sábado, 27 de fevereiro de 2010







Os Poetas

Nunca os vistes
Sentados nos cafés que há na cidade,
Um livro aberto sobre a mesa e tristes,
Incógnitos, sem oiro e sem idade?

Com magros dedos, coroando a fronte,
Sugerem o nostálgico sentido
De quem rasgasse um pouco de horizonte
Proibido...

Fingem de reis da Terra e do Oceano
(E filhos são legítimos do vício!)
Tudo o que neles nos pareça humano
É fogo de artifício.

Por vezes, fecham-lhes as portas
— Ódio que a nada se resume —
Voltam, depois, a horas mortas,
Sem um queixume.

E mostram sempre novos laivos
De poesia em seu olhar...

Adolescentes! Afastai-vos
Quando algum deles vos fitar!

Pedro Homem de Mello, in "O Rapaz da Camisola Verde"
TEARS IN THE RAIN


Fonte

Meu amor diz-me o teu nome
— Nome que desaprendi...
Diz-me apenas o teu nome.
Nada mais quero de ti.
Diz-me apenas se em teus olhos
Minhas lágrimas não vi,
Se era noite nos teus olhos,
Só por que passei por ti!
Depois, calaram-se os versos
— Versos que desaprendi...
E nasceram outros versos
Que me afastaram de ti.
Meu amor, diz-me o teu nome.
Alumia o meu ouvido.
Diz-me apenas o teu nome,
Antes que eu rasgue estes versos,
Como quem rasga um vestido!

Pedro Homem de Mello, in "Grande, Grande Era a Cidade..."

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010








AMOR, FELICIDADE

Infeliz de quem passa no mundo,
procurando no amor felicidade:
a mais linda ilusão dura um segundo,
e dura a vida inteira uma saudade.

Taça repleta, o amor, no mais profundo
íntimo, esconde a jóia da verdade:
só depois de vazia mostra o fundo,
só depois de embriagar a mocidade...

Ah! quanto namorado descontente,
escutando a palavra confidente
que o coração murmura e a voz diz

percebe que, afinal, por seu pecado,
tanto lhe falta para ser amado,
quanto lhe basta para ser feliz!

(Guilherme de Almeida)


Auber Fioravante Júnior

Simples como a palavra
És tu no raio de sol,
No véu que cai em cascata,
Sublimando teu âmago nas aquarelas,
Fada de todas as quimeras!

Nostálgica como a música
São teus cabelos sussurrando ao vento
A essência do poema também escrito
No revoar da passarada
Esculpindo tua silhueta no céu!

Prosaico como o sentimento
És tu na luz do luar,
Na seda te fazendo escultura,
Traduzindo teu sonho em mosaicos,
Musa de todas as pinturas!

Divino como o amor
São teus olhares desejando o insano,
A seiva da poesia também declamada
Pela chuva em ribaltas épicas
Ensejando tua paixão!


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Como Te Tens Lembrado Hoje de Mim?

Nós, pobres mulheres, apesar do nosso imenso e frágil orgulho, não somos, afinal, mais do que argila que as mãos deles moldam a seu belo capricho. Feliz da argila que, no seu caminho, encontra, como eu, o estatuário que a vai moldando a acariciá-la! Gosto tanto de ti que me não revolto, eu, a eterna revoltada, aquela que teve sempre por coração um oceano imenso a que ninguém jamais descobrira o fundo. Como te tens lembrado hoje de mim? Com saudades? Com desejos de me beijar? Com tristeza? Como? Gostava tanto, tanto de saber a cor dos teus pensamentos quando são meus! Queria que eles fossem roxos, como os lilases, ou cor-de-rosa como os beijos que eu te dou. Tenho saudades, saudades, saudades. Reparei agora para uma coisa: é curioso como eu não sou capaz de vestir um vestido alegre quando tu não vens. Já segunda-feira vesti o vestido preto e hoje sem pensar fui vesti-lo outra vez. E é verdade que eu ando de luto, de luto por uns beijos que trago e que se não dão e que morrem de frio longe da tua boca; queres luto mais triste? Meu amigo, tu és muito mau que me não quiseste hoje ao pé de ti.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"
Quero Levar-Te Àquela Ilha
Onde Serás Amado,
Onde Serás Aceito
Do Jeito Que És...
Onde Podes Tirar a Máscara
E Deixar Esplandecer
Teu Rosto...
Onde Minha Ternura
Não Se Espantará
Com Teu Gão de Loucura...
Onde Minha Paixão Não Diminuirá
Com Tua Parcela de Medos..
Onde Podes Ser o Que És,
Naturalmente, e Mesmo Assim
Farei de Ti Um Rei!

Lya Luft
.Há certas almas
como as borboletas
cuja fragilidade de asas
não resiste ao mais leve contato
que deixam ficar pedaços
pelos dedos que as tocam.

Em seu vôo de ideal,
deslumbram olhos,
atraem as vistas:
perseguem-nas,
alcançam-nas,
detem-nas,
mas, quase sempre,
por saciedade
ou piedade,
libertam-nas outra vez.

Ela, porém, não voam como dantes
ficam vazias de si mesmas
cheias de desalento...

Almas e borboletas,
não fosse a tentação das cousas rasas
- o amor de néctar
- o néctar do amor,
e pairaríamos nos cimos
seduzindo do alto,
admirando de longe!...

(Gilka Machado)



Sonhos (Wenceslau da Cunha)
Sonhos. Afinal, o que é sonho?
Sonhar seria querer o impossível?
Sonho é querer? Que loucura!
Acho que sonho pode ser um...
Um, não; dois gritos da alma
E a alma grita? Que bobagem...
Imaginação, quero passagem
Preciso definir o que é sonho!
Se sonhar é lançar-se no espaço,
Sonho é mergulhar no infinito
Mergulhar no infinito? Que miragem...
Sonhar é a vontade de ver de novo
Não! Isso é definição de saudade
Está muito difícil, que crueldade!
Sonho seria o mesmo que devaneio?...
Se é, para que tanto rodeio!
Não sou poeta, para que tanta quimera!
Já sei, sonho é ter amizade sincera
É ter um grande amor nos braços
É esquecer todos os fracassos
É dar e receber beijos de ternura
É fazer do amor uma doce loucura
É nutrir sentimento bem definido
É sentir um amor não dividido
É sentir grande paixão no peito
É isso mesmo, falo do meu jeito
Nada de palavras da poesia cadente
É assim que eu sonho o meu sonho
Ah! sonho, você mata a gente!

Lembranças (Rafael Simões Frieling)

Que eu conheça a tristeza
pois só assim saberei quando encontrar
a verdadeira felicidade
Que a mentira seja usada contra mim
para que possa guardar para sempre
o valor da palavra "verdade"
Que eu ouça sua voz ao menos uma última vez
pois ela será como música
companheira de minhas noites em claro, sofrendo a infelicidade
Que sinta seu cheiro novamente
para me embriagar em lembranças felizes
recordar de quando éramos únicos, singularidade
Que possa tocá-la novamente
sentir sua pele, seu calor
e mais uma vez me acalmar com carinho e tranqüilidade
Que possa provar ao menos um último beijo
aquecer meu coração agora solitário
e guardar em minha alma o gosto do amor, pela eternidade



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TE SINTO

Disposto a tudo, apenas a nós,
Desejo-te mais que tudo
Estou aqui: faz-me tua!
Meu amor a tua espera
Sente minha pele...
A espera de tocar os lábios seus
Quente humido como imagino,
Morder a tua língua, devorar seus beijos
Sentir o palpitar dos nossos corpos nu
Deslizar por ti abaixo, incendiar o prazer
Sentir todo seu ser.
Comer e beber do teu corpo,
Saciar a tua fome, a tua sede
Sussurrar em seu ouvido.
Palavras de loucura e amor
Além das carícias...
De ser a poetisa e podendo dizer
As secretas e encantadas
Formas de amar você.

Adriana Leal

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010


Começa a Haver

Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...
Vai tudo dormir...
Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! —
Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...
Vai tudo dormir...
Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.

Alvaro de Campos

Mar de menina

Havia um mar,
e ali brotava uma ilha
povoada de lobos e de pensamentos.
Havia um fundo escuro e belo
onde os naúfragos dançavam
como sereias.
Havia ansiedade e abraço.
Havia âncora e vaguidão.


Brinquei com peixes e anjos,
fui menina e fui rainha,
acompanhada e largada,
sempre a meia altura
do chão.

A vida um barco, remos ou ventos,
tudo real e tudo
ilusão.

Lya Luft

Sylvia Plath







A Lua e o Teixo

Esta é a luz do espírito, fria e planetária.
As árvores do espírito são negras. A luz é azul.
As ervas descarregam o seu pesar a meus pés como se
eu fosse Deus,
picando-me os tornozelos e sussurrando a sua humildade.
Destiladas e fumegantes neblinas povoam este lugar
que uma fila de lápides separa da minha casa.
Só não vejo para onde ir.

A lua não é uma saída. É um rosto de pleno direito,
branco como o nó dos nossos dedos e terrivelmente
perturbado.
Arrasta o mar atrás de si como um negro crime; está mudo
com os lábios em O devido a um total desespero. Vivo
aqui.
Por duas vezes, ao domingo, os sinos perturbam o céu:
oito línguas enormes confirmando a Ressurreição.
Por fim, fazem soar os seus nomes solenemente.

O teixo aponta para o alto. Tem uma forma gótica.
Os olhos seguem-no e encontram a lua.
A lua é minha mãe. Não é tão doce como Maria.
As suas vestes azuis soltam pequenos morcegos e mochos.
Como gostaria de acreditar na ternura...
O rosto da efígie, suavizado pelas velas,
é, em particular, para mim que desvia os olhos ternos.

Caí de muito longe. As nuvens florescem,
azuis e místicas sobre o rosto das estrelas.
No interior da igreja, os santos serão todos azuis,
pairando com os seus pés frágeis sobre os bancos frios,
as mãos e os rostos rígidos de santidade.
A lua nada disto vê. É calva e selvagem.
E a mensagem do teixo é negra: negra e silenciosa.



Sylvia Plath

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010



“Se Tu fosses humano,
As minhas mãos
Viveriam tecendo
Carinhos e sedas,
Para te darem trajes prodigiosos
De lenda...
Se Tu fosses humano,
Os meus olhos andariam acesos,
Noite e dia,
E tão postos em Ti
Que brilharias todo,
Como quem se houvera coroado
Com o sol...
Se Tu fosses humano,
A minha boca seria
Fruto para a tua sede,
Música de amor para o teu sono,
Festa da Consolação
Para a tua tristeza...
Se Tu fosses humano,
Eu seria o teu brinquedo
De criança,
As tuas armas
De guerreiro,
A flauta em que a tua velhice
Louvasse o próximo cerimonial
Da Morte...
Se Tu fosses humano,
Ó Eleito,
Eu seria tudo, na tua vida...
Mas eu não sou nada...
Eu não sou nada mais
Que esta ansiedade impossível de ser..

Cecília Meireles

"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam."

-- Jack Kerouac

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Lágrimas de Areia (Agamenon Troyan)

Lá estava ela, triste e taciturna
Testemunha de efêmeros conflitos
Com um olhar perdido no tempo,
Não exigia nada em troca
A não ser um pouco de atenção.
Sentia-se solitária; oca.
Os homens admiravam-na
Pelos seus contornos
As crianças, em sua eterna plenitude,
Admiravam-na muito mais além...
... Mais humana!
Dessa profunda melancolia
Lágrimas surgiram.
Elas não molhavam o seu rosto
Mas secavam o seu coração,
O poço da sua alma,
Aumentando cada vez mais
A sua sede.
E lá ela permaneceu; estática, paralisada!
Esperando que o vento do norte a levasse
Para bem longe dali...
O dia começou a desfalecer
Seu coração, outrora seco e vazio,
Agora pulsava em desenfreada arritmia.
Desespero!
A maré estava subindo...
Em breve voltaria a ser o que era:
Um simples grão de areia.
Quiçá um dia levado pelo vento,
Quiçá um dia!
Em um porto seguro.

domingo, 21 de fevereiro de 2010






I'm sorry.
Why should I say I'm sorry?
If I hurt you,
You know you've hurt me too.

But you get lost inside your tears,
And there is nothing I can do,
'Cause I get lost inside my fear
That I am nothing without you.

You're angry.
Why shouldn't you be angry?
With what we've been through,
Well I get angry too.

Chorus

'Cause I am nothing without you.

Why should we have taken so long
To be looking inside of our mind?
Everything we tried went wrong.
Are we worried 'bout what we might find?

I'm sorry,
But can I say I'm sorry?
If I hurt you,
You know it hurts me too.

Chorus

And you get lost inside your tears,
And there is nothing we can do,
'Cause I get lost inside my fear
That I am nothing without you.

'Cause I am nothing without you.
And I am nothing without you.
'Cause I am nothing without you.
'Cause I am nothing without you.... I'm sorry.
Why should I say I'm sorry?
If I hurt you,
You know you've hurt me too.

But you get lost inside your tears,
And there is nothing I can do,
'Cause I get lost inside my fear
That I am nothing without you.

You're angry.
Why shouldn't you be angry?
With what we've been through,
Well I get angry too.

Chorus

'Cause I am nothing without you.

Why should we have taken so long
To be looking inside of our mind?
Everything we tried went wrong.
Are we worried 'bout what we might find?

I'm sorry,
But can I say I'm sorry?
If I hurt you,
You know it hurts me too.

Chorus

And you get lost inside your tears,
And there is nothing we can do,
'Cause I get lost inside my fear
That I am nothing without you.

'Cause I am nothing without you.
And I am nothing without you.
'Cause I am nothing without you.
'Cause I am nothing without you.
................................
I´m sorry.
Por que eu devo dizer que estou arrependido?
Se eu te machucar,
Você sabe que me machucou muito.

Mas você se perdeu dentro de suas lágrimas,
E há nada que eu possa fazer,
Porque eu me perdi dentro do meu medo
Que eu não sou nada sem você.

Você está com raiva.
Porque você não deveria estar com raiva?
Com o que nós passamos,
Eu estou bravo também.

Chorus

Porque eu não sou nada sem você.

Por que deveríamos ter levado tanto tempo
Para estar a olhar para dentro de nossa mente?
Tudo que nós tentamos deu errado.
Estamos preocupados com oque poderemos achar?

I'm sorry,
Mas posso dizer que estou arrependido?
Se eu te machucar,
Você sabe que me machuca muito.

Chorus

E você se perdeu dentro de suas lágrimas,
E não há nada que podemos fazer,
Porque eu me perdi dentro do meu medo
Que eu não sou nada sem você.

Porque eu não sou nada sem você.
E eu não sou nada sem você.
Porque eu não sou nada sem você.
Porque eu não sou nada sem você .... I'm sorry.
Por que eu devo dizer que estou arrependido?
Se eu te machucar,
Você sabe que me machucou muito.

Mas você se perdeu dentro de suas lágrimas,
E há nada que eu possa fazer,
Porque eu me perdi dentro do meu medo
Que eu não sou nada sem você.

Você está com raiva.
Porque você não deveria estar com raiva?
Com o que nós passamos,
Eu estou bravo também.

Chorus

Porque eu não sou nada sem você.

Por que deveríamos ter levado tanto tempo
Para estar a olhar para dentro de nossa mente?
Tudo que nós tentamos deu errado.
Estamos preocupados com oque poderemos achar?

I'm sorry,
Mas posso dizer que estou arrependido?
Se eu te machucar,
Você sabe que me machuca muito.

Chorus

E você se perdeu dentro de suas lágrimas,
E não há nada que podemos fazer,
Porque eu me perdi dentro do meu medo
Que eu não sou nada sem você.

Porque eu não sou nada sem você.
E eu não sou nada sem você.
Porque eu não sou nada sem você.
Porque eu não sou nada sem você.



O Homem que Contempla

Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.

E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.

Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anónimos.

Triunfamos sobre o que é Pequeno
e o próprio êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno nem o Extraordinário
serão derrotados por nós.
Este é o anjo que aparecia
aos lutadores do Antigo Testamento:
quando os nervos dos seus adversários
na luta ficavam tensos e como metal,
sentia-os ele debaixo dos seus dedos
como cordas tocando profundas melodias.

Aquele que venceu este anjo
que tantas vezes renunciou à luta.
esse caminha erecto, justificado,
e sai grande daquela dura mão
que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos já não o tentam.
O seu crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo cada vez maior.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"







Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora
Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama
Quando me encara e desata os cabelos
Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual

Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente
O que mente para mim
Serei eu meramente
Mais um personagem efémero
Da sua trama
Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão
Me clama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz

Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito
Cantar outra vez
Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração
E quando o meu coração
Se inflama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim