se ao haidouz, a dança do folclore tradicional do Alto Atlas, que até um estrangeiro pode fazer sem medo de ser filmado.

E afinal, as mulheres brincavam umas com as outras? Brincavam, sim, com palmadas no rabo e risinhos e tudo. E falavam muito. Só não sei se da ceifa do trigo, se da erva que tinham de ir cortar para as vacas quando saíssem dali, se do tempo, se do balde que o marido tinha comprado no souk (as mulheres não vão ao mercado), se do quarto ou quinto filho que iam ter, de casamentos e baptizados. E gajos? Também não sei, mas apanhei umas raparigas muito concentradas a comentar a fotografia do irmão mais novo da dona da casa.

Amazonia

 

"Tainá – A Origem"

Vídeo com trechos da preparação do elenco do filme "Tainá – A Origem", com Wiranu Tembé, Beatriz Noskoski e Igor Ozzy. No filme, piratas da biodiversidade invadem a área da floresta amazônica onde vive Maya, jovem índia que é vitimada no ataque, deixando órfã a bebê Tainá (Wiranu Tembé). Abrigada entre as raízes da Grande Árvore, a criança é salva e criada pelo velho e solitário pajé Tigê. Cinco anos depois, ele leva Tainá à aldeia do seu povo, onde está para ser escolhido o novo líder defensor da natureza. Por ser menina, Tainá é impedida de se apresentar ao combate, mas pela herança de Maya, a última das Amazonas guerreiras, e com o apoio de Laurinha (Beatriz Noskoski), esperta menina da cidade, e do índio nerd Gobi (Igor Ozzy), a indiazinha parte para derrotar os malfeitores, desvendando o mistério de sua própria origem. Direção de Rosane Svartman. Produção de Pedro Rovai. Estreia prevista para janeiro de 2011. © Downtown