quinta-feira, 5 de julho de 2012

Moleskine

Moleskine, o cativeiro de palavras

 

Sobre quando um Moleskine provoca os instintos mais perversos naqueles que cultivam uma obsessão pela palavra.

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Costumo sequestrar palavras que não consigo conquistar em prosa. Sim, sou réu confesso. Com receio de deixá-las no vácuo entre o escrito e o cogitado, faço de meu Moleskine o cativeiro do meu não-verso, do meu não-texto. E as escrevo.

Insinuação. Guilhotina. Longevo. Instigante. Gozo.

Olho, leio, saboreio cada sílaba com tara perversa e creio que, por vezes, as palavras tremem no papel. Desfilam nas linhas dos livros, revistas e jornais em posições provocativas que me forçam a repeti-las bem baixinho. Sussurro na nuca de seu ditongo. Reproduzo um som no espaço de um hiato na esperança de que a palavra me responda do alto de sua apatia, mas nada ouço. Pronuncio não apenas a palavra, mas seu nome, nua de qualquer contexto, desamparada de sentido. E as guardo.

Cintilar. Indolência. Murmúrio. Empáfia. Lassidão.

Não há preferência, classificação de significados ou reputação etimológica. Sinto apenas atração genuína pela reação provocada na pronúncia. A língua que bate no céu da boca, uma palavra que sibila de maneira envolvente, a proparoxítona que exige um esforço sensual. E as escondo.

E assim mantenho as palavras resguardadas em meu Moleskine, forçosamente recatadas pelo meu egoísmo, sufocadas em folhas brancas, ignoradas por olhos que não sejam os meus. Vez que outra, ouço-as murmurarem. E volto para meu harém manuscrito.

Império russo

fotografias de um passado distante - império russo

 

Há 100 anos, um mundo cinza colide com o antigo Império Russo retratado em cores. Por meio de suas fotografias, um homem abre janelas coloridas para um passado distante.

russia imperio fotografia
Girl with strawberries. Russian Empire

Quando penso no passado, penso em cinza. Talvez o faça parecer mais genuíno, partindo do pressuposto de que o passado é retratado sempre em preto e branco, seja nos livros de história, em nossa memória ou em fotos dos velhos álbuns empoeirados dos nossos avôs.

Porém, um homem – extremamente artístico – obteve sucesso ao retratar o antigo Império Russo, há 100 anos, em fotografias coloridas. As fotos foram feitas antes da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa, ou seja, uma época em que os estudos para a fotografia colorida ainda estavam em andamento, com algumas tentativas não muito bem sucedidas. Esse homem foi o russo Sergei Mikhailovich Prokudin-Gorskii.

Sua técnica não era tão complexa quanto seu nome, porém inovadora para a época. Ele tirava três fotos – preto e branco – da mesma cena e em seqüência, mas com um filtro vermelho, outro azul e outro verde na frente da lente. Por meio de lâminas com três lâmpadas com cores idênticas às dos filtros, conseguia o efeito de uma composição colorida.

Apesar de cumprir seu objetivo, a técnica não era tão eficaz. Um dos problemas encontrados pelo fotógrafo era a necessidade de que toda a cena fosse completamente estática, ou a foto passaria a ter borrões, como podemos verificar em alguns resultados.

Suas fotografias foram tiradas entre os anos de 1907 e 1915 quando Sergei viajou sua terra natal para realizar um documentário fotográfico, aproveitando-se dos avanços tecnológicos na área. Seu projeto era retratar o antigo Império Russo – seus lugares e personagens. Ele não somente foi autorizado pelo Tsar Nicholas II, como recebeu todo o apoio necessário para a realização de seu trabalho. Sergei ganhou um carro devidamente equipado com o qual percorreria o país em suas viagens históricas.

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Sixty-six years of service. Supervisor of Chernigov floodgate. Russian Empire

Nascido em 1863, em Muron, território hoje conhecido como Vladimir Oblast, o fotógrafo veio de uma família nobre, com um extenso histórico militar. Mais tarde foi para São Petersburgo e matriculou-se no Instituto de Tecnologia para estudar química.
Dedicou toda a sua vida em prol dos avanços da fotografia. Além de seu trabalho como fotógrafo e pesquisador, também deu aulas sobre sua “projeção óptica colorida”, dando vazão ao seu conhecimento para educar crianças acerca do grande Império Russo.

Mas Sergei consegue mais do que um projeto fotográfico, com uma interessante técnica a favor da fotografia colorida – a qual vingaria somente na década de 30. Ele consegue carregar nos ombros o privilégio de ter sido o único a retratar igrejas e mosteiros que foram destruídos na Revolução Russa, além de fotografar a vida dos trabalhadores das fábricas e do campo. Suas imagens exclusivas, de uma Rússia pré-Revolução, foram compradas pela Biblioteca do Congresso em 1948, a partir dos seus herdeiros.

Seu acervo conserva um passado diferente daqueles que estamos habituados a ver. O passado de Sergei tem mais vida. Ele deu cores a momentos, pessoas e lugares que veríamos somente em cinza.
O que há de mais belo em seu trabalho é a imperfeição. Algumas fotografias chamam a atenção por serem “sejas”, dando um certo desconforto visual. É a técnica em seu momento mais cru. Uma fotografia que conserva suas cores com uma visível luta.
Ao contemplarmos um trabalho de tamanha competência, mesmo com tantas dificuldades para ser executado, é possível sentir gratidão pela inusitada e interessantíssima experiência visual. Pelo impacto de poder observar um passado tão distante em cores.

A impressão que tenho sobre Sergei não é de um homem que fez tudo o que fez pura e simplesmente por amor à arte de fotografar. Tenho comigo que Sergei fez tudo o que fez por amor à história de uma terra que ele amava. E, ansiosamente, queria retratá-la da maneira mais fiel que conseguisse. E conseguiu. Deu à história outros olhares. Deu ao seu país uma outra visão de uma época perdida. Deu ao futuro um passado, colorido.

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View of Novaia Ladoga. Russian Empire

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Ostrechiny. Study. Russian Empire

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Crew of the steamship "Sheksna" of the M.P.S. [Ministry of Communication and Transportation]. Russian Empire

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Assumption of the Mother of God Church in Deviatiny (200 years old). Russian Empire

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Peasant girls. Russian Empire

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Head study

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Group of railroad construction participants. Russian Empire

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Ufa. Mezhgore. Russian Empire

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Sukhumi. General view of city and bay from Cherniavskii Mountain. Russian Empire

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Mullahs in mosque. Aziziia. Batum. Russian Empire

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Emir of Bukhara. Bukhara. Russian Empire

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Isfandiyar, Khan of the Russian protectorate of Khorezm(Khiva), full-length portrait, seated outdoors. Russian Empire

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Western part of Tiflis. Russian Empire

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Mozhaisk Nikolaevskii Cathedral. A side view. Russian Empire

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Osho’s Rolls Royces

Osho’s Rolls Royces

Why do you like your Rolls Royces so much?

I have tried all kinds of cars; and even Rolls Royce has many types and I have tried them too. Their best is the Corniche, but it doesn't suit me. It is a question of my back. I need a certain kind of chair—I use only this chair. It has been made by my sannyasins exactly to give support to my back, because doctors have said that they cannot do anything more.

Experts from England were called to India. They tried hard, and they said, "It is impossible. You will have to live with it." It was just a coincidence that one of the models of Rolls Royce, Silver Spur, suited me. The driver's seat in that car fits perfectly, gives me no trouble. Naturally, my people love….

They don't belong to me, those cars—nothing belongs to me. I am the poorest man in the whole world, living the richest life possible. My people love me; they want to do something for me. All those cars belong to the commune. They have made them available to me for one hour each day. I don't know which car they are bringing, but one thing is certain, that I can be comfortable only in a Silver Spur. And they love me so much that they are trying to have three hundred and sixty-five Rolls Royces, one for every day. And I say, "Why not? A great idea!"…

They have arranged ninety Rolls Royces, and I know they will be able to manage three hundred and sixty-five. last210

People are very much interested in your Rolls Royces. What do You want to prove with this, so many cars and so much luxury around You?

Why are people concerned? Then certainly they need it; then more Rolls Royces will be here. Until they stop asking me, more and more Rolls Royces are going to be here. Now it has to be seen that it is a challenge: the day nobody asks me about Rolls Royces, they will not be coming.

People's interest in Rolls Royces shows their mind. They are not interested what is happening here. They don't ask about meditation, they don't ask about sannyas, they don't ask about people's life, love, the laughter that happens in this desert. They only ask about Rolls Royces. That means I have touched some painful nerve. And I will go on pressing it till they stop asking.

I am not a worshipper of poverty. That's what those Rolls Royces prove. I respect wealth. Nobody before me had the guts to say it. The pope cannot say that he respects wealth, although he is the wealthiest man on the earth.

I am not a hypocrite. I am the poorest man on the earth. I don't have a single cent with me. But I want to show these people what attracts their mind. If there were no Rolls Royces here, perhaps there would be nothing for the whole world ask about me, about you, about meditation, about initiation into sannyas, about love, about anything. It is for those idiots that I am keeping all those Rolls Royces, because they cannot move their eyes away from those Rolls Royces. And meanwhile I will go on pouring other things in their minds. Without those Rolls Royces they would not have asked a single question.

Those Rolls Royces are doing their work. Every idiot around the world is interested in them. And I want them to be somehow interested—in anything in Rajneeshpuram. Then we will manage about other things.

So tell those people—when anybody asks, tell them that "These Rolls Royces are for you idiots. Otherwise you are not interested in anything." Once they stop asking about Rolls Royces, then I will have to think of something else, whether to have rockets which are going to the moon…. I will have to think of something else. last403

I received a letter from a bishop of Wasco County, who had been for almost five years condemning my Rolls Royces. In every Sunday sermon he was not preaching Jesus Christ, he was preaching me and my Rolls Royces. The day I was leaving he wrote a letter to me, "Now you are leaving, it will be great kindness on your part if you can donate one Rolls Royce to this church." Now, this shows the man….

I informed him, "Would you like all ninety-three, or only one?"

And a letter came, "If you can give all ninety-three, that is just the right thing. You are really great. I'm very sorry that I condemned you for five years. You are a man to be worshiped."

It is a very strange world if you understand people: whatever they are saying shows more about them than it shows about the person they are talking about. pilgr12

Just the other day Anando was showing me one book published against me in Australia by a couple who have been sannyasins for three years and have been in the commune. But just looking at their ideas, it seems they have never seen me. They are saying that they were working, working hard, and with their work I was purchasing Rolls Royces. You can see the absurdity: their work was not bringing any money. Their work was making their own houses to live in, the roads—which were needing money, not producing money. But in their mind—and for all those three years also—they must have been resentful.

Those Rolls Royces were not produced by the commune. They were presents from outside, from all over the world. And I was not their owner—I had given them to the commune. They were commune property, and I have not brought any of them with me; I have left them with the commune. Everything that I had has been left with the commune. I never owned anything. But there must have been the idea that they are earning money, and I am wasting money. That is their resentment.

What money were you earning? In fact you needed money to make houses, to make roads, to make a dam—a dam needed two and a half million dollars to make. You were contributing your labor, but we were not creating money out of it so that I could purchase Rolls Royces, so that I could purchase anything. I have not purchased anything from the money produced by the commune because the commune never produced any money. The commune was absorbing money.

In fact all my royalties, all my books, all their profits were going to the commune. The situation is just the opposite—that I had given everything to the commune. Now, four hundred books in different languages were bringing millions of dollars in royalties, and those royalties were going to the commune.

If I had wanted to purchase Roll Royces, I could have purchased my own Rolls Royces, as many as I wanted, just out of my royalties.

But the resentment, the anger, is blind. In the commune we invested two hundred million dollars. Those sannyasins perhaps think they had brought two hundred million dollars there! Without me and the people who love me around the world, those two hundred million dollars would not have been possible. psycho24