terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Cesária Évora.

Cesária, uma deusa que iluminou o mundo a partir de Mindelo

"São Vicente, Cabo Verde e o mundo estão de luto. A diva deixou-nos", disse o Presidente do país nas cerimónias fúnebres de Cesária Évora. “

 

 

Cabo Verde parou hoje para chorar a morte de Cesária Évora

Cabo Verde parou hoje para chorar a morte de Cesária Évora

Inforpress/Lusa

O Presidente cabo-verdiano defendeu hoje, no Mindelo, que uma "dor muito doída" se apossou de todos os cabo-verdianos, no país e na diáspora, com a morte de Cesária Évora.

No Palácio do Povo, durante as cerimónias fúnebres da cantora cabo-verdiana, falecida no sábado, Jorge Carlos Fonseca disse que o país parou hoje para chorar e "para se irmanar e se fortalecer" na dor pela perda da artista.

"São Vicente, Cabo Verde e o mundo estão de luto. A diva deixou-nos", referiu o chefe de Estado, acrescentando que "Cesária Évora foi um dos raros seres que conseguiu erguer, a nível emocional, uma síntese quase perfeita entre o quase nada e a totalidade universal".

Vida rica e vivida

Cesária Évora "foi uma deusa terrena que, a partir da noite do Mindelo, da qual sempre foi parcela integrante, iluminou o mundo, carregou a dor, o sofrimento, os anseios, as alegria, os amores e os desamores da nossa gente, de todos nós", afirmou.

Referindo-se à vida da artista, Jorge Carlos Fonseca lembrou que foi "difícil por vezes, mas rica e vivida com perseverança, grande humildade e extraordinária generosidade", mesmo depois da sua consagração.

"Na impossibilidade de retribuirmos à Cesária o quanto ela nos deu, apenas podemos aprisioná-la nos nossos corações, torná-la deusa feita música, de um país sofrido, combalido, mas eternamente grato a quem tanto fez para dar razão ao poeta que um dia disse 'mon pays est une musique'", acrescentou.

"A grande intérprete de boa parte dos nossos melhores compositores, a voz que nos levou a todos na garupa de Cabo Verde a todos os cantos do mundo, provando que na arte as fronteiras inexistem e que a humana linguagem da emoção não conhece barreira foi, como diria Frank Cavaquim, a esperança mais certa que temos, a eternidade", concluiu.
O ministro da Cultura, Mário Lúcio Souza, argumentou que o país ficou mais rico com o legado de Cize, diminutivo por que também era designada.

"Cesária Évora é Cabo Verde"

Ao discursar em nome da comunidade artística e em representação do governo, Mário Lúcio Sousa lembrou que os europeus descobriram Cabo Verde em 1640 - em 1975 "nós nos descobrimos", precisou -, mas que o mundo descobriu a alma cabo-verdiana com Cesária Évora.  "Cesária Évora é Cabo Verde", concluiu.

A cerimónia oficial, com honras de Estado, decorreu num dos salões do Palácio do Povo, reservado apenas aos familiares, às entidades nacionais e locais, ao corpo diplomático e a convidados.

As cerimónias tiveram início com o coro da Escola Secundária Jorge Barbosa, que entoou o hino nacional e a morna "Sodade", música emblemática de Cabo Verde, eternizada na voz de Cesária
Évora.

Ao lado da urna branca, coberta com a bandeira nacional, os artistas presentes despediram-se de Cize interpretando quatro temas, um dos quais, "Moda bô", da Lura, música que a artista gravou juntamente com "a diva dos pés descalços".

Do Palácio do Povo e suas cercanias, onde São Vicente em peso se concentrou esta tarde para o adeus à Cize, os restos mortais seguiram para a Catedral, para a missa de corpo presente, celebrada pelo bispo do Mindelo, Dom Ildo Fortes.

Dali, o cortejo seguiu para o cemitério de São Vicente, onde o corpo de Cesária Évora foi dado à terra no início da noite.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Kahlil Gibran

O Prazer da Vida
O prazer é uma canção de liberdade,
Mas não é a própria liberdade.
É o despontar dos teus desejos,
Mas não o seu fruto.
É um abismo a clamar pelo céu,
Mas não é nem o abismo nem o céu.
É a ave enjaulada a voar em liberdade,
Mas não é o espaço que ela percorre.
Na verdade, o prazer é uma canção de liberdade.
Gostava que a cantasses com todo o teu coração,
Mas não quero que percas o coração ao cantá-la.
Alguns jovens buscam o prazer como se fosse tudo na vida,
E, por isso, são julgados e repreendidos.
Eu não os julgo nem os repreendo.
Prefiro dizer-lhes que partam em busca.
Não ouviste falar do homem que estava a cavar a terra
Á procura de raízes e encontrou um tesouro?
Alguns anciãos recordam os seus prazeres com remorsos,
Como se fossem erros cometidos durante a embriaguez.
Deviam recordar os seus prazeres com gratidão,
Como quem recorda as colheitas de Verão.
Os que não buscam nem recordam temem o prazer,
Pois pensam que lhes irá prejudicar o espírito.
O teu corpo conhece a sua herança
E as suas necessidades, e não se deixará enganar.
E o teu corpo é a harpa da tua alma;
Pertence-te e cabe-te a ti criar
Uma doce música ou sons confusos.
E agora perguntas, no teu coração:
"Como poderei distinguir o que é bom
do que é mau no prazer?"
Vai para os campos e jardins e verás
Que a abelha tem prazer em tirar o mel da flor,
Mas também se deleita a flor
Ao dar o seu mel à abelha.
Para a abelha, a flor é uma fonte de vida,
E, para a flor, a abelha é a mensageira do amor.
E tanto para a abelha como para a flor,
Dar e receber prazer é tanto uma necessidade
Como um êxtase.
Portanto, no prazer, sê como a abelha e a flor.


Kahlil Gibran

 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Palácio da Pena

Palácio da Pena: um castelo de príncipes e princesas

 

O palácio da Pena é um dos ex-líbris da região de Lisboa. Situado no cimo da serra de Sintra, foi mandado construir pelo Rei consorte D. Fernando II de Saxe Coburgo Gotha. Em 1839, as ruínas de um antigo convento e a zona envolvente maravilharam o monarca, que aí mandou construir a sua residência de Verão. Inspirado na arquitectura de outros castelos europeus, e com uma decoração exótica e extremamente detalhista, o Palácio Nacional da Pena é o mais completo exemplar do Romantismo português.

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Palácio da Pena, entrada principal.

Em 2007 foi eleito uma das 7 maravilhas de Portugal. No entanto, o Palácio Nacional da Pena há muito encanta quem o visita. Seja pela imponente arquitectura, pela exótica decoração, que mistura vários estilos, ou pelo parque que o rodeia, este edifício constitui uma das mais belas construções da região de Lisboa. A 4,5km do centro histórico de Sintra, foi projectado pelo arquitecto Barão de Eschwege e decorado pelo próprio Rei D. Fernando II.

De convento em ruínas a palácio

Em 1839, o monarca visitou as ruínas de um antigo convento que tinha sido destruído por um raio e pelo (grande) terramoto de 1755. Mandado construir por D. Manuel I, o Mosteiro Jerónimo de Nossa Senhora da Pena encantou D. Fernando II, que então o adquiriu e transformou na sua residência de Verão.

Para dirigir a restauração do edifício, contrata o Barão de Eschwege, um arquitecto alemão que trabalhava em Portugal como engenheiro de minas. O projecto do palácio era inspirado noutras construções europeias, nomeadamente nos castelos da Baviera. Mas, ao nível da decoração e dos detalhes, foi o gosto do monarca que o “revestiu”. Deve-se à sua personalidade eclética e romântica a mistura de arcos, torres medievais, traços de inspiração gótica e árabe que o caracterizam.

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Palácio da Pena, entrada principal.

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Palácio da Pena.

Após a morte e D. Fernando, o palácio ficou entregue à sua segunda mulher, Elisa Hendler (Condessa de Edla). Na época, este facto causou grande polémica, dado que publicamente o palácio era já considerado um monumento. Elisa Hendler acabou por aceitar um acordo com o Estado português – que lhe ofereceu uma proposta de compra – e reservou para si apenas os aposentos do “Chalet da Condessa”. O Palácio da Pena passou a partir daí a ser Património Nacional.

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Palácio da Pena, Tritão.

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Palácio da Pena, Tritão.

Um castelo de fantasia e exotismo

A construção deste palácio foi idealizada para o Parque da Pena, uma vasta área verde salpicada de enormes rochedos que o rodeia. São mais de 85 hectares de jardins, lagos, pontes e pequenas estufas e viveiros com diversas flores e árvores vindas de todo o mundo. Do interior, é possível ver-se uma das obras de arte: uma escultura de um guerreiro.

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O palácio está dividido em quatro áreas: as muralhas que o cercam, com duas portas; o antigo convento restaurado juntamente com a torre do relógio, no topo da colina; o pátio com a sua parede de arcos; e a zona palaciana, caracterizada pelo seu interior em estilo cathédrale, com mobiliário e decorações típicas da época.

Do antigo convento foram conservados os claustros, a capela e alguns anexos que serviram de base para a reconstrução. A sua adaptação, realizada com uma junção de vários estilos e influências góticas, mouriscas, neo-manuelinas e árabes, resultou num ambiente de um autêntico cenário “das mil e uma noites”, nas palavras de Richard Strauss: “Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto e nunca vi nada que valha a Pena. É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de Klingsor – e, lá no alto, está o castelo do Santo Graal”.

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A fachada principal e a capela foram revestidas de azulejos. Todas as torres (exceptuando a do relógio) receberam cúpulas, baseadas essencialmente em obras como a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos ou o Convento de Cristo. Os aposentos do palácio foram também decorados com azulejos, para além de inúmeras pinturas murais em trompe-l’oeil e peças únicas de colecção, espalhadas pelas várias salas existentes.

O “Chalet da Condessa”, mandando construir como zona de lazer para o rei-consorte e a sua mulher, está parcialmente destruído. Tendo sido inspirado nos chalés dos Alpes, estava rodeado por um jardim e o seu revestimento exterior simulava madeira (algo comum em finais do século XIX). O processo de recuperação começou em 2007 pela empresa Parques de Sintra – Monte da Lua e a primeira fase de trabalhos terminou há poucos meses.

Desde a implantação da República, em 1910, o Palácio da Pena tornou-se museu e passou a ser chamado Palácio Nacional da Pena. Digno de um conto de príncipes e princesas, representa o mais belo exemplar da arquitectura romântica portuguesa.

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Palácio da Pena, minarete.

Ruínas e abandono em Detroit

 

Cinquenta anos após se tornar o centro mundial da indústria automobilística, Detroit se encontra em um impressionante estado de abandono. Dois fotógrafos franceses criaram imagens da sua ruína.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, United Artists Theater.

Detroit era na década de 50 a quarta maior cidade de todos os Estados Unidos. Nas quarto décadas anteriores, a cidade havia experimentado momentos de grande crescimento,começando em 1913, quando Henry Ford completou sua primeira linha de produção automobilística. A metrópole, sede da Ford e da GM, atingiu então o seu auge e passou a ser chamada de o maior centro mundial da indústria automobilística, ou Motorcity.

Nos anos 50, eram 2 milhões de habitantes. Muitos se mudavam para Detroit em busca de emprego. Detroit se tornara um dos símbolos do sonho americano.

Mas as próximas décadas não seriam tão prósperas como as anteriores. As indústrias automobilísticas, principais geradoras de renda da cidade, passam a ter grandes concorrentes: os carros importados, principalmente provenientes do Japão. A boa qualidade associada a um menor valor de mercado gerou uma queda nas vendas dos carros da Ford e GM. E com a queda das vendas, a economia da Motorcity passou a enfrentar sérios problemas.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, Vanity Ballroom.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, William Livingstone House.

A cidade entrou em decadência, até que em 1967 explodiram nela tensões sociais das maiores já vistas na América do Norte. 46 pessoas foram mortas em uma só semana. A classe média branca começou a deixar o centro em direção aos subúrbios. A desindustrialização e a segregação tomaram o lugar do crescimento.

O êxodo populacional acelerou, a vizinhança começou a desaparecer. Prédios no centro da cidade ficam completamente vazios. Cinco décadas após o auge, Detroit tinha perdido mais de metade de toda a sua população. E a cidade se tornou uma das metrópoles mais segregadas e mais violentas de todo os Estados Unidos. As estatísticas atribuem à Motorcity a maior taxa de homicídios dentre os sessenta maiores centros urbanos do país. Detroit também sofreu com a má distribuição de renda, tendo aproximadamente um quarto de sua população vivendo abaixo da linha de pobreza.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, Christopher House.

Casas, lojas, escolas e todo tipo de edificação inteiramente abandonada e vazia se tornam, então, componentes corriqueiros do espaço urbano de Detroit.

Foi neste cenário que, em 2005, os fotógrafos franceses Yves Marchand e Romain Meffre desembarcaram na cidade. Até 2009, dedicaram um total de sete semanas a montar um acervo de fotografias que registrasse o estado de decadência da Motorcity.

Esse trabalho resultou no livro entitulado “The Ruins of Detroit”, publicado em 2010, composto de incríveis imagens do abandono da cidade.

"Parece que Detroit foi abandonada para morrer. Muitas vezes entrávamos em enormes edifícios de art déco, antigamente decorados com bonitos candelabros, colunas ornamentadas e frescos extraordinários, mas estava tudo a desfazer-se e coberto de pó, e o sentimento de que tínhamos entrado num mundo perdido era quase esmagador. De uma forma bastante real, Detroit é um mundo perdido - ou pelo menos uma cidade perdida onde a magnificência do passado é evidente em todo o lado", descreveu Marchland em entrevista ao The Guardian em janeiro de 2011.

As fotografias são registros que muito bem descrevem a glória e o custo destrutivo do capitalismo americano. Foi ali, no mesmo local que o sonho americano tanto cresceu, que tudo se transformou em pesadelo.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, Michigan Central Station.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, Highland Park Police Station.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, Former Unitarian Church.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, East Methodist Church.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, HotelBallroom, Lee Plaza Hotel.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, Biology Classroom, Willbur Wright High School.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, Atrium Farwell Building.

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© Yves Marchand e Romain Meffre, Bagley Clifford Office of the National Bank of Detroit.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

 
 

The Promise - Tracy Chapman

The Promise by Tracy Chapman

If you wait for me then I'll come for you

Although I've traveled far

I always hold a place for you in my heart

If you think of me, if you miss me once in awhile

Then I'll return to you

I'll return and fill that space in your heart

Remembering

Your touch

Your kiss

Your warm embrace

I'll find my way back to you

If you'll be waiting

If you dream of me like I dream of you

In a place thats warm and dark

In a place where I can feel the beating of your heart

Remembering

Your touch

Your kiss

Your warm embrace

I'll find my way back to you

If you'll be waiting

I've longed for you and I have desired

To see your face your smile

To be with you wherever you are

Remembering

Your touch

Your kiss

Your warm embrace

I'll find my way back to you

If you'll be waiting

I've longed for you and I have desired

To see your face, your smile

To be with you wherever you are

Remembering

Your touch

Your kiss

Your warm embrace

I'll find my way back to you

Please say you'll be waiting

Together again

It would feel so good to be

In your arms

Where all my journeys end

If you can make a promise if its one that you can keep, I vow to come for you

If you wait for me and say you'll hold

A place for me in your heart.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

As mulheres de Ikenaga Yasunari

 

Ikenaga Yasunari é um pintor japonês de 46 anos que utiliza telas de linho para realizar um trabalho fascinante. Ele consegue fazer a difícil junção entre tradição e modernidade através de pinturas envolventes que retratam toda a beleza e sensualidade femininas sem abandonar as milenares técnicas artísticas japonesas.

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© Ikenaga Yasunari

O que é mais interessante na obra de Ikenaga Yasunari é que ele resgata o estilo artístico das pinturas ancestrais japonesas através de temáticas modernas. Os princípios da estética artística japonesa, como o miyabi (elegância refinada), mono no aware (empatia em relação às coisas) e wabi-sabi (tranqüilidade e simplicidade), estão presentes em todas as suas obras. Mesmo utilizando as técnicas tradicionais da pintura japonesas, Yasunari compõe retratos de mulheres modernas, acrescentando toques sutis de sensualidade.

Suas mulheres preservam a beleza e a elegância presentes nas pinturas milenares japonesas feitas em rolos de papel ou seda, que tradicionalmente costumavam retratar motivos religiosos, relatar aventuras ou cenas do cotidiano.
O jogo de luz e sombras, a sobreposição de cores e as exatas noções de movimento e profundidade, são substituídos pelo traço simples e limpo, com o uso da aquarela em tons suaves. A delicadeza e a intensidade são elementos que conseguem coexistir em perfeita harmonia nas pinturas de Yasunari, o que acaba por conferir um aspecto mais moderno à sua obra.

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© Ikenaga Yasunari

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© Ikenaga Yasunari
Através de uma atmosfera onírica, construída a partir de motivos florais e de uma delicadeza intocável, Yasunari explora a sensualidade feminina de forma bastante peculiar. As expressões faciais e posturas marcantes das mulheres retratadas atraem o espectador e apelam para seus sentidos de forma despretensiosa, sem extravagâncias ou ousadias. Tudo parece ser minuciosamente dosado, a ponto de dificultar a identificação dos elementos que constituem tal sensualidade. O fato é que os fundos intensamente estampados e padronizados acabam por se perder na profundidade dos olhares, na delicadeza das expressões e na naturalidade dos movimentos das mulheres retratadas por Yasunari.

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© Ikenaga Yasunari

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© Ikenaga Yasunari

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© Ikenaga Yasunari

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© Ikenaga Yasunari

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© Ikenaga Yasunari

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/10/as_mulheres_de_ikenaga_yasunari.html#ixzz1b9NeYQD1

Loreena McKennitt e a música do tempo passado

 

 

A cantora canadense se tornou famosa para amantes de world music pelo seu timbre de voz, o uso de instrumentos poucos usuais. Loreena em cada trabalho realiza uma verdadeira pesquisa de campo assimilando em suas melodias instrumentos milenares e retomando canções de tempos passados. A música de Loreena é uma verdadeira viagem transcendental.

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© Donna Griffiths , Copyright Quinlan Road By courtesy of Karen Shook on behalf of Quinlan Road.

Loreena McKennitt nasceu na cidade de Morden no Canadá em 17 de fevereiro de 1957. De ascendência irlandesa e escocesa, a compositora, pianista e harpista soube misturar elementos do celta eclético e do estilo new age juntamente com instrumentos de origem medieval e de países do Oriente Médio e Ásia. Sua formação iniciou-se aos 10 anos em piano clássico e canto. Na década de 1970, Loreena já realizava pequenos shows em clubes de música e espetáculos musicais, chegando a trabalhar como cantora e atriz do Festival Shakesperiano do Canadá, em Ontário.

Seus trabalhos são lançados pela própria Loreena, através do selo Quilan Road, idealizado, custeado e administrado por ela mesma. A pequena produtora que só representa e divulga seu trabalho, foi idealizado pela artista como uma maneira de distribuir e expandir as fronteiras de sua música e manter a qualidade de suas obras.

Seu primeiro álbum Elemental, foi lançado em 1985, e atraiu atenção mundial para a cantora. Mas o sucesso veio em a versão de Bonny Portmore, música tema do filme Highlander III, as músicas de Loreena também estão presentes nas trilhas sonoras dos filmes Soldier, Jadie, The Mists of Avalon, The Santa Clause, o filme de Jean-Claude LauzonLéolo e a co-produção canadense/venezuelana Una Casa Con Vista Al Mar e a série televisiva Roar e o documentário Women And Spirituality.

Loreena McKennitt - Bonny Portmore (Galante Portmore)

Em Bonny Portmore, Loreena resgata uma antiga canção irlandesa do século XVIII com melodia do século XIX. A letra trata sobre o desmatamento da floresta de carvalhos próximo ao Castelo de Portmore, para a construção naval. A canção ainda trata da tristeza da queda do grande carvalho e na voz potente de McKennitt a música ganhou o mundo e tradições e a consciência do antigo povo irlandês.

Loreena McKennitt - All Souls Night (Toda Noite Almas)

All Nights Soul é uma das canções criadas pela própria Loreena e foi inspirada o imaginário de uma tradição japonesa que celebra as almas dos defuntos, que envia pequenos barcos com lanternas para os mares e lagos. A isso McKennitt soma a celebração celta da noite da alma onde grandes fogueiras eram acesas não apenas para marcar o ano novo, mas também para aquecer as almas dos defuntos.

Já The Lady of Shalott é a versão musical do poema homônimo de Lord Alfred Tennyson de 1843, uma balada vitoriana com temática referente as lendas do Rei Arthur. Assim como Cymbeline em que Loreena, transforma em música um poema presenta na peça homônima que Wiliam Shapespeare escreveu já no fim de seus dias.

Loreena McKennitt - Cymbeline

Em outros trabalhos é possível perceber que Loreena uniu elementos da música secular celta a cultura musical do oriente, ao introduzir o toque erudito e utilizar instrumentos tradicionais desses povos vistos como exóticos, somado a isso a voz inconfundível de McKennitt. Elementos que criam um mundo paralelo ou uma viagem ao passado.

Loreena Mckennitt - Huron 'Beltane' Fire Dance (Dança do Fogo)

Roger Waters The Wall Live 4 Show Edit (Remastered) 2010 HD

Linkin Park Live In Madrid 2010 - Full Concert

Turista alemão desaparecido

Turista alemão desaparecido na Polinésia Francesa pode ter sido comido por canibais

Stefan Ramin está desaparecido desde meados de Setembro. Agora, a descoberta de restos de um cadáver queimado, levanta suspeitas de que o alemão pode ter sido vítima de canibalismo

17 de Out de 2011

Stefan Ramin e Helke Dorsch, na Dominica, durante a sua volta ao mundo à vela

Stefan Ramin e Helke Dorsch, na Dominica, durante a sua volta ao mundo à vela

Daily Telegraph

Stefan Ramin, 40 anos, de Hamburgo - Alemanha desapareceu no mês passado da ilha tropical de Nuku Hiva, na Polinésia Francesa.

Após semanas de investigação foram encontradas roupas e vestígios humanos queimados junto a um acampamento. Os vestígios, encontrados num vale remoto da ilha, conduziram a suspeitas de que o turista possa ter sofrido um ataque de canibalismo.

As cinzas obtidas, testadas em Paris, irão determinar a identidade da vítima. Estima-se que o processo demore várias semanas.

Na ilha, encontra-se um grupo de 22 polícias à procura de Henri Haiti, o guia local que levou o turista numa expedição de caça nas montanhas. Presume-se que Haiti terá sido a última pessoa a ver Stefan vivo.

Haiti voltou da expedição para avisar Heike Dorsch, a namorada de Ramin, que teria havido um acidente e que o turista se encontrava ferido. Quando esta se preparava para lançar o alerta, o guia, antes de fugir, alegadamente atacou e prendeu Dorsch a uma árvore.

Dorsch alertou as autoridades, horas depois de conseguir soltar-se. O exército está também, desde essa altura, activo na busca do turista.

Volta ao mundo

O casal partiu da Alemanha em 2008 para aquilo que julgavam vir a ser a viagem das suas vidas, à volta do mundo à vela. A 16 de Setembro deste ano, chegaram de catamarã a Nuku Hiva, a maior das ilhas Marquesas. Planeavam ficar vários meses.

Os vestígios queimados - ossos, dentes e chumbos derretidos foram encontrados uma semana após o desaparecimento.

Os investigadores acreditam que "um corpo humano foi cortado em bocados e queimado", segundo o Daily Mail.

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão afirmou estar "a par do caso e em contacto com as autoridades locais".

Sites informativos da Polinésia Francesa relatam que a nação está em choque. "Ninguém consegue acreditar que isto aconteceu", disse Deborah Kimitete, Vice-Presidente de  Nuku Hiva ao Les Nouvelles, um site noticioso local.

Nuku Hiva tem pouco mais de 2000 habitantes e um passado de canibalismo, mas acreditava-se que tal prática estava extinta.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Aperta o cinto Zé

Pedro Passos Coelho sublinhou que a eliminação dos subsídios de férias e de Natal será uma medida temporária

Pedro Passos Coelho sublinhou que a eliminação dos subsídios de férias e de Natal será uma medida temporária

 

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, anunciou hoje que o Orçamento do Estado para 2012 "prevê a eliminação dos subsídios de férias e de Natal para todos os vencimentos dos funcionários da Administração Pública e das empresas públicas acima de mil euros por mês".

 

Numa declaração ao país sobre o Orçamento do Estado para 2012, na residência oficial de São Bento, em Lisboa, Pedro Passos Coelho anunciou que também serão eliminados os subsídios de férias e de Natal "para quem tem pensões superiores a mil euros por mês".
"Os vencimentos situados entre o salário mínimo e os mil euros serão sujeitos a uma taxa de redução progressiva, que corresponderá em média a um só destes subsídios. Como explicaremos em breve aos partidos políticos, aos sindicatos e aos parceiros sociais, esta medida é temporária e vigorará apenas durante a vigência do Programa de Assistência Económica e Financeira", acrescentou.
Passos Coelho referiu que a redução das pensões por via da eliminação dos subsídios de férias e de Natal é igualmente "evidentemente temporária e vigorará durante a vigência do Programa de Assistência" e salientou que o Governo cumprirá o "compromissos de descongelar as pensões mínimas e atualizá-las".

Além disso os trabalhadores serão obrigados a mais meia hora por dia de trabalho e terão menos férias.

Declaração do Primeiro-Ministro sobre o Orçamento do Estado para 2012

Portugueses, boa noite.

Não preciso de vos dizer que vivemos momentos da maior gravidade. Todos os Portugueses estão a sentir nas suas vidas os efeitos de um terrível estrangulamento financeiro da nossa economia.

O Estado depende em absoluto da assistência externa para cumprir as suas funções básicas, desde o pagamento de salários a enfermeiros, professores ou polícias, até à realização das mais variadas prestações sociais.

Também o sector privado sofre cada vez mais com a escassez de crédito, do crédito de que precisa para financiar a aquisição de matérias-primas e de equipamento, para financiar o pagamento de salários e preservar o emprego. Vivemos um momento de emergência nacional.

Quando no ano passado ajudei a viabilizar o orçamento para 2011, fiz questão que nele estivessem contidas reduções significativas da despesa pública. Foi esse o compromisso que estabeleci com o Governo de então, porque sem essas reduções seria impossível resolvermos os nossos problemas.

Quando tomei posse sensivelmente a meio do ano, eu esperava que metade desse orçamento tivesse sido devidamente executado.

Porém, tal como foi recentemente mostrado pelo INE, nesses primeiros meses que antecederam a minha posse no Governo, 70% do défice permitido para a totalidade do ano fora já esgotado.

É preciso que os Portugueses compreendam todos os contornos da situação atual. No passado, habituámo-nos a tolerar as derrapagens orçamentais.

Tornou-se num hábito político que é urgente reparar. Mas este ano todos tinham a obrigação de já ter aprendido a lição.

As derrapagens orçamentais num País que enfrenta a perda da credibilidade externa e a vê secar as suas fontes de financiamento têm consequências muito mais gravosas do que é habitual.

Temos de acrescentar a tudo isto uma contração económica prevista para 2012 maior do que foi antecipado e uma deterioração severa das circunstâncias externas à economia portuguesa.

E é preciso sublinhar que se agravou substancialmente o peso dos prejuízos e do endividamento do Sector Público Empresarial, o que vai obrigar a uma profunda reestruturação do sector.

Como sabem, elegemos um número de medidas temporárias que nos permitem compensar a situação negativa que encontrámos. Mas no próximo ano essa compensação já não poderá ser temporária.

O ajustamento terá de ser muito profundo. Isso implica um esforço adicional aos objetivos já exigentes a que estávamos comprometidos para 2012. E significa que neste orçamento que será apresentado aos Portugueses nos próximos dias teremos de fazer um esforço redobrado de consolidação.

Para atingir o mesmo resultado de contas públicas a que nos obrigámos externamente temos agora de fazer mais do que estava inicialmente previsto.

Perante as atuais dificuldades, é compreensível que cresça a tentação de abandonarmos o caminho que foi traçado até agora. Mas por essa razão é imprescindível que estejamos bem conscientes dos terríveis perigos que tal opção necessariamente materializaria.

Se nos víssemos privados da assistência externa, e sem a possibilidade de nos financiarmos no exterior, teríamos de enfrentar o imediato encerramento de muitas atividades do Estado, o não pagamento de salários, incumprimentos em cadeia pela economia que conduziriam a falências em massa, o prolongamento indefinido da nossa falta de competitividade, a incapacidade instantânea de importar bens que neste momento são absolutamente necessários para o nosso modo de vida, como os alimentos e os medicamentos.

Com a concretização dum cenário deste tipo, as pressões para abandonarmos a zona euro seriam imensas.

Nada disto é aceitável e eu nunca permitirei que tal aconteça. Daí que seja, e tenha de ser, inabalável o compromisso deste Governo com o processo de consolidação orçamental associado à agenda de competitividade e transformação estrutural da nossa economia. Temos objetivos para cumprir e iremos cumpri-los. Não tenho dúvidas de que dou voz ao País quando recuso o cenário negro que resultaria das nossas eventuais hesitações.

Por tudo isto, o orçamento para 2012 é absolutamente decisivo e coincide com o momento em que muito duramente enfrentamos a realidade. Em tempos de emergência, o tempo é ainda mais precioso, o rigor ainda mais indispensável, a coesão interna ainda mais necessária. Mas não há emergência que dispense o dever de procurar as soluções mais equilibradas, que não coloquem em causa os compromissos do Estado, nem sacrifiquem os nossos objetivos de médio e longo prazo. As medidas que constam do orçamento que vamos apresentar são as respostas mais prudentes e eficazes às ameaças reais de uma espiral económica descendente e da paralisia de algumas das funções centrais do Estado.

Permitam-me que vos explique agora com mais algum detalhe a nossa rejeição de ambos os riscos. Para contrariar o risco da deterioração económica, incluindo uma contracção profunda e prolongada do nosso produto e do nosso tecido empresarial, o Governo decidiu permitir a expansão do horário de trabalho no setor privado em meia hora por dia durante os próximos dois anos, e ajustar o calendário dos feriados.

Estas medidas respondem diretamente à necessidade de recuperar a competitividade da nossa economia e evitam o desemprego exponencial que a degradação da situação das nossas empresas produziria. Este é o modo mais eficaz e mais seguro de operar um efeito de competitividade.

Substitui a descida da TSU, que requer condições orçamentais particulares que neste momento o País não reúne.

Estou confiante que esta decisão terá um efeito sensível no abrandamento da recessão económica prevista para o próximo ano e contribuirá significativamente para relançar o crescimento em 2013. Quero dizer aos Portugueses que conto sobretudo com a sua capacidade e ambição.

Este Governo não se limita a pedir sacrifícios e a impor limites. Queremos resolver os nossos problemas com mais trabalho, mais ideias, mais espírito de entreajuda e cooperação entre todos. Este é o meio mais adequado para, no meio de tantas restrições, ampliarmos a nossa capacidade económica de criação de riqueza.

Já no sector público as consequências de um incumprimento, ou de uma vacilação na realização dos objetivos para o défice que pusesse em causa a assistência externa, seriam fáceis de prever.

Se nos víssemos privados dessa assistência, e sem a possibilidade de nos financiarmos no exterior, o Estado seria forçado, em desespero, a proceder a medidas intoleráveis como os despedimentos indiscriminados de funcionários públicos ou medidas comparáveis, o que de resto já sucedeu noutros países da zona euro. Ora, o Estado tem compromissos a que não deve renunciar, nem mesmo numa situação de emergência.

Não nos devemos permitir decisões de último recurso. Temos de salvaguardar o emprego. É a pensar na conjugação das necessidades financeiras com a prioridade do emprego que o orçamento para 2012 prevê a eliminação dos subsídios de férias e de Natal para todos os vencimentos dos funcionários da Administração Pública e das Empresas Públicas acima de 1000 euros por mês.

Os vencimentos situados entre o salário mínimo e os 1000 euros serão sujeitos a uma taxa de redução progressiva, que corresponderá em média a um só destes subsídios. Como explicaremos em breve aos partidos políticos, aos sindicatos e aos parceiros sociais, esta medida é temporária e vigorará apenas durante a vigência do Programa de Assistência Económica e Financeira.

Mas estes não são os únicos compromissos inquebráveis do Estado. É preciso evitar também o colapso da estrutura básica do Estado social. Para este efeito estavam já previstas algumas medidas no Memorando de Entendimento assinado com a União Europeia e o FMI.

Contudo, foi necessário reforçá-las. Foi necessário porque os desvios na execução orçamental de 2011 relativamente ao que estava previsto no Programa de Assistência são superiores a 3000 milhões de euros.

No orçamento para 2012 haverá cortes muito substanciais nos sectores da Saúde e da Educação. Neste aspeto, fomos até onde pudemos ir - no combate ao desperdício, nos ganhos de eficiência.

Não podemos ir mais longe nestes cortes sem pôr em causa a qualidade dos serviços públicos, sem pôr em causa o acesso dos cidadãos a estes serviços. E isso não faremos.

Uma vez mais de acordo com o Memorando de Entendimento, serão eliminadas as deduções fiscais em sede de IRS para os dois escalões mais elevados, e os restantes verão reduzidos os limites existentes. Mas serão salvaguardadas majorações por cada filho do agregado familiar.

E. ao contrário do que estava previsto no Programa de Assistência, acautelaremos a fiscalidade das Instituições Públicas de Solidariedade Social e isentaremos de tributação em sede de IRS a maioria das prestações sociais, como, por exemplo, o subsídio de desemprego, de doença ou de maternidade.

No caso do IVA, teremos de obter mais receitas do que o que estava desenhado no Memorando de Entendimento. Para este efeito, o orçamento para 2012 reduz consideravelmente o âmbito de bens da taxa intermédia do IVA, embora assegure a sua manutenção para um conjunto limitado de bens cruciais para sectores de produção nacional, como a vinicultura, a agricultura e as pescas.

Como garantia aos Portugueses, não haverá alterações na taxa normal do IVA e mantemos os bens essenciais na taxa reduzida, com a preocupação de proteger os mais vulneráveis.

Como sabem, a redução das pensões de reforma era uma medida prevista no Memorando de Entendimento. Tal como para os salários da Administração Pública e das Empresas Públicas, teremos de eliminar os subsídios de férias e de Natal para quem tem pensões superiores a 1000 euros por mês. As pensões abaixo deste valor e acima do salário mínimo sofrerão em média a eliminação de um só destes subsídios.

Esta redução é também ela evidentemente temporária e vigorará durante a vigência do Programa de Assistência. Mas não prescindimos do nosso compromisso de descongelar as pensões mínimas e atualizá-las.

Nunca nos deveríamos ter permitido chegar a este ponto. Quando fui eleito Primeiro-Ministro nunca pensei que tivesse de anunciar ao País medidas tão severas e tão difíceis de aceitar. Sei muito bem que a obediência ao meu dever e a necessidade da tomada destas decisões não as tornam menos custosas, nem aligeiram os sacrifícios.

Compreendo muito bem a frustração de todos os Portugueses que olham para trás, para estes últimos anos, e se perguntam como foi possível acumular tantos erros e somar tantos excessos. Tivemos tantas oportunidades para inverter o rumo e limitámo-nos a encolher os ombros.

Uma coisa é certa: não sairemos deste vale de dificuldades com fugas à realidade, nem com excessos retóricos, mas apenas com decisões tomadas com determinação, responsabilidade e método.

Um orçamento do Estado é muito mais do que um simples exercício de contabilidade. Nele estão vertidas escolhas políticas fundamentais. Escolhas para o nosso presente e para o nosso futuro.

Num momento como aquele que estamos a viver é ainda mais importante que façamos escolhas consequentes e resolutas: para reparar as escolhas do passado de muitos anos que nos conduziram até ao difícil estado atual de coisas; para enfrentar os graves problemas do presente; e para preparar um futuro mais livre, com mais escolhas e com novos horizontes.

Nas rubricas deste orçamento não estão inscritos apenas números. Está inscrita a rejeição do colapso do País. Estão inscritos os laços europeus de um País que quer honrar os seus compromissos, a sua história e a sua democracia.

Está inscrito um novo rigor no respeito pela lei e pelo Estado de Direito, pelo princípio da responsabilidade social, o que significa que seremos implacáveis com a evasão fiscal e agravaremos a tributação das transferências para off-shores e paraísos fiscais.

No nosso País existe como sabemos um coro de vozes sempre pronto a dizer que não seremos capazes, que os obstáculos são demasiado grandes, que a resignação é o melhor caminho, ou que outros devem ser chamados a resolver os nossos problemas. Muitas vezes no passado foram estas vozes que impediram qualquer esforço sério de renovação das nossas capacidades.

Ora, é precisamente porque este esforço de renovação nunca foi feito que podemos acreditar que desta vez seremos capazes.

Seremos capazes de pôr um fim definitivo aos nossos problemas e dificuldades. É aqui que começamos a reconquistar a nossa credibilidade, e em breve conheceremos os efeitos benéficos dos nossos sacrifícios.

Temos de olhar para os exemplos recentes de países que, optando por fazer os seus processos de ajustamento com inteligência e responsabilidade, souberam ultrapassar as suas dificuldades bem mais rapidamente do que diziam as previsões e abriram um período de prosperidade que seria impossível de outro modo.

Não adiar o mais difícil e inevitável pode custar muito, mas custa seguramente menos do que se teria de fazer mais à frente no futuro.

Assim que o Governo assumiu funções tratou de inverter as perigosas tendências que vinham de trás. Agimos preventivamente com medidas que hoje, depois de serem revelados problemas adicionais nas nossas contas públicas, todos reconhecem que foram absolutamente necessárias para nos manter em linha com os nossos compromissos.

Foram igualmente decisivas para retomar o caminho da credibilidade e confiança externas. As últimas semanas foram pródigas em sinais do exterior que credibilizam a estratégia e as decisões do Governo. Da parte dos nossos parceiros europeus e das instituições internacionais recebemos numerosas manifestações públicas e privadas de apoio e de confiança na nossa estratégia de estabilização da economia.

Precisamos de ver este apoio como um bem precioso, que é difícil e demorado de adquirir, que tem de ser reconquistado todos os dias, mas que as hesitações e o laxismo podem rapidamente desbaratar.

Mais do que isso, nós já sabemos que podemos contar com os nossos parceiros internacionais para além do atual Programa de Ajustamento, desde que o cumpramos, o que nos deve dar um estímulo e uma segurança adicionais para os nossos esforços.

Quis nesta ocasião falar a todos os Portugueses porque mais do que nunca o cumprimento dos objetivos nacionais, a cabal execução do orçamento para 2012, a superação da emergência nacional depende em absoluto do contributo de todos.

Depende da competência e liderança do Governo, da diligência e dedicação das Administrações Públicas, da inovação e criatividade dos empresários, da confiança e serenidade dos investidores, do profissionalismo e energia dos trabalhadores. Depende da cooperação dos parceiros sociais, do dinamismo das instituições da sociedade civil, do diálogo construtivo com os partidos da oposição, em particular com o maior partido da oposição que tem nesta matéria uma oportunidade de evidenciar um elevado sentido de responsabilidade e de serviço ao País.

A eficácia deste orçamento dependerá de todos. A gravidade da situação assim o exige. Mas também o exige a grandeza do propósito.

Perante um mundo cheio de riscos e de incertezas, nós temos um programa que responde a todos os riscos e a certeza de que seremos bem-sucedidos.

domingo, 9 de outubro de 2011

Amanda Knox

Dúvidas relativas às provas encontradas pela polícia no local do crime contribuiram para a absolvição de Amanda Knox

Dúvidas relativas às provas encontradas pela polícia no local do crime contribuiram para a absolvição de Amanda Knox

Era um sonho que há muito alimentava. Ir para Itália e passar um ano a estudar no estrangeiro, num país que considerava fascinante. Após ter cumprido o desejo antigo, de certo que Amanda Marie Knox nunca terá imaginado os contornos que assumiu a sua estadia em Perugia.
Nascida a 9 de julho de 1987 em Seattle, nos EUA, Amanda Knox era conhecida pelos familiares como uma rapariga determinada e aplicada nos estudos. Simpática, inteligente e perspicaz, a imagem pintada pelos conhecidos é a de alguém que só queria aproveitar da melhor forma a passagem por Itália.
Estudante da Universidade de Washington, Amanda Knox consegue entrar num programa de intercâmbio com a "Universidade para Estrangeiros de Perugia", uma instituição localizada no norte de Itália, numa cidade conhecida pela sua vida estudantil.
Para completar a imagem de sonho, Amanda consegue encontrar uma pequena moradia no topo da colina onde se situa a pitoresca cidade.
Uma das companheiras de quarto na habitação era Meredith Kearcher, estudante do Reino Unido que estava a completar um ano de estudos ao abrigo do programa Erasmus. E as duas tornarmm-se amigas.

Contradições nas declarações

A 25 de outubro de 2007, Amanda Knox vai com Meredith assistir a um concerto de música clássica onde conhece outro dos principais envolvidos no caso: Raffaele Sollecito. Pouco depois, os dois começaram uma relação amorosa e passaram a ser visitas habituais das casas de cada um.
Não muitos dias passados, a 1 de novembro, ocorreram os terríveis acontecimentos que desencadearam o longo processo judicial nos quatro anos seguintes. Meredith Kearcher foi encontrada seminua, debaixo de um edredão, numa poça de sangue com a garganta cortada. Foi Amanda Knox quem fez a denúncia da ocorrência à polícia.
Cedo Amanda e Raffaele se tornaram suspeitos da morte da estudante britânica. Os dois afirmaram ter passado a noite em casa de Raffaelle, mas as aparentes contradições nos seus depoimentos colocaram ambos no radar das autoridades.
Às 23h de 5 de novembro, Amanda Knox é levada para a esquadra, onde após 14 horas de interrogatório acusa o seu patrão num bar onde trabalhava, Patrick Lumumba, de ter sido o autor do crime e admite "parcialmente" ter estado na casa. No dia seguinte, Amanda é detida.
A jovem norte-americana viria mais tarde a negar a declaração, acusando as autoridades de lhe terem feito um interrogatório ininterrupto, sem comida, sem tradutor para o italiano e sem gravarem as declarações.

"Jogo sexual"

Quase duas semanas depois, a polícia prende Rudy Guede, um italiano de origem costa-marfinense, cujo ADN foi encontrado no corpo de Meredith e em muitas das roupas da estudante.
As autoridades afirmaram ainda ter encontrado um pedaço do ADN de Raffaele Sollecito no sutiã de Meredith e marcas de Amanda Knox no cabo de uma faca e da estudante britânica na lâmina. A polícia revelou ainda ter encontrado pegadas no quarto que se assemelhavam às de Amanda. Contudo, não foram encontradas provas específicas da presença da norte-americana no quarto de Meredith Kercher.
As dúvidas relativamente às provas encontradas e os métodos utilizados pela polícia foram uma das principais bases para o recurso que resultou na absolvição de Amanda e Raffaele.
Enquanto Rudy Guede foi prontamente condenado a uma pena de prisão pelo assassínio de Meredith Kercher, o julgamento de Amanda Knox e Raffaele Sollecito foi mais longo e começou a 16 de janeiro de 2009. A acusação avançou com diversas explicações para o que se terá passado naquela noite tendo-se, finalmente, focado na hipótese de um "jogo sexual" em que Meredith Kercher recusou participar.
Então, enquanto Rudy Guede e Raffaele Sollecito agarravam Meredith Kercher, esta teria sido esfaqueada por Amanda Knox.

Libertação polémica

A 4 de dezembro de 2009, Amanda e Raffaele foram condenados a 26 e a 25 aos de prisão, uma pena que gerou enorme controvérsia internacional.
Os dois recorreram da decisão em abril de 2010 e baseando o recurso em opiniões de especialistas italianos que criticaram duramente as provas recolhidas pela polícia, acusando as autoridades de não cumprir as normas internacionais, o casal foi absolvido de todas as acusações e libertado após quatro anos de luta judicial.
Porém, a polémica quanto ao caso está longe de estar terminada.

Veja o vídeo posterior à condenação de Amanda Knox, em dezembro de 2009:

http://http://www.youtube.com/watch?v=48RNhSnwHJc

domingo, 2 de outubro de 2011

A calma nos ensina a ver nas entrelinhas

A calma nos ensina a ver nas entrelinhas
A selar as dúvidas
A entender as opiniões e aprender algo diferente
A buscar a humildade
A avaliar a importância do espiritual
Aquietar, afasta murmurações
Nossa melhor avaliação é feita quando estamos a sós
Aquietar, é tirar o melhor
Ter o olhar saudável
Paciência de concluir os sonhos
Sem contar o tempo
Perceber o ciclo da vida, da terra e das pessoas
É aperfeiçoar na busca pelo certo
Entender que defeito é algo que habita em todos
Aquietar é transpor a lógica
Render-se a Fé.
_Mony Mello_

Separação

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Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.
Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.
Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar aqueles das mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se multo longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.
Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela.
Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde…

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Voz do Profeta exilado

,

Voz do Profeta exilado

a Haydée de Meunier

Cansei-me de anunciar teu nome

às multidões desatinadas;

e, quando desdobrei teu rosto,

responderam-me co pedradas.

Deixei essas praias ferozes

de areias e alucinação.

Fui no meu barco de perigo,

de silêncio e de solidão.

Solucei nas rochas desertas,

equilibrei-me na onda brava.

Curvei de espanto a minha fronte:

e com as águas do mar chorava.

Chorei pelas gentes perdidas

de loucura e orgulho. Depois,

por minhas visões, por meus gestos.

E, finalmente, por nós dois.

Em que outros países, de que estranhos

mundos,alguém espera pela

minha voz, salva de martírios,

condutora da tua Estrela?

Diante dos horizontes próximos,

afligi-se o meu coração.

Não sei se é o tempo da chegada,

ou sempre o da navegação.

Cecília Meireles

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Vencer o Medo

 

 

 

 

Vencer o Medo

Parecemos estar hoje animados quase exclusivamente pelo medo. Receamos até aquilo que é bom, aquilo que é saudável, aquilo que é alegre. E o que é o herói? Antes de mais, alguém que venceu os seus medos. É possível ser-se herói em qualquer campo; nunca deixamos de reconhecer um herói quando este aparece. A sua virtude singular é o facto de ele ser um só com a vida, um só consigo próprio. Tendo deixado de duvidar e de interrogar, acelera o curso e o ritmo da vida. O cobarde, par contre, procura deter o fluxo da vida. E claro que não detém nada, a menos que se detenha a si próprio. A vida continua sempre a avançar, quer nos portemos como cobardes, quer nos portemos como heróis. A vida não impõe outra disciplina - se ao menos o soubéssemos compreender! - para além de a aceitarmos tal como é. Tudo aquilo a que fechamos os olhos, tudo aquilo de que fugimos, tudo aquilo que negamos, denegrimos ou desprezamos, acaba por contribuir para nos derrotar. O que nos parece sórdido, doloroso, mau, poderá tornar-se numa fonte de beleza, alegria e força, se o enfrentarmos com largueza de espírito. Todos os momentos são momentos de ouro para os que têm a capacidade de os ver como tais. A vida é agora, são todos os momentos, mesmo que o mundo esteja cheio de morte. A morte só triunfa ao serviço da vida.

Henry Miller, in "O Mundo do Sexo"

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Marginalização da Musica Caipira

Sentando em seu banquinho de madeira, um homem, mascando fumo e dedilhando uma velha viola, compõe canções enquanto o sol se põe no horizonte. Essa seria uma boa cena para descrever romanticamente um caipira compondo canções sobre sua rotina na roça. Mas a moda de viola, ou a chamada música de raiz, já não canta mais as imagens do verdadeiro cotidiano caipira. Hoje, só traduz dores de amor.

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Cenas do cotidiano no interior, descrições simplistas da vida de homens e mulheres rudes, que ainda não foram mudados pela expansão das cidades e do capitalismo. O culto a uma vida sem luxos, em que a subsistência vem da força das mãos e do conhecimento do tempo. Era disso que tratavam as modas de viola, que surgiram a partir dos anos 1920. Falava-se sobre como viver da terra. Hoje, o termo caipira foi generalizado, se tornando uma figura representada por esterótipos. O sotaque caipira e seu “falar errado” não é propositado. É um dialeto criado para uma comunicação própria entre comunidades que conhecem as horas apenas por observar a movimentação do sol, que têm um chá para todo tipo de doença e uma simpatia para qualquer mal.

A moda de viola é uma expressão da música caipira. Uma união de influências dos europeus, índios e africanos. Um estilo de música que conta fatos históricos da vida de quem vive no campo. Causos da região rural faziam parte das letras de Cornélio Pires, compositor que começou a gravar em 1929 o que hoje chamamos de música sertaneja.

A viola, símbolo e instrumento desse ritmo tão peculiar, trazia em suas cordas o poder de traduzir as tristezas, alegrias, dores e belezas da cultura caipira. Uma brava representante de uma parte da nossa brasilidade. A companheira do peito dos compositores que sabiam cantar sobre esse universo tão distinto.

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As letras quase sempre evocavam o bucolismo e o romantismo das paisagens, da cultura caipira, do homem interiorano, fazendo assim uma oposição ao homem que prosperava na cidade grande. O gênero que ainda trata desses mesmos aspectos hoje é conhecido como música de raiz, bem diferente da proposta utilizada pelos cantores que se intitulam sertanejos, com suas letras sobre dores de amor e tão somente isso. Exemplos de verdadeiros sertanejos, que cantavam uma temática muito ligada à realidade cotidiana são as duplas Mandi e Sorocabinha e Laureano e Soares.

A música de raiz pode ser historicamente dividida em três fases: de 1929 a 1944, como música caipira ou de raiz, na qual os cantores falavam do universo sertanejo de uma forma épica e muitas vezes satírica, mas quase nunca de uma forma amorosa. Destacam-se nesse período: Tonico e Tinoco e Pena Branca e Xavantinho.

Do pós-guerra até aos anos 60 há uma fase de transição, quando novos instrumentos passaram a fazer companhia à viola, como a harpa e o acordeão. Aqui a temática começou a ganhar um tom mais amoroso, mantendo, porém, seu caráter autobiográfico. Tião Carreiro, Cascatinha e Inhanha e as Irmãs Galvão foram representantes dessa fase.

Do final dos anos 60 até hoje ficamos com a música sertaneja romântica, que até há alguns anos atrás era representada por duplas como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo e Luciano. Hoje, existe um número grande de duplas e cantores a solo que se intitulam caipiras, mas que há muito fugiram da original proposta da moda de viola. Como bem disse o jornalista e estudioso da cultura popular Assis Ângelo, “muita coisa de mau gosto foi produzida, gerando também uma vertente brega ou expressões conhecidas como dor de cotovelo, normalmente associadas ao que veio ser chamada música sertaneja. Surpreendentemente, esta nova vertente fez muito sucesso, às vezes a ponto de ofuscar a música caipira de raiz de conteúdo e sensibilidade admiráveis”.

Caio Fernandes Abreu

 


Entrar na realidade
Em luta, meu ser se parte em dois.
Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não.
Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora.
No que está sendo.
Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim,
de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço.
Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar,
mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem.
Pensar é ainda fuga:
aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar.
Entrar nela significa viver.
_________Caio Fernando Abreu*

Erico Veríssimo

 


"Um amigo me costumava dizer
que a vida é como uma travessia transatlântica.
Os passageiros são das mais variadas espécies.
Uns passam a viagem a se preparar para o desembarque no porto de seu destino
e desprezam as festas de bordo pelo simples prazer de viajar.
Outros não sabem do seu destino,
não tem nenhuma esperança no porto de chegada
e procuram passar da melhor maneira possível a travessia.
Este é o meu caso"!
_________Erico Veríssimo**

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

The Doors

 

The Doors -

   Mito de uma Geração

2011 é também ano do 20º aniversario de um dos filmes mais controversos na história do cinema pelo facto de falarem de um das bandas mais polémicas do mundo da música, The Doors. É certo que á 20 anos atrás a polémica foi instalada muito a volta do argumento do filme e da visão do próprio realizador. Muitos foram os críticos desde os fãs de longa data, até mesmo os restantes músicos sobreviventes não estavam de acordo com o conteúdo da película.

Oliver Stone que para mim é um dos melhores realizadores de cinema conseguiu não fugir muito da realidade do que foi principalmente a figura central desta película o vocalista da banda, Jim Morrison interpretado pelo Val Kilmer que faz um papel magnifico neste filme. Entre outros atores destaco o papel de Meg Ryan com o papel da eterna namorada de Jim Morrison. E ao longo do filme nota-se a presença de várias figuras do rock a darem a cara por personagens emblemáticas e marcantes da história POP mundial. Billy Idol e David Bowie dao o seu contributo neste excelente filme.

Uma das mais sensuais e excitantes figuras da história do rock explode nas telas em The Doors, um filme eletrizante sobre o homem, o mito, a música e a magia que foi Jim Morrison. Morrison (Val Kilmer), deus do sexo. Alto Sacerdote do excesso. Um poeta disfarçado na pele de um astro do rock. As mulheres o desejam, os homens desejam ser como ele. Numa época chamada anos 60, num lugar chamado Estados Unidos, nenhum sonho era mais brilhante do que ser o líder de uma banda de rock chamada The Doors.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Desistindo de interpretar papéis - O Despertar de uma nova consciência - Por Eckhart Tolle

Fazer o que é exigido de nós em qualquer situação sem que isso se torne um papel com o qual nos identificamos é uma lição essencial na arte de viver que todos nós estamos aqui para aprender. Somos mais eficazes no que quer que façamos quando executamos a ação em benefício dela mesma, e não como um meio de proteger e acentuar a identidade do nosso papel. Todo papel é uma percepção fictícia do eu e, por meio dele, tudo se torna personalizado e assim corrompido e distorcido pelo "pequeno eu" criado pela mente, seja qual for a função que este esteja desempenhando. Quase todas as pessoas em posições de poder, como políticos, celebridades e líderes empresariais e religiosos, se encontram inteiramente identificadas com seu papel, com poucas exceções notáveis. Esses indivíduos podem ser considerados VIPs, mas não são mais do que participantes inconscientes do jogo egóico, que, apesar de parecer muito importante, não apresenta, em última análise, um propósito verdadeiro. Ele é, nas palavras de Shakespeare, "uma história contada por um idiota, repleta de som e de fúria, sem nenhum significado". E Shakespeare chegou a essa conclusão sem nem sequer ter visto televisão. Se o conflito egóico tem de fato um propósito, este é indireto: ele cria cada vez mais sofrimento neste mundo, e o sofrimento, embora produzido em sua maior parte pelo ego, no fim também o destrói. Ele é o fogo no qual o ego se consome.

Neste mundo de personalidades que interpretam papéis, as poucas pessoas que não projetam uma imagem criada pela mente e que agem com âmago do seu Ser, aquelas que não tentam parecer mais do que são, destacam-se como admiráveis e são as únicas que fazem verdadeiramente a diferença - e existem algumas assim até mesmo na mídia em geral e no universo dos negócios. Elas são os mensageiros da nova consciência. Qualquer coisa que façam se torna importante porque está alinhada com o propósito do todo. Contudo, sua influência vai muito além do que realizam, despretensiosa - tem um efeito transformador sobre qualquer um que tenha contato com elas.

Quando não interpretamos papéis, é porque que não há eu (ego) no que estamos fazendo. Não existem intenções ocultas: a proteção ou o fortalecimento do eu. Por esse motivo, nossas ações têm uma força muito maior. Ficamos totalmente concentrados na situação, nos tornamos um só com ela. Não procuramos ser alguém diferente. Passamos a ser mais capazes, mais eficazes, quando somos nós mesmos. Todavia, não devemos tentar ser nós mesmos, pois esse é outro papel. Estou falando do chamado "eu natural, espontâneo". Assim que buscamos ser isso ou aquilo, interpretamos um papel. "Apenas seja você mesmo" é um bom conselho, no entanto também pode ser enganador. Primeiro, a mente dirá: "Vejamos. Como posso ser eu mesmo?" Depois, desenvolverá uma estratégia do tipo "Como ser eu mesmo". Outro papel. Assim, "Como posso ser eu mesmo?" é, na verdade, a pergunta errada. Ela pressupõe que temos que fazer algo para sermos nós mesmos. Porém, "como" não se aplica a esse caso porque já somos nós mesmos. Precisamos apenas parar de acrescentar elementos desnecessários a quem já somos. "Mas eu não sei quem sou. Ignoro o que significa ser eu mesmo". Quando conseguimos nos sentir à vontade em não saber quem somos, então o que sobra é quem somos - o Ser por trás do humano, um campo de pura potencialidade em vez de alguma coisa que já está definida.

Portanto, desista de se definir - para si mesmo e para os outros. Você não morrerá. Você nascerá. E não se preocupe com a definição que os outros lhe dão. Quando uma pessoa o define, ela está se limitando, então o problema é dela. Sempre que estiver interagindo com alguém, não se porte como se você fosse basicamente uma função ou um papel, mas um campo de presença consciente.

Por que ego interpreta papéis? Por causa de um pressuposto não questionado, um erro fundamental, um pensamento inconsciente, que é: "Não sou o bastante." E a esse pensamento se erguem outros, como "Tenho que interpretar um papel para conseguir o que é necessário para me completar", "Preciso obter mais para ser mais". No entanto, não podemos ser mais do que somos porque, por baixo da superfície da nossa forma física e psicológica, somos um só com a Vida em si mesma, com o Ser. Na forma, somos e seremos sempre inferiores a algumas pessoas e superiores a outras. Na essência, não somos inferiores nem superiores a ninguém. A verdadeira auto-estima e a autêntica humildade surgem dessa compreensão. Aos olhos do ego, a auto-estima e a humildade são contraditórias. Na verdade, elas são uma só coisa e a mesma.