sábado, 8 de janeiro de 2011

Joana Newson

 

Concertos em janeiro: Joanna Newsom, Deolinda e Tigerman em destaque -

 Joanna Newsom

Toranja - Fogo e Noite

 

 

Fogo e Noite

Toranja

Aconteceu...
E por me teres feito cego
Recordo o sabor da tua pele
E a calor de uma tela
Que pintámos sem pensar.
Ninguém perdeu,
Enquanto o ar foi cego
Despidos de passados
Talvez de lados errados
Conseguiste me encontrar.

Foi dança,
Foram corpos de aço
Entre trastes de guitarras
Que esqueceram amarras
E se amaram sem mostrar.
Foi fogo
Que nos encontrou sozinhos
Queimou a noite em volta
Presos entre chama à solta
Presos feitos para soltar...

Estava escrito
E o mundo só quis virar
A página que um dia se fez pesada

E o suor
Que escorria no ar
E o calor dos teus lábios
Inocentes mas sábios...
No segredo do luar.
Não vai acabar
Vamos ser sempre paixão
Vamos ter sempre o olhar
Onde não há ninguém
Dei-te mais...! valeu a pena voar...

Estava escrito...
E a noite veio acordar
A guerra dos sentidos travada no céu

Nem por um segundo largo a mão
Da perfeição do teu desenho
E do teu gesto no meu...
Foi como um sopro estranho...
...aconteceu...

Eras noite em mim,
És fogo em mim.
Eras noite em mim.

Paulo Gonzo

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sara Tavares Homenagem ao Crioulo

 

Da amiga LANA

Sei que o cérebro o coração e o ventre
são uma só forma. O mesmo ponto claro
no alcatrão profundo da abóbada.
Que o cérebro murmura
como o estorninho que devora a verdura
que se estende diante dos olhos.
O ventre, esse, pernoita e imita-o
ao som do ritmo do coração
que digere os vegetais túrgidos
a que pude aconchegar os lábios.
Nada mais bascula no teto
onde um vapor prende os intervalos.
Costelas, harpa da noite, com um som
de osso cristalino em que não toco
senão quando o cadáver se desenvolver
deste corpo ornamentado por flores frescas.
Assim um tronco esvaziado
pelo formigueiro por vezes confunde-se
com o meu cérebro, o coração e o ventre.
O luar eterniza-se como fundo
deste pensamento acerca das formas.
É uma pequena cabeça de formiga,
tão negra que a agradeço aos mestres clássicos
pelo negrume descrito nas cosmogonias.


Fiama Hasse Pais Brandão

Sara Tavares Homenagem ao Crioulo

 

A´capella - Coimbra

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Continuam a "chover" pássaros

Continuam a "chover" pássaros

Depois do Arkansas, no dia 1, foi a vez do estado do Lousiana se deparar com "chuva" de aves mortas. No total, centenas de pássaros morreram. VEJA A FOTO

PASSAROS MORTOS

No primeiro caso, a culpa terá sido o fogo de artifício, enquanto as linhas de alta tensão serão responsáveis pelo segundo.

Um veterinário do estado do Louisiana, citado pela Associated Press, mostra-se convencido que tudo não passará de uma triste coincidência.

Os números do Serviço Geológico dos EUA suportam essa teoria, uma vez que contabilizaram, entre Junho e Dezembro, 90 casos de mortes massivas de pássaros e outros animais. Em cinco desss casos, morreram pelo menos mil aves.

Poesia diversa

As Pessoas Sensíveis (Sophia de Mello Breyner Andresen)
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.


Prece ao Mar (Else Sant’Anna Brum)
Se tu pudesses, mar, se tu pudesses
Levar-me contigo para onde vais,
Sem em tuas ondas me quisesses,
Eu iria pra não voltar jamais!
Penso que além de ti, na solidão,
Haverá refrigério para a alma,
E este meu triste e pobre coração
Terá um pouco de alegria e calma.
Porque talvez, além de ti, ó mar,
Não exista ninguém aqui da terra
Nem possibilidade de amar.
Leva-me, é o que te peço em minhas preces
Pois uma triste história a minha vida encerra.
Levar-me, ó mar amigo, se pudesses!


Lágrimas de Areia (Agamenon Troyan)
Lá estava ela, triste e taciturna
Testemunha de efêmeros conflitos
Com um olhar perdido no tempo,
Não exigia nada em troca
A não ser um pouco de atenção.
Sentia-se solitária; oca.
Os homens admiravam-na
Pelos seus contornos
As crianças, em sua eterna plenitude,
Admiravam-na muito mais além...
... Mais humana!
Dessa profunda melancolia
Lágrimas surgiram.
Elas não molhavam o seu rosto
Mas secavam o seu coração,
O poço da sua alma,
Aumentando cada vez mais
A sua sede.
E lá ela permaneceu; estática, paralisada!
Esperando que o vento do norte a levasse
Para bem longe dali...
O dia começou a desfalecer
Seu coração, outrora seco e vazio,
Agora pulsava em desenfreada arritmia.
Desespero!
A maré estava subindo...
Em breve voltaria a ser o que era:
Um simples grão de areia.
Quiçá um dia levado pelo vento,
Quiçá um dia!
Em um porto seguro.

Eugénia Melo e Castro