sábado, 6 de março de 2010

by Jorge Pereira(tecnica mista)




Começo a Conhecer-me. Não Existo

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa


Eu que me Aguente Comigo

Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.
Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa


Eu

Até agora eu não me conhecia,
julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
E a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

Fui Pedir um Sonho ao Jardim dos Mortos

Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos.
Quis pedi-lo, aos vivos. Disseram-me que não.
Os mortos não sabem, lá onde é que estão,
Que neles se enfeitam os meus braços tortos.

Os mortos dormiam... Passei-lhes ao lado.
Arranquei-lhes tudo, tudo quanto pude;
Páginas intactas — um livro fechado
Em cada ataúde.

Ai as pedras raras! As pedras preciosas!
Relâmpagos verdes por baixo do mar!
A sombra, o perfume dos cravos, das rosas
Que os dedos, já hirtos, teimavam guardar!

Minha alma é um cadáver pálido, desfeito.
As suas ossadas
Quem sabe onde estão?
Trago as mãos cruzadas,
Pesam-me no peito.
Quem sabe se a lama onde hoje me deito
Dará flor aos vivos que dizem que não?

Pedro Homem de Mello, in "Príncipe Perfeito"

sexta-feira, 5 de março de 2010








The moment you walked inside my door
No momento em que você entrou pela minha porta
I knew that I need not look no more,
Eu soube que eu não precisaria mais procurar
I've seen many other souls before - ah but,
Eu já vi muitas outras almas antes, mas
Heaven must've programmed you
O céu deve ter programado você

The moment you fell inside my dreams
No momento em que você entrou nos meus sonhos
I realized all I had not seen,
Eu percebi tudo aquilo que ainda não tinha visto
I've seen many other souls before - ah but,
Eu já vi muitas outras almas antes, mas
Heaven must've programmed you.
O céu deve ter programado você

Oh will you? Will you? Will you?
Você iria? Você iria? Você iria?
I go where True Love goes,
Eu vou onde está o amor verdadeiro
I go where True Love goes
Eu vou onde está o amor verdadeiro
I go where True Love goes,
Eu vou onde está o amor verdadeiro
I go where True Love goes
Eu vou onde está o amor verdadeiro

And if you walk alone and if you lose your way,
E se você estiver sozinha e perder seu caminho
Don't forget the one who gave you this today
Não se esqueça daquele que te deu isso(o amor verdadeiro) hoje

Follow True Love, follow True Love,
Siga o amor verdadeiro, siga o amor verdadeiro!
Follow True Love, follow True Love
Siga o amor verdadeiro, siga o amor verdadeiro


Oh will you? Will you? Will you?
Você iria? Você iria? Você iria?
I go where True Love goes,
Eu vou onde está o amor verdadeiro
I go where True Love goes
Eu vou onde está o amor verdadeiro
I go where True Love goes,
Eu vou onde está o amor verdadeiro
I go where True Love goes
Eu vou onde está o amor verdadeiro



And if a storm should come and if you face away,
acho que é isso: " E se vier uma tempestade e se você enfrentá-la,
That may be the chance for you to be safe
Essa pode ser, talvez, sua chance de estar salva,
And if you make it through the trouble and the pain,
E se você conseguir superar os problemas e as dores
That may be the time for you to know his name
Pode ser esse o tempo de você saber o nome

The moment you walked inside my door
No momento em que você entrou pela minha porta
I knew that I need not look no more,
Eu soube que eu não precisaria mais procurar
I've seen many other souls before - ah but,
Eu já vi muitas outras almas antes, mas
Heaven must've programmed you
O céu deve ter programado você

The moment you fell inside my dreams
No momento em que você entrou nos meus sonhos
I realized all I had not seen,
Eu percebi tudo aquilo que ainda não tinha visto
I've seen many other souls before - ah but,
Eu já vi muitas outras almas antes, mas
Heaven must've programmed you.
O céu deve ter programado você

The moment you said "I will"
No momento em que você disse que seguiria
I knew that this love was real,
Eu soube que esse amor era real
And that my faith was seen - oh
E que minha fidelidade tinha sido vista
Heaven must've programmed you
O céu deve ter programado você


The moment I looked into your eyes
No momento em que eu olhei em seus olhos
I knew that they told no lies,
Eu soube que eles não mentiam para mim
There would be no good byes - Ah
Não haveria despedida
'cause Heaven must've programmed you
Porque o céu deve ter programado você



Você iria? Você iria? Você iria?
I go where True Love goes,
Eu vou onde está o amor verdadeiro
I go where True Love goes
Eu vou onde está o amor verdadeiro
I go where True Love goes,
Eu vou onde está o amor verdadeiro
I go where True Love goes

FLORBELA ESPANCA



A Canção do Suicida

Só mais um momento.
Que voltem sempre a cortar-me
a corda.
Há pouco estava tão preparado
e havia já um pouco de eternidade
nas minhas entranhas.

Estendem-me a colher,
esta colher de vida.
Não, quero e já não quero,
deixem-me vomitar sobre mim.

Sei que a vida é boa
e que o mundo é uma taça cheia,
mas a mim não me chega ao sangue,
a mim só me sobe à cabeça.

Aos outros alimenta-os, a mim põe-me doente;
compreendei que há quem a despreze.
Durante pelo menos mil anos
preciso agora fazer dieta.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"




O Solitário

Como alguém que por mares desconhecidos viajou,
assim sou eu entre os que nunca deixaram a sua pátria;
os dias cheios estão sobre as suas mesas
mas para mim a distância é puro sonho.

Penetra profundamente no meu rosto um mundo,
tão desabitado talvez como uma lua;
mas eles não deixam um único pensamento só,
e todas as suas palavras são habitadas.

As coisas que de longe trouxe comigo
parecem muito raras, comparadas com as suas —:
na sua vasta pátria são feras,
aqui sustém a respiração, por vergonha.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"


A Canção do Idiota

Não me incomodam. Deixam-me ir.
Dizem que não pode acontecer nada.
Ainda bem.
Não pode acontecer nada. Tudo chega e gira
sempre em torno do Espírito Santo,
em torno de determinado espírito (tu sabes) —
que bem.

Não, realmente não deve pensar-se que haja
qualquer perigo nisso.
Sim, há o sangue.
O sangue é o mais pesado. O sangue é pesado.
Por vezes penso que não posso mais —
(Ainda bem.)

Ah, que linda bola;
vermelha e redonda como um Em-toda-a-parte.
Ainda bem que a criastes.
Ela vem quando se chama?

De que estranha maneira tudo se comporta,
apressa-se a juntar-se, separa-se nadando:
amigável, um pouco vago.
Ainda bem.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
Silêncio e tanta gente

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
Ou um grito
Que nasce em qualquer lugar

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um lugar onde não estou

Às vezes sou também
O tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar

Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou um grito
De um amor por acontecer

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d'aquilo que sou
Maria Ginot

quinta-feira, 4 de março de 2010







My Favourite Things (Rodgers / Hammerstein)

Raindrops on roses and whiskers on kittens
Bright copper kettles and warm woolen mittens
Brown paper packages tied up with strings
These are a few of my favorite things

Cream colored ponies and crisp apple streudels
Doorbells and sleigh bells and schnitzel with noodles
Wild geese that fly with the moon on their wings
These are a few of my favorite things

Girls in white dresses with blue satin sashes
Snowflakes that stay on my nose and eyelashes
Silver white winters that melt into springs
These are a few of my favorite things

When the dog bites
When the bee stings
When I'm feeling sad
I simply remember my favorite things
And then I don't feel so bad
...................................
Meninas de vestidos brancos com faixas de cetim azul
Neve que ficam no meu nariz e cílios
Prata e branco inverno que derrete na molas
Estas são algumas das minhas coisas favoritas

Quando o cão morde
Quando a picadas de abelha
Quando estou me sentindo triste
Eu simplesmente lembrar my favorite things
E então eu não me sinto tão mal(...)

Elegia do Ciúme

A tua morte, que me importa,
se o meu desejo não morreu?
Sonho contigo, virgem morta,
e assim consigo (mas que importa?)
possuir em sonho quem morreu.

Sonho contigo em sobressalto,
não vás fugir-me, como outrora.
E em cada encontro a que não falto
inda me turbo e sobressalto
à tua mínima demora.

Onde estiveste? Onde? Com quem?
— Acordo, lívido, em furor.
Súbito, sei: com mais ninguém,
ó meu amor!, com mais ninguém
repartirás o teu amor.

E se adormeço novamente
vou, tão feliz!, sem azedume
— agradecer-te, suavemente,
a tua morte que consente
tranquilidade ao meu ciúme.

David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"


Praia do Esquecimento

Fujo da sombra; cerro os olhos: não há nada.
A minha vida nem consente
rumor de gente
na praia desolada.

Apenas decisão de esquecimento:
mas só neste momento eu a descubro
como a um fruto rubro
de que, sem já sabê-lo, me sustento.

E do Sol amarelo que há no céu
somente sei que me queimou a pele.
Juro: nem dei por ele
quando nasceu.

David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"







Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"

Canção Amarga

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
— Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.

Agora, tu, só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.

Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
— Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!

David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"

quarta-feira, 3 de março de 2010


O Chão é Cama para o Amor Urgente

O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama.

E para repousar do amor, vamos à cama.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Amor Natural'


Eu e Tu

.
Dois! Eu e Tu, num ser indispensável! Como
Brasa e carvão, centelha e lume, oceano e areia,
Aspiram a formar um todo, — em cada assomo
A nossa aspiração mais violenta se ateia...

Cheio de ti, meu ser de eflúvios impregnou-te!

Como o lilás e a terra onde nasce e floresce,
O bosque e o vendaval desgrenhando o arvoredo,
O vinho e a sede, o vinho onde tudo se esquece,
— Nós dois, de amor enchendo a noite do degredo,

Como partes dum todo, em amplexos supremos
Fundindo os corações no ardor que nos inflama,
Para sempre um ao outro, Eu e Tu, pertencemos,
Como se eu fosse o lume e tu fosses a chama...


O Amor é o Homem Inacabado

Todas as árvores com todos os ramos com todas
[as folhas
A erva na base dos rochedos e as casas
[amontoadas
Ao longe o mar que os teus olhos banham
Estas imagens de um dia e outro dia
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A transparência dos transeuntes nas ruas do acaso
E as mulheres exaladas pelas tuas pesquisas
[obstinadas
As tuas ideias fixas no coração de chumbo nos
[lábios virgens
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A semelhança dos olhares consentidos com os
[olhares conquistados
A confusão dos corpos das fadigas dos ardores
A imitação das palavras das atitudes das ideias
Os vícios as virtudes tão imperfeitos

O amor é o homem inacabado.

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"


Retrato Ardente

Entre os teus lábios
é que a loucura acode
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio"


Está à linha de mistério e fogo
Que é a respiração do mundo,
E a respiração continua do mundo
É aquilo que ouvimos
E chamamos de silencio.
Quero desfilar na prosa,
Desabrochar no amor.
Sem prazo de morrer
Perder-me na plenitude
Voar e sentir só seu coração!
Um dia as estrelas não vão mais nos separar.
Nossas palavras não se perderam
Nem nossos lábios sentiram a saudade
Tudo terá seu fim.
Menos você e eu!
Adriana Leal

O QUE É REAL?

O realismo invade todos os gêneros
Literários: o romance
O teatro e a poesia, atingindo a alma
E a eloqüência.
Assim é a vida, buscamos palavras
Que nos envolva no amor
Passamos a representar o desejo contido,
Na tela do desconhecido,
Podendo ser quem desejamos...
E entre versos e poesias declamamos
O amor que tanto queremos.
Mas o realismo das historias sempre foi o final!
Felizes para sempre!
Nessa realidade e o irreal, o final vem sem aviso,
Muitas vezes carregado
De dor, e falsas personagens...
Assistir sobre o mesmo sonhador
Que não vê, até ignora, sempre acontece
Porque o veneno humano não demora.
Ainda sim vale apena sonhar...
Queres sonhar?
Defenda teus segredos.

Adriana Leal


O Amor é o Homem Inacabado

Todas as árvores com todos os ramos com todas
[as folhas
A erva na base dos rochedos e as casas
[amontoadas
Ao longe o mar que os teus olhos banham
Estas imagens de um dia e outro dia
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A transparência dos transeuntes nas ruas do acaso
E as mulheres exaladas pelas tuas pesquisas
[obstinadas
As tuas ideias fixas no coração de chumbo nos
[lábios virgens
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A semelhança dos olhares consentidos com os
[olhares conquistados
A confusão dos corpos das fadigas dos ardores
A imitação das palavras das atitudes das ideias
Os vícios as virtudes tão imperfeitos

O amor é o homem inacabado.

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"

O Chão é Cama para o Amor Urgente

O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama.

E para repousar do amor, vamos à cama.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Amor Natural'


Retrato Ardente

Entre os teus lábios
é que a loucura acode
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio"

terça-feira, 2 de março de 2010

Canto da Terra girando ( fragmentos)

Seja você quem for!
Movimento e reflexo tem lugar
especialmente para você,
é por você que o divino barco
singra o divino oceano

Cada homem para si e cada mulher para si
- é a palavra do passado e do presente ,
a autêntica palavra da imortalidade.
Ninguém pode ganhar por outrém - nenhum
Nenhum pode crescer por outro - ninguém

Juro que a terra será
seguramente completa
para aquele ou aquela
que for completo :
A Terra continua partida e rota
só para aquele ou aquela
que continua partido e roto

Juro que estou começando
a ver o amor com espasmos mais doces
que o que se dá em paga de amor:
é aquele que se contém,
jamais convida e jamais recusa.

Juro que vejo uma coisa melhor
que dizer o melhor:
É deixar sempre o melhor por dizer .

Walt Whitman









Nunca a aurora nos encontra onde o poente nos deixou.
Mesmo qdo a Terra dorme , nós viajamos!!
Somos a semente de uma planta tenaz e é qdo amadurecemos e atingimos nossa plenitude de coração é que o vento se apodera de nós e nos espalha!!

Khalil Gibran


A Angústia

Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com o seu eco tão rubro,
A solene dolência dos poentes, além.

Eu rio-me da Arte, do Homem, das canções,
Da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio plas catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.

Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e nem posso ouvir sequer falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.

Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.

Paul Verlaine, in "Melancolia"

Fingimento (Ivone Boechat)

Nunca fui poeta,
fingi que era para sobreviver.
Existe alguma forma mais bonita
de enganar a si mesmo,
brincar de ser profeta,
ser feliz, viver?
Errei?
Sem a menor falsidade,
tenho certeza de que nunca os enganei,
os amigos
fingiram gostar dos meus versos
por solidariedade.

CANTAR EM AMESTERDÃO




segunda-feira, 1 de março de 2010

Nada (TKM - Fogovivo)

Nada supera a razão
Nem a alma, nem o coração.
Nada supera um sentimento
nem o que vejo, nem o que invento.
Nada supera a alegria
nem a flor, nem a poesia.
Nada supera a dor
nem o riso, nem o amor.
Nada supera a saudade
nem o fogo, nem a tempestade.
Nada iguala um amigo
nem o que penso, nem o que digo.

* Vocês podem ler esse poema de 3 maneiras:
A- Exatamente como está escrito.
B- Trocando a palavra supera por iguala e vice-versa.
C- Colocando supera após cada palavra nem.

Álvaro de Campos

O Descalabro

O descalabro a ócio e estrelas...
Nada mais...
Farto...
Arre...
Todo o mistério do mundo entrou para a minha vida econômica.
Basta!...
O que eu queria ser, e nunca serei, estraga-me as ruas.
Mas então isto não acaba?
É destino?
Sim, é o meu destino
Distribuido pelos meus conseguimentos no lixo
E os meus propósitos à beira da estrada -
Os meus conseguimentos rasgados por crianças,
Os meus propósitos mijados por mendigos,
E toda a minha alma uma toalha suja que escorregou para o chão.
........................................................................................................

O horror do som do relógio à noite na sala de jantar dê uma casa de
província -
Toda a monotonia e a fatalidade do tempo...
O horror súbito do enterro que passa
E tira a máscara a todas as esperanças.
Ali...
Ali vai a conclusão.
Ali, fechado e selado,
Ali, debaixo do chumbo lacrado e com cal na cara
Vai, que pena como nós,
Vai o que sentiu como nós,
Vai o nós!
Ali, sob um pano cru acro é horroroso como uma abóbada de cárcere
Ali, ali, ali... E eu?


Alberto Caeiro
Acho tão Natural que não se Pense


Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa ...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas. . .
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente. . .

Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.

Fernando Pessoa
É boa ! Se fossem malmequeres !

É boa ! Se fossem malmequeres !
E é uma papoula
Sozinha, com esse ar de "queres?"
Veludo da natureza tola.
Coitada !
Por ela
Saí da marcha pela estrada.
Não a ponho na lapela.

Oscila ao leve vento, muito
Encarnada a arroxear.
Deixei no chão o meu intuito.
Caminharei sem regressar.

Fernando Pessoa

O Maestro Sacode a Batuta

O maestro sacode a batuta,
A lânguida e triste a música rompe ...
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo ...

Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...

Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)

Atiro-a de encontra à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo. e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal... E a música atira com bolas
À minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos ...

Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...

E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...

E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...

HISTORIA DA HUMANIDADE

domingo, 28 de fevereiro de 2010









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Estrela do mar
.
Sentado na areia

a ver o mar

Não há solidão no meu olhar

Sinto a brisa fresca da poesia

reflexo da tua luz no ondular

minha alma brilha não estou a sonhar

Como es bela, ao meu olhar

Encontrei paz no teu sorriso

Estrela como es bela, estrela do mar

Sentado na areia

ficarei a comtemplar

Jorge Pereira


Não Fora o Mar!

Não fora o mar,
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.

Não fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angústia, pequeno prazer.

Não fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violência
como irisadas bolas de sabão,
efémero cristal, branca aparência,
e o resto — pingos de água em minha mão.

Não fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga música ao sol pôr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.

Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.

Não fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que é alto, inacessível, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.

Não fora o mar
e o meu canto seria flor e mel,
asa de borboleta, rouxinol,
e não rude halali, garra cruel,
Águia Real que desafia o sol.

Não fora o mar
e este potro selvagem, sem arção,
crinas ao vento, com arreio,
meu altivo, indomável coração,

Não fora o mar
e comeria à mão,
não fora o mar
e aceitaria o freio.

Fernanda de Castro, in "Trinta e Nove Poemas"



Não saber ser de mim

Procuro matar as saudades,
sem descanso que viva.
Não sei preencher-me
do vazio que de ti sobrou.
Varro da memória o longe,
o querer não entender
o não saber ser de mim,
no sonho que enriqueceu de nós.
Acho na ilusão,
o esconderijo para o sofrimento
e tardam as palavras...
Continuo preso na esquina do só,
ouço as passadas do teu caminho
e percorro entristecido
o labirinto construído de medos,
sem abrir as janelas ao sossego.
Julgo a pretensão da culpa
do desejo de partilha,
em detrimento
do teu defensivo orgulho.

Aguardo que me descubras,
sem olhar o movimento do relógio.

João Jacinto




Só Para Você!

Só para você
eu colhi as gotas
cristalinas da chuva,
os raios dourados do sol
busquei também, a brisa suave
que o vento soprava...

Só para você!
Molhei, delicadamente teu rosto
com os pingos de água
colhidos na chuva...

Te aqueci com os raios do sol,
com a brisa, suave do vento
refresquei teu corpo ...

Entre os carinhos que lhe fiz
muitos beijos em seus lábios
eu roubei...
Só para você me amar
mil loucuras eu fiz...

Só por você, para você!

Joe Luigi




Na madrugada acordei
a lenta chuva que
passou a noite toda
caindo continuava insistente...
fazia muito frio
um tentador convite à continuar
dormindo!

Aconcheguei-me às cobertas
fascinava-me recordar
quando em dias como este
eu sonhava o sono
dos justos e inocentes
e no resto do dia permaneci
assim ...

Na minha vida cheia
de saudades infindas por um
brevissimo instante sorri...
ao lembrar dos meus tempos de
menina!

- Celina Vasques -