sábado, 17 de abril de 2010

SONETO XLIX-
É hoje: todo o ontem foi caindo
entre os dedos e os olhos de sono leve,
amanhã chegará com passos verdes:
Ninguém pára o rio da aurora.

Ninguém pára o rio de suas mãos,
os olhos de seu sonho, meu amor,
tremor é o tempo de atraso
entre a luz vertical e sol sombrio,

eo céu abre as asas sobre você
levá-lo e trazê-lo em meus braços
com cortesia, oportuna misterioso

Então eu canto um dia e da lua
o mar, o tempo, todos os planetas,
sua voz para o seu dia a pele e noite.
Pablo Neruda


sexta-feira, 16 de abril de 2010



Se eu morrer longe, em face da guerra ...

Se eu morrer longe da frente de guerra
Você chora um dia oh meu grande amor Lou
e, em seguida, minha memória vai na terra
Como um escudo explodiu na frente
Beautiful shell como a mimosa em flor

Mais tarde, esta memória que explodiu no ar
Sangue cobriu a terra com toda a minha inteira
O vale do mar e do sol passa para a próxima
A partir da primavera de frutos de ouro Baratier

Presença em todos os seres vivos esquerda e
Acendo a cor rosada de seus seios
Vou luz seus lábios e seu cabelo queima
Você não fica velho e todos os actuais
Ganhou uma nova vida sobre o destino incluiu

A inevitabilidade da minha fuga de sangue em todo o mundo
Dê um brilho mais vivo morrendo dom.
Será que a flor vermelha e fazer o mais profundo do mar
Um amor sem precedentes descer para o mundo
E vai ter mais poder em seu corpo, seu amante

Se a memória não morra lá esquecer
Lou lembra o mais puro êxtase de sua vida
"Em seus dias de chamas e apaixonado amor
Meu sangue é a fonte do futuro
E o mais bonito de ser mais feliz que você sabe
Oh meu amor, oh meu oh meu absoluta loucura só!
Guillaume Apollinaire



Oh portas do seu corpo ...

Oh portas do seu corpo
São nove e eu abri-as todas
Oh portas do seu corpo
Há nove anos e eu transformei-me
No primeiro portão
A razão é morte Clara
Ele estava lembra-se? o primeiro dia em Nice
Seu olho esquerdo, bem como uma cobra desliza
Mesmo no meu coração
E um retorno para reabrir a porta para o olho esquerdo

Na segunda porta
Minha força está morta
Ele estava lembra-se? em um abrigo em Cagnes
Seu olho direito que meu coração batia
Suas pálpebras ritmados na brisa como flores
E um retorno para reabrir a porta para o seu olhar direito

No terceiro portão
Ouça batendo a porta
E todas as minhas artérias inchadas de seu único amor
E um retorno para reabrir as portas para sua orelha esquerda

Na porta do quarto
Toda primavera, escolta
E ouviu a bela floresta é linda
Toda essa canção de amor e ninho
Tão triste para os soldados na guerra
E um retorno para reabrir as portas para sua orelha direita

No quinto portão
É minha vida que eu trago
Ele estava lembra-se? no trem voltando de Grasse
E na sombra suavemente fechada
Sua boca me disse
As palavras de condenação tão perverso e tão termo
Peço minha alma ferida
Como eu poderia ouvir sem morrer
Oh palavra tão doce tão forte que, quando eu penso no toque
E reabre a porta de sua boca

No sexto portão
Sua gravidez é de putrefação abortar
Aqui cada primavera com flores
Aqui estão as catedrais com o seu incenso
Aqui estão as suas axilas com seu cheiro divino
E eu cheiro seu cartas perfumadas
Durante horas
E que novamente reabrir a porta do lado esquerdo do seu nariz

No sétimo portão
Oh perfumes do passado que o fluxo de ar leva
As chamas deu o seu sabor salgado dos lábios do mar
Cheiro cheiro do mar do amor sob nossas janelas estava morrendo mar
E o cheiro de laranja envolvido você ama
Como já se aconchegou nos meus braços
Quieto e silencioso
E um retorno para reabrir a porta do lado direito do nariz

No oitavo portão
Dois anjos chubby tremendo tendo o cuidado de rosas
O céu requintado sua cintura elástica
E aqui estou eu, armado com um chicote feito de luar
Os amores coroado com jacinto chegar em massa.
E um retorno para reabrir as portas de sua alma

Com a nona porta
Devemos amar a si mesma
Vida da minha vida
Eu junto com você para a eternidade
E o amor perfeito e sem raiva
Chegamos a paixão pura e perversa
Como queremos
Em todo o saber ouvir todos ver todas
Eu desisti, nas profundezas secretas de seu amor
Umbrosa porta porta Oh oh corais vivos
Entre duas colunas de perfeição
E um retorno para reabrir a porta aberta mãos conhecemos tão bem
Guillaume Apollinaire:

quinta-feira, 15 de abril de 2010



Escotomas

Não sei
o que é um espírito. Ninguém
conhece a fundo a luz do seu abismo
enquanto o vento, à noite, vai abrindo
as infinitas portas de uma casa
vazia. A minha voz
procura responder a outra voz,
ao choro dos espectros que celebram
a sua missa negra, o seu eterno
sobressalto. Num ermo
da cidade magoada escuto ainda
o rumor de um oráculo,
a febre de um adeus que se prolonga
no estertor dos ponteiros de um relógio,
nesse ritmo feroz, na pulsação
do meu sangue exilado que recorda
um abrigo divino. pai nosso, que estás
entre o céu e a terra, conduz-me
ao precipício onde hibernou a alma
e ensina-me a romper a madrugada
como se a minha face fosse
um estilhaço da tua
e nela derretessem, por milagre,
estas gotas de gelo ou de crista



Fernando Pinto do Amaral

Retrato de um Amor

Iluminas
a sombra dos meus dias
neste mundo que abrimos devagar
entre o corpo e a alma, sempre mais
secretos no abismo que os devora.

Maior do que este amor nada haverá
até ao fim dos tempos: os teus olhos
respondem ao destino, à sua eterna
graça que paira sobre as nossas vidas
agora a transbordarem numa única
razão feita de luz. a tua boca
inunda a minha língua com o sabor
de todos os sentidos que mergulham
a noite numa água sem retorno.

Para ti absorvo o hálito de um verão
em cada beijo cego, surdo e mudo
respirando de súbito em uníssono:
enigma revelado num só frémito,
insónia submersa que , em silêncio,
regressa pouco a pouco aos nossos braços
afogados na espuma do seu mar.

Perto do teu sorriso há uma fonte
embriagada e pura- meu amor,
dá-me esse coração, essa primeira
raiz de todo o fogo, esse relâmpago
onde cresce para nós a flor de um grito;
segreda-me às escuras mais um sonho
antes de adormeceres sobre o meu ombro.


Fernando Pinto do Amaral

Segredo

Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
toda a espiral das horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento,
a música da chuva nas janelas
sob o frio de fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segreda-me agora uma palavra:
o teu nome - essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração.


Quando já não há nada
absolutamente nada pra dizer
e cada dia te parece apenas
uma longa e inútil sequência
de vinte e quatro horas vazias

Quando uma folha de papel
é um deserto branco já sem rosto
um firmamento sem constelação
uma página nua, uma página
muda
há dois rápidos olhos que te falam
desde sempre da terra prometida

Consegues fixá-los Não tens medo?
Vê como arde súbito o seu gelo
no fundo das pupilas
e não hesites – rouba essa vertigem
ao coração da noite
porque às vezes não há outra saída
para algumas palavras que ainda podem
ser um arco uma flecha
perto do alvo que ninguém conhece

Fernando Pinto do Amaral

quarta-feira, 14 de abril de 2010


a boémia bebida gota a gota com raiva
a boémia sorvida alegria tão breve
era então que nos ríamos do que havia de ser

uma casa cercando o bolor destes anos
o emprego roendo gota a gota levando
o que resta no fundo dessa larga memória

era então que aventura
era estar devagar nessa curva do tempo
onde a areia mais leve se perdia entre os dedos
dia a dia fugindo ansiosa e suave

era então que nos ríamos devagar sem saber
desta náusea futura que ainda havia de ser

Rui Namorado


Sei que pareço um ladrão...
Eu não tenho vistas largas
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.


Uma mosca sem valor
poisa c’o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.


Quem me vê dirá: não presta,
nem mesmo quando lhe fale,
porque ninguém traz na testa
o selo de quanto vale.


Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.


António Aleixo








terça-feira, 13 de abril de 2010



This is the day
Of the expanding man
That shape is my shade
There where I used to stand
It seems like only yesterday
I gazed through the glass
At ramblers
Wild gamblers
That's all in the past

You call me a fool
You say it's a crazy scheme
This one's for real
I already bought the dream
So useless to ask me why
Throw a kiss and say goodbye
I'll make it this time
I'm ready to cross that fine line

I'll learn to work the saxophone
I'll play just what I feel
Drink Scotch whisky all night long
And die behind the wheel
They got a name for the winners in the world
I want a name when I lose
They call Alabama the Crimson Tide
Call me Deacon Blues

My back to the wall
A victim of laughing chance
This is for me
The essence of true romance
Sharing the things we know and love
With those of my kind
Libations
Sensations
That stagger the mind

I crawl like a viper
Through these suburban streets
Make love to these women
Languid and bittersweet
I'll rise when the sun goes down
Cover every game in town
A world of my own
I'll make it my home sweet home

This is the night
Of the expanding the man
I take one last drag
As I approach the stand
I cried when I wrote this song
Sue me if I play too long
This brother is free
I'll be what I want to be

segunda-feira, 12 de abril de 2010



Pergunta

Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?

Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mãos
para a derramar em afagos
por mim?

Quem ouviu a angústia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?

Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pão negado
e o suor ao corpo torturado,
por mim? por mim?

Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

Fímbria de Melancolia

Fímbria de melancolia,
memória incerta da dor,
ouço-a no gravador,
no fado que não se ouvia
quando ouvia o seu clamor.

Porque era já no passado
o presente dessa hora
e que me ressoa agora
a um outro mais alongado.

Assim a dor que se sente
no outro obscuro de nós
nunca fala a nossa voz
mas de quem de nós ausente,
só a nós próprios consente
quando não estamos nós
mas mais sós do que ao estar sós.

Onde então estamos nós?

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

domingo, 11 de abril de 2010


Mensagem

Todo o Mundo tem um Amor
E todo o Amor tem um Mundo!
Só que o meu Amor...
Não cabe em Todo o Mundo
de tão eterno...dedilhado e tão mudo...
É um Amor sem história
Nesta História sem palavras
da civilização do concreto
que destrói a vegetação
a natureza e diversidade
para restar o deserto
a cinza,a infelicidade...
e os produtos
da reacção...
Uma sociedade que vive
de electricidade estática
gerada por fricção
andamos electrizados
negativos... negativos
e não nos apercebemos de
que só usamos um grãozinho
do nosso potencial
Ignoramos a Vida...
e enchemos as Escolas
e os palcos do Mundo
de significados
que não definem
Eternidade
Sonho e Amor...
Vivemos obcecados
por ter mais que o outro
pelo grito mais histérico
histriónico...
Quantos nichos naturais
acabam para dar lugar
a um nicho de mercado?
Uma mudança de escala
a todos surpreenderia...
e veriamos o ridículo da vida
que construimos
Vivemos confusos
de palmas em palmas
sem conhecer o profundo
significado do estalido das nossas
mãos
Confusos e sem Confúcios...
andamos
sintetizados
pelos valores do efémero
do polímero e dos dias meros...
e não sabemos sequer
Ser mais e melhor...
do que quimeras !
Porquê viver
de tão louca ilusão
que acaba no mesmo segundo
em que se dispõe começar...?
E não ser revolucionário
ser contra -corrente...
ficar em casa
em vez de ir a festas
de muita gente ?
E porque havia de falar
deste meu Amor tão mudo
e eterno...etéreo ?
porque nele está a semente
o segredo do que pode ser o futuro
que está mesmo a despontar...
Não vive de monotonia
está vivo noite e dia
alimenta-se de estrelas
do Sol,do mar e do luar...
dos sonhos de quem quer sonhar...
Tem regras bem definidas
os seus ritos e desertos
é pouco exigente ao tacto
mas há tamanha ternura
e carinho e muita Sabedoria
que é difícil explicar
Não é Narciso de certeza
Nem Sísifo...mas talvez um novo
mito que será realidade
nos séculos que irão durar
Vive de sonho e puro amor
ultrapassa barreiras de betão
condensa o Mundo num minuto
para sempre perdurar
reparem...o que é o Amor banal?
má experiência afinal
dos que se tocam sem Amar
corpos-cavernas sem ternura
não são amor
são somatório bestial...
retirar dali para colocar ali
uns montes...tão ...montes!
uma praia... tão praia!
uma multidão...tão...sem nada...
e nada mais para além do
vórtice dos dias que passam
e que sugam a carne e o sangue...
por mais que se esforçem
não criam novo elemento
De sigla A de Amor
na tabela periódica
em que Tudo é tão igual...
Nem uma nova química...
do roçar de mucosas
(com ou sem protecção)
à emissão de secreção...
Tudo é monótono e
egoísta...e oportunista
e teatral e libertinário...
afinal !
É um filme dos dias
contados...
tiranizados...
Se houvesse o dia do Titanic
seriam todos os dias do ano
porque andamos às avessas
verborreicos
com rasgões nas relação
Só com desejo de ter...
inconsciente e animal
incluindo o de mandar...dominar
que só o Chaplin velhinho e humilde
fala ao coração ...de tão mudo
e ingénuo...
afinal !
Vive-se momentos corantes
de prédios berrantes
de tinta que desenha o próprio Sol....
Mestres na arte de dizer
especialistas em conquistar e reconquistar
não em cativar e dialogar...
Bonecos e palhaços modernos
luzidios sem esperança
de coisa alguma
que se não veja...
mais obesos da ideia
de sucesso
do que o sucesso
poderia jamais pesar
de tão oco e fútilmente
fruído
Momentos...
de momentos inspirados
que para outros não passam
de momentos bem pensados
eu diria bem cunhados...
Momentos em inglês
que ninguém percebe
momentos
com sabor artificial
pois Amor não é só carnal
os olhos comem sôfregos
insanos...e não procuram
a beleza de uma estrela
de Platão o ideal
só corpos cavernosos
a inflarem, a insuflarem
no consumo que se excita
no inchaço que se vê !
Hoje subi ao meu terraço
pela milésima vez
e extasiei-me de astros
de música divinal
sim... podemos ser um Deus
do alpendre da nossa casa...
ou num cantinho essencial...
escutar o amor da Natureza
multiplicar estrelas por luar
viciar-me em ar puro
que o mar tem para dar...
Viver à oriental com dois
metros quadrados
e uma tijela de arroz
Mas ser rico de Amor
de Sonho e de espaço sideral...
Liberdade...para ser livre
uma flor
um pássaro voando cada vez mais
alto e mais longe ...um poema...
um sorriso...um gesto
viver do Sonho
e gerar um dia
no sangue iniciático
Os filhos do Sonho...