sábado, 1 de maio de 2010










Mundo Louco

Ao meu redor estão rostos familiares
Lugares estragados, rostos estragados
Claro e cedo para sua corrida diária
Indo a lugar algum, lugar algum
E suas lágrimas estão encharcando seus óculos
Sem expressão, sem expressão
Escondo minha cabeça,
eu quero acabar com meu sofrimento
Não há amanhã, não há amanhã

E acho isso meio engraçado
Acho isso meio triste
Os sonhos em que estou morrendo
São os melhores que já tive
Acho difícil dizer isso pra você
Pois acho difícil de encarar
Quando as pessoas andam em círculos
É um mundo muito, muito louco

Crianças esperando pelo dia em que sentirão bem
Feliz aniversário, feliz aniversário
Feitas para se sentir da maneira
que toda criança deveria
Sentar e escutar, sentar e escutar
Fui à escola e estava muito nervoso
Ninguém me conhecia, ninguém me conhecia
Oi professor, diga me qual a minha lição
Olhe através de mim, olhe através de mim

E acho isso meio engraçado
Acho isso meio triste
Os sonhos em que estou morrendo
São os melhores que já tive
Acho difícil dizer isso pra você
Pois acho difícil de encarar
Quando as pessoas andam em círculos
É um mundo muito, muito louco

sexta-feira, 30 de abril de 2010




SONHO MEU

Sonho longínquo onde adormeço
No vão infinito do meu pensamento,
Flor solitária por entre os montes
Exalo perfume no teu travesseiro.

Sinto em meu corpo a fúria do mar
Como o ondular de ondas espumantes,
Navego em busca das nuvens de espuma,
Desperto teu corpo em meu corpo amante.

Estremeço nua no frio da madrugada
Penetro no barco de tua enseada
Deito-me aconchegada por entre teus braços.

Sintonia ligada por sonhos distantes
Verbo conjugado de maneira brilhante,
Somos dois seres unidos na eternidade de um instante.

MÁRCIA ROCHA
QUEM NUNCA AMOU

Quem nunca amou,
talvez não entenda bem
o por que deste modo eu sou,
mas, isso não me ofende também.
Pois sei apreciar um grande amor.
e até consigo sentir o cheiro da flor
quando nem perfume ela tem.

Quem nunca amou,
e mantém incólume o coração,
jamais vai recuperar o que passou
perdeu da vida a melhor sensação,
que é a de por amor alguém beijar.
deixou esta parte da vida passar,
e seu mundo virar uma ilusão.

Quem nunca amou,
desconhece o encanto maior,
não viveu, sua vida não vivenciou,
perdeu no tempo o que há de melhor.
Como trocar juras de amor a luz da lua
sentados juntinhos num banco de rua,
sem notar quem está ao seu redor
Marco Orsi
.



Mensagem

Todo o Mundo tem um Amor
E todo o Amor tem um Mundo!
Só que o meu Amor...
Não cabe em Todo o Mundo
de tão eterno...dedilhado e tão mudo...
É um Amor sem história
Nesta História sem palavras
da civilização do concreto
que destrói a vegetação
a natureza e diversidade
para restar o deserto
a cinza,a infelicidade...
e os produtos
da reacção...
Uma sociedade que vive
de electricidade estática
gerada por fricção
andamos electrizados
negativos... negativos
e não nos apercebemos de
que só usamos um grãozinho
do nosso potencial
Ignoramos a Vida...
e enchemos as Escolas
e os palcos do Mundo
de significados
que não definem
Eternidade
Sonho e Amor...
Vivemos obcecados
por ter mais que o outro
pelo grito mais histérico
histriónico...
Quantos nichos naturais
acabam para dar lugar
a um nicho de mercado?
Uma mudança de escala
a todos surpreenderia...
e veriamos o ridículo da vida
que construimos
Vivemos confusos
de palmas em palmas
sem conhecer o profundo
significado do estalido das nossas
mãos
Confusos e sem Confúcios...
andamos
sintetizados
pelos valores do efémero
do polímero e dos dias meros...
e não sabemos sequer
Ser mais e melhor...
do que quimeras !
Porquê viver
de tão louca ilusão
que acaba no mesmo segundo
em que se dispõe começar...?
E não ser revolucionário
ser contra -corrente...
ficar em casa
em vez de ir a festas
de muita gente ?
E porque havia de falar
deste meu Amor tão mudo
e eterno...etéreo ?
porque nele está a semente
o segredo do que pode ser o futuro
que está mesmo a despontar...
Não vive de monotonia

está vivo noite e dia
alimenta-se de estrelas
do Sol,do mar e do luar...
dos sonhos de quem quer sonhar...
Tem regras bem definidas
os seus ritos e desertos
é pouco exigente ao tacto
mas há tamanha ternura
e carinho e muita Sabedoria
que é difícil explicar
Não é Narciso de certeza
Nem Sísifo...mas talvez um novo
mito que será realidade
nos séculos que irão durar
Vive de sonho e puro amor
ultrapassa barreiras de betão
condensa o Mundo num minuto
para sempre perdurar
reparem...o que é o Amor banal?
má experiência afinal
dos que se tocam sem Amar
corpos-cavernas sem ternura
não são amor
são somatório bestial...
retirar dali para colocar ali
uns montes...tão ...montes!
uma praia... tão praia!
uma multidão...tão...sem nada...
e nada mais para além do
vórtice dos dias que passam
e que sugam a carne e o sangue...
por mais que se esforçem
não criam novo elemento
De sigla A de Amor
na tabela periódica
em que Tudo é tão igual...
Nem uma nova química...
do roçar de mucosas
(com ou sem protecção)
à emissão de secreção...
Tudo é monótono e
egoísta...e oportunista
e teatral e libertinário...
afinal !
É um filme dos dias
contados...
tiranizados...
Se houvesse o dia do Titanic
seriam todos os dias do ano
porque andamos às avessas
verborreicos
com rasgões nas relação
Só com desejo de ter...
inconsciente e animal
incluindo o de mandar...dominar
que só o Chaplin velhinho e humilde
fala ao coração ...de tão mudo
e ingénuo...

afinal !
Vive-se momentos corantes
de prédios berrantes
de tinta que desenha o próprio Sol....
Mestres na arte de dizer
especialistas em conquistar e reconquistar
não em cativar e dialogar...
Bonecos e palhaços modernos
luzidios sem esperança
de coisa alguma
que se não veja...
mais obesos da ideia
de sucesso
do que o sucesso
poderia jamais pesar
de tão oco e fútilmente
fruído
Momentos...
de momentos inspirados
que para outros não passam
de momentos bem pensados
eu diria bem cunhados...
Momentos em inglês
que ninguém percebe
momentos
com sabor artificial
pois Amor não é só carnal
os olhos comem sôfregos
insanos...e não procuram

a beleza de uma estrela
de Platão o ideal
só corpos cavernosos
a inflarem, a insuflarem
no consumo que se excita
no inchaço que se vê !
Hoje subi ao meu terraço
pela milésima vez
e extasiei-me de astros
de música divinal
sim... podemos ser um Deus
do alpendre da nossa casa...
ou num cantinho essencial...
escutar o amor da Natureza
multiplicar estrelas por luar
viciar-me em ar puro
que o mar tem para dar...
Viver à oriental com dois
metros quadrados
e uma tijela de arroz
Mas ser rico de Amor
de Sonho e de espaço sideral...
Liberdade...para ser livre
uma flor
um pássaro voando cada vez mais
alto e mais longe ...um poema...
um sorriso...um gesto
viver do Sonho
e gerar um dia
no sangue iniciático
Os filhos do Sonho...



A primeira metade do século XX nos Estados Unidos da América foi bastante frutífera no que à música popular diz respeito. Tin Pan Alley que foi responsável pela criação de uma verdadeira indústria musical. Contudo, este impulso não se ficou por aqui: depois do famoso beco nova-iorquino sair de cena, os co-autores continuaram a desenvolver o chamado pop clássico americano, fazendo com que o período que vai desde 1920 até meados dos anos 60 se tornasse num período histórico na música popular americana.

Foi, efectivamente, nesta época que se assistiu ao advento de um novo tipo de música baseado nas estruturas simples e altamente trauteantes do Tin Pan Alley e influenciado pelo jazz, que nestas décadas conheceu os seus tempos áureos. Apesar de não existir um cancioneiro definitivo, considera-se que os grandes nomes da música destes 40 anos fazem parte da colecção do Great American Songbook, tal como as canções mais emblemáticas. Nomes como Irving Berlin, Harold Arlen, Hoagy Carmichael, Walter Donaldson e Cole Porter fazem parte deste conjunto de artistas e são responsáveis pela difusão do american way of life, já que estas músicas correram o mundo, levando aos 7 ventos a cultura americana .

Ao longo dos anos, muitos artistas reviveram estes clássicos, tais como Willie Nelson e Rod Stewart que lançaram álbuns exclusivamente dedicados a estas décadas da música. Também outros artistas mais contemporâneos têm versões retiradas do Great American Songbook: Rufus Wainwright, Morrissey ou Pat Benatar.

Tal como não existe um início marcado, tao pouco existe um final determinado das músicas que possam ser incluídas neste cancioneiro americano. Com o vingar do rock'n'roll nos anos 50, a música popular deixou de ser a tendência mais vincada, mas ainda nos dias de hoje existem cantores que podem ser integrados, mesmo que mais pelo seu estilo de música do que pela sua nacionalidade: entre eles estão o brasileiro António Carlos Jobim e o francês Michel Legrand.







quinta-feira, 29 de abril de 2010


Meu Signo

Nasci com o vento norte,
meu signo:o signo da morte.
Por estranha contradição
também o da recriação.
Meus planetas?-Marte e Plutão.
Dão-me força interior,
combatividade;
Enfrento a vida com frontalidade;
Cultivo a amizade, o amor,
a fraternidade;
Aprecio o sentimento de gratidão,
num mundo em degradação,
detesto a mediocridade;
Estranhas dualidades;
A inveja e a deslealdade.
Do Sol e da Lua,
vem-me a espontaniedade,
sensibilidade, alegria,
e muita melancolia.
"Tudo ou nada" é o meu lema.
Sou de extremos?Pois então!...
Sou do signo Escorpião!










quarta-feira, 28 de abril de 2010

Django Reinhardt


Django Reinhardt


A introdução da guitarra no jazz, inicialmente afastada do leque de instrumentos usados pelos intérpretes deste género musical, ocorreu com o aparecimento do quinteto do Hot Club de França, em 1934: Louis Vola (baixo), Roger Chaput (guitarra), Stéphane Grapelli (violino) e os irmãos Joseph e Django Reinhardt (guitarras) - uma formação exclusivamente de cordas e, de certo modo, inovadora. Os conceitos rythm-guitar, lead-guitar ou até mesmo a guitarra eléctrica nasceram aqui.

Ao contrário de Grapelli que teve uma vida longa e profícua, Django conheceu uma existência curta e amargurada. Belga, de etnia cigana, aprendeu bastante cedo a tocar violino, banjo e guitarra, por esta ordem. Aos 18 anos sofreu graves queimaduras num acidente que lhe paralisaram a perna direita e dois dedos da mão esquerda. Pensou-se que não voltaria a tocar; mas Django não só voltou a tocar como se revelou um virtuoso, usando apenas o indicador e o médio para fazer os seus solos. Morreu aos 43 anos, vitimado por um AVC. Viva Django!




De todas as obras de Kafka esta é aquela em que mais nitidamente o autor consegue aliar o obscuro ao real. Caricatura do real? Talvez. Mas mais do que isso, é uma história que leva ao extremo a angustia de um homem perdido num mundo aparentemente irreal em que está inserido. A existência de Joseph K. transforma-se numa procura desesperada de conhecimento e compreensão da vida que alguém lhe destinou. Angustiante. Deprimente. Real.
Em O Processo estamos perante uma das mais comuns e significativas razões da angustia humana: a necessidade de conhecer e compreender; o desespero provocado pela ignorância, quando esta coabita com a necessidade do conhecimento. Mas este é apenas o ponto de partida!
O Processo retrata o desajuste entre o ser humano, entendido na sua dimensão individual, e um Estado totalitário, impessoal, que paira num universo desconhecido, longínquo…
Franz Kafka é o escritor do “absurdo”, como o tinha sido Dostoievsky, como seria Camus. Mas o absurdo de Kafka, ao contrário do filósofo francês, é um absurdo transcendental; reside na incomunicabilidade do homem com o homem, formando uma trama de relações pessoais sem sentido, impostas por circunstâncias alheias ao homem. Joseph K. não consegue chegar até à justiça, que, lentamente, se transforma numa entidade misteriosa e quase irreal. Joseph não compreende a justiça. Nem os homens, nem Deus. O absurdo está na ausência de compreensão mas ela deriva da ausência de comunicação. Daí o desespero, a solidão e o absurdo que cobre o mundo dos homens.
A culpa de Joseph é a sua existência; única resposta possível para a angustia do desconhecimento da acusação. É o culminar de uma espiral de desespero que revela uma visão dolorida da alma humana e, acima de tudo, da sociedade humana.


Poemas, Herman Melville
17 July 2009 1 Comentário
Estes Poemas de Herman Melville são uma selecção de três livros: Fragmentos de Batalha e Aspectos da Guerra, John Marr e Outros Marinheiros e Timoleon,etc, editados pela Assírio & Alvim.

Segundo Elizabeth, a filha, Herman Melville começou a escrever poesia em 1859, aos 40 anos de idade, replicando a fraca excitação do público perante livros como Moby Dick, ignorado à época, apesar de Melville ter conseguido obter algum sucesso com outros títulos.

Curioso que Mário Avelar, o responsável pela selecção e tradução, conclua a nota introdutória sugerindo que as suas traduções sejam sim, versões dos poemas. A edição é bilingue (o original Inglês é bem mais complexo), e o que contribuiu para que esta tradução competente seja apelidada de versão, é o desaparecimento quase total da rima.

Os poemas seleccionados, publicados entre 1866 e 1891 (ano da morte de Melville), são curtos, mas ainda assim os mais relevantes e exemplificativos da poesia de Herman Melville. Movimentam-se nas mesmas paisagens marítimas da outra obra do autor, bem como na própria vida deste.

O mar destes versos tem mais a ver com navios afundados no fundo do Oceano, do que com alvoradas em alto mar com céu azul. Nos poemas dos dois primeiros volumes, existem raízes profundas, francamente Americanas, dada a constante menção aos locais e intervenientes da Guerra Civil. Principalmente em poemas de Fragmentos (…), há um uso meticuloso de vocabulário científico, sendo que a tradução parece mais literata, de um original mais rude, de marujo, mas com uma construção que obedece ao pensamento e não à escrita

O lamento de Melville perante o desvanecer dos valores morais é sentido em todos os poemas, num canto saudoso e que lastima o presente, num autor que se viu rodeado de morte, nomeadamente teve de enterrar dois filhos a quem prevaleceu. A caminhar para o fim da vida, começou a perder o fulgor e o reconhecimento do público, apenas Fragmentos de Batalha e Aspectos da Guerra foi lançado sem ser em edição de autor, e, mesmo assim, apenas vendeu 468 cópias nos primeiros dois anos, de uma edição de 1260.

A única incongruência será a inclusão do último tomo de poemas, Timoleon, etc, de inspiração Grega, mais celestial, com mais luz nos versos, uma esperança que Herman Melville parecia conquistar à medida que a hora da morte se aproximava.

Uma versão leve da obra poética de Melville, que funciona como um bom campo de entrada para descobrir mais do autor, bem como actualiza a memória deste, num país com fortes tradições em poesia de influência marítima.

“Shiloh”

(Abril de 1862)

Flutuando levemente, descrevendo círculos,
Pairam as andorinhas
Sobre o campo em dias nublados,
O campo da floresta em Shiloh-
Sobre o campo onde a chuva de Abril
Confortou corpos ressequidos em sofrimento
Ao longo da pausa da noite
Após o combate de domingo
Em torno da igreja de Shiloh-
A igreja solitária, de troncos feita,
Que para tantos ecoou lamentos de despedida
E sinceras preces
De adversários moribundos ali se confundiram -
Adversários ao amanhecer, amigos ao crepúsculo-
Fama ou país pouco lhes importa:
(Tal como uma bala pode enganar!)
Mas agora no solo jazem
Enquanto as andorinhas sobre eles flutuam,
E o silêncio se instala em Shiloh.


Se a Luz Tivesse Beiços

Se a luz tivesse beiços rir-se-ia
de quem fecha os olhos para ver
do claro dia apenas sombra e esquivando o perigo
de uma relação íntima com a dúvida

não ousou nunca
dar-lhe o braço, para não sentir
o corpo dela a enlaçar o seu, e provar-lhe
da carne o inesperado gosto.

Júlio Pomar, in "TRATAdoDITOeFEITO"


De todas as obras de Kafka esta é aquela em que mais nitidamente o autor consegue aliar o obscuro ao real. Caricatura do real? Talvez. Mas mais do que isso, é uma história que leva ao extremo a angustia de um homem perdido num mundo aparentemente irreal em que está inserido. A existência de Joseph K. transforma-se numa procura desesperada de conhecimento e compreensão da vida que alguém lhe destinou. Angustiante. Deprimente. Real.
Em O Processo estamos perante uma das mais comuns e significativas razões da angustia humana: a necessidade de conhecer e compreender; o desespero provocado pela ignorância, quando esta coabita com a necessidade do conhecimento. Mas este é apenas o ponto de partida!
O Processo retrata o desajuste entre o ser humano, entendido na sua dimensão individual, e um Estado totalitário, impessoal, que paira num universo desconhecido, longínquo…
Franz Kafka é o escritor do “absurdo”, como o tinha sido Dostoievsky, como seria Camus. Mas o absurdo de Kafka, ao contrário do filósofo francês, é um absurdo transcendental; reside na incomunicabilidade do homem com o homem, formando uma trama de relações pessoais sem sentido, impostas por circunstâncias alheias ao homem. Joseph K. não consegue chegar até à justiça, que, lentamente, se transforma numa entidade misteriosa e quase irreal. Joseph não compreende a justiça. Nem os homens, nem Deus. O absurdo está na ausência de compreensão mas ela deriva da ausência de comunicação. Daí o desespero, a solidão e o absurdo que cobre o mundo dos homens.
A culpa de Joseph é a sua existência; única resposta possível para a angustia do desconhecimento da acusação. É o culminar de uma espiral de desespero que revela uma visão dolorida da alma humana e, acima de tudo, da sociedade humana.





Fala Também Tu

Fala também tu,
fala em último lugar,
diz a tua sentença.

Fala —
Mas não separes o Não do Sim.
Dá à tua sentença igualmente o sentido:
dá-lhe a sombra.

Dá-lhe sombra bastante,
dá-lhe tanta
quanta exista à tua volta repartida entre
a meia-noite e o meio-dia e a meia-noite.

Olha em redor:
como tudo revive à tua volta! —
Pela morte! Revive!
Fala verdade quem diz sombra.

Mas agora reduz o lugar onde te encontras:
Para onde agora, oh despido de sombra, para onde?

Sobe. Tacteia no ar.
Tornas-te cada vez mais delgado, irreconhecível, subtil!
Mais subtil: um fio,
por onde a estrela quer descer:
para em baixo nadar, em baixo,
onde pode ver-se a cintilar: na ondulação
das palavras errantes.

Paul Celan, in "De Limiar em Limiar"

Solar City Tower - a torre das olimpíadas de 2016



Solar City Tower - a torre das olimpíadas de 2016


O desafio passou por conceber uma estrutura vertical localizada na ilha de Cotonduba que, além de ter a função de torre de observação, se torne num símbolo de boas-vindas para quem chegar ao Rio de Janeiro por via aérea ou marítima, uma vez que esta será a cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos de 2016.

Projectada pelo gabinete RAFAA, sedeado em Zurique, na Suíça, e denominada «Solar City Tower», esta estrutura foi escolhida como a resposta adequada à proposta inicial e tem a potencialidade de gerar energia suficiente não só para a aldeia olímpica, como para parte da cidade do Rio.

A sua concepção permite-lhe aproveitar a energia solar diurna através de painés localizados ao nível do solo, ao mesmo tempo que a energia excessiva produzida é canalizada para bombear água do mar pelo interior da torre, produzindo um efeito de queda de água no exterior. Esta água é simultaneamente reaproveitada através de turbinas com o objectivo de produzir energia durante o período nocturno.


Estas características permitem atribuir o epíteto de torre sustentável a este projecto, dando continuidade a alguns dos pressupostos do «United Nation´s Earth Summit» de 1992, que ocorreu igualmente no Rio de Janeiro, contribuíndo para fomentar junto dos habitantes da cidade a utilização dos recursos naturais para a produção de energia.



A Solar City Tower engloba ainda outras funcionalidades. Anfiteatro, auditório, cafetaria e lojas são acessíveis no piso térreo, a partir do qual se acede igualmente ao elevador público que conduzirá os visitantes a vários observatórios, assim como a uma plataforma retráctil para a prática de bungee jumping.

No cimo da torre é possível apreciar toda a paisagem que circunda a ilha onde estará implementada, bem como a queda de água gerada por todo o sistema que integra a Solar City Tower, tornando-a num ponto de referência dos Jogos Olímpicos de 2016 e da cidade do Rio de Janeiro.

terça-feira, 27 de abril de 2010

TANGO TO EVORA




I think this is their best song.
Lyrics:

When I was back there in seminary school, there was a person there
Who put forth the proposition, that you can petition the lord with prayer
Petition the lord with prayer, petition the lord with prayer
You cannot petition the lord with prayer!
Can you give me sanctuary, I must find a place to hide, a place for me to hide
Can you find me soft asylum, I cant make it anymore, the man is at the door
Peppermint, miniskirts, chocolate candy, champion sax and a girl named sandy
Theres only four ways to get unraveled, one is to sleep and the other is travel, da da
One is a bandit up in the hills, one is to love your neighbor till
His wife gets home
Catacombs, nursery bones, winter women, growing stones
Carrying babies, to the river
Streets and shoes, avenues, leather riders
Selling news, the monk bought lunch
Ha ha, he bought a little, yes, he did, woo!
This is the best part of the trip, this is the trip, the best part
I really like, whatd he say? , yeah!, yeah, right!
Pretty good, huh, huh!, yeah, Im proud to be a part of this number
Successful hills are here to stay, everything must be this way
Gentle streets where people play, welcome to the soft parade
All our lives we sweat and save, building for a shallow grave
Must be something else we say, somehow to defend this place
Everything must be this way, everything must be this way, yeah
The soft parade has now begun, listen to the engines hum
People out to have some fun, a cobra on my left
Leopard on my right, yeah
The deer woman in a silk dress, girls with beads around their necks
Kiss the hunter of the green vest, who has wrestled before
With lions in the night
Out of sight!, the lights are getting brighter
The radio is moaning, calling to the dogs
There are still a few animals, left out in the yard
But its getting harder, to describe sailors, to the underfed
Tropic corridor, tropic treasure
What got us this far, to this mild equator?
We need someone or something new
Something else to get us through, yeah, cmon
Callin on the dogs, callin on the dogs
Oh, its gettin harder, callin on the dogs
Callin in the dogs, callin all the dogs, callin on the gods
You gotta meet me, too late, baby
Slay a few animals, at the crossroads, too late
All in the yard, but its gettin harder, by the crossroads
You gotta meet me, oh, were goin, were goin great
At the edge of town, tropic corridor, tropic treasure
Havin a good time, got to come along, what got us this far
To this mild equator? , outskirts of the city, you and i
We need someone new, somethin new, somethin else to get us through
Better bring your gun, better bring your gun
Tropic corridor, tropic treasure, were gonna ride and have some fun
When all else fails, we can whip the horses eyes
And make them sleep, and cry... I think this is their best song.
Lyrics:

When I was back there in seminary school, there was a person there
Who put forth the proposition, that you can petition the lord with prayer
Petition the lord with prayer, petition the lord with prayer
You cannot petition the lord with prayer!
Can you give me sanctuary, I must find a place to hide, a place for me to hide
Can you find me soft asylum, I cant make it anymore, the man is at the door
Peppermint, miniskirts, chocolate candy, champion sax and a girl named sandy
Theres only four ways to get unraveled, one is to sleep and the other is travel, da da
One is a bandit up in the hills, one is to love your neighbor till
His wife gets home
Catacombs, nursery bones, winter women, growing stones
Carrying babies, to the river
Streets and shoes, avenues, leather riders
Selling news, the monk bought lunch
Ha ha, he bought a little, yes, he did, woo!
This is the best part of the trip, this is the trip, the best part
I really like, whatd he say? , yeah!, yeah, right!
Pretty good, huh, huh!, yeah, Im proud to be a part of this number
Successful hills are here to stay, everything must be this way
Gentle streets where people play, welcome to the soft parade
All our lives we sweat and save, building for a shallow grave
Must be something else we say, somehow to defend this place
Everything must be this way, everything must be this way, yeah
The soft parade has now begun, listen to the engines hum
People out to have some fun, a cobra on my left
Leopard on my right, yeah
The deer woman in a silk dress, girls with beads around their necks
Kiss the hunter of the green vest, who has wrestled before
With lions in the night
Out of sight!, the lights are getting brighter
The radio is moaning, calling to the dogs
There are still a few animals, left out in the yard
But its getting harder, to describe sailors, to the underfed
Tropic corridor, tropic treasure
What got us this far, to this mild equator?
We need someone or something new
Something else to get us through, yeah, cmon
Callin on the dogs, callin on the dogs
Oh, its gettin harder, callin on the dogs
Callin in the dogs, callin all the dogs, callin on the gods
You gotta meet me, too late, baby
Slay a few animals, at the crossroads, too late
All in the yard, but its gettin harder, by the crossroads
You gotta meet me, oh, were goin, were goin great
At the edge of town, tropic corridor, tropic treasure
Havin a good time, got to come along, what got us this far
To this mild equator? , outskirts of the city, you and i
We need someone new, somethin new, somethin else to get us through
Better bring your gun, better bring your gun
Tropic corridor, tropic treasure, were gonna ride and have some fun
When all else fails, we can whip the horses eyes
And make them sleep, and cry



Sérgio Godinho : Primeiro dia [Pano cru, 1978]
A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que leva a peito
bebe-se come-se e alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vem cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Sérgio Godinho

Sharon Isbin

segunda-feira, 26 de abril de 2010





Numa época difícil e histórica, onde imperava o fascismo, Annemarie Schwarzenbach, foi mulher, escritora, jornalista e fotógrafa. Escolheu viver uma vida repleta de aventuras e perigos, desafiando-se a si própria, retratando o mundo, descrevendo o que vivia e o que sentia.

"Não tenho profissão. Poderia exercer qualquer uma. Viver em todas as cidades. Sentir-me em casa em todos os países." Sede de viagens, perigo, luta contra os ideais fascistas, foram uma constante no seu percurso de vida.

Annemarie Schwarzenbach, nasceu em Zurique a 23 de Maio de 1908. Proveniente de uma família abastada e conservadora, frequentou escolas particulares, explorou a vertente artística musical e, mais tarde, veio a obter o doutoramento em história pela Universidade de Zurique.

Rompeu a regra e fez parte do grupo das primeiras mulheres a obter este estatuto Universitário. Descobriu cedo a sua vocação para a escrita, tendo publicado o seu primeiro romance, "Um Bernhard Freunde", mal terminou os estudos. Ao dom da palavra escrita juntou-se a profissão de Jornalista que iniciou ainda enquanto estudava.

A vida de Annemarie, foi recheada de conflitos interiores e descobertas. Numa época em que se propagava a ideologia Nazi e Fascista, criou amizade com Judeus e refugiados políticos Alemães, entrando em conflito com a ideologia da própria família.


USA, Nov. a Dez de 1937

Assume-se como lésbica, atraindo no entanto homens e mulheres, devido ao seu estilo de vida invulgar e sentido de risco que a caracterizavam. Em Berlim, na companhia de Klaus Mann, seu grande amigo, Annemarie adopta um estilo de vida boémio. Círculos artísticos, contacto com drogas, estados de embriagues frequentes, faziam parte da sua vida nocturna, vivendo perigosamente e tornando-se, mais tarde, toxicodependente.

Ao longo da sua breve vida (1908-1942), Annemarie Schwarzenbach, efectuou numerosas reportagens fotográficas pela Europa, Médio Oriente (Irão, Iraque e Afeganistão), África e América do Norte, destacando-se a sua passagem por Lisboa durante o Estado Novo.


Afeganistão, 1939-1940

As suas reportagens fotográficas, textos jornalísticos e literários, desempenharam a função de nos permitir entender o que era o mundo entre as duas Grandes Guerras. Foi-nos deixado todo um legado de imagens reais e estados de alma genuínos. Muito da personalidade de Annemarie consta nas suas obras, como por exemplo, A morte na pérsia, obra que escreveu após ter enfrentado o isolamento no seu percurso pelo país.


Durante o seu percurso de vida casou com um amigo homossexual apenas por conveniência, e viveu algumas relações com mulheres, que resultaram em relações falhadas, sobretudo devido à sua dependência em relação às drogas. Travou lutas constantes contra a toxicodependência e contra a depressão. As viagens, assumiam uma forma de escape, e a fotografia e a escrita uma forma de entrega pessoal para com o mundo.

Annemarie Schwarzenbach morre em 1942, vítima de uma queda e de um diagnóstico equivocado. Deixou-nos um legado de imagens e textos literários que nos enchem a alma, um testemunho de vida surpreendente, recheado de coragem, e uma visão histórica de épocas difíceis de serem vividas.

"Só me meti a caminho para aprender o terror." Annemarie Schwarzenbach, O Vale Feliz



Aprendi português na escola, mas a intimidade começou a forjar-se antes, nos discos de José Afonso. E nos de José Mário Branco, Fausto Bordalo Dias, Sérgio Godinho, Chico Buarque. Mas primeiro, antes de eu saber dizer os nomes e distinguir uns dos outros, música em português era Zeca.

Eu era muito criança e não tinha aquela profundidade toda, nem noções de tragédia ou de glória, nem uma ligação relevante à memória do meu país. A revolução, o mundo e eu a começar éramos uma e a mesma coisa. O Alentejo largo, tórrido ou gelado consoante os meses, os vários cheiros da terra, a alegria com que todas as pessoas à minha volta recomeçavam nos dias novos, limpos do cheiro a mofo do salazarismo e, no Verão, as canções e as guitarras, o mar, a minha mãe.





Em casa havia música e os despertadores de fim-de-semana eram os discos do Zeca, que nos arrancavam ao sono a partir da sala. Outras vezes, noite avançada, eu adormecia nos concertos, que naquela época eram também um pouco comícios.

A música ouvia-a com os dias, nos dias. As letras animavam-me ou entristeciam-me, punham-me a dançar, a pensar e a fazer perguntas. Nas respostas vinham outras perguntas, histórias do meu país e mais música, tudo em peças para montar, mais ou menos como nos legos, que eu ia fazendo enquanto ouvia as canções.

Os anos passaram, a música foi fazendo sentido. Quando fiz dez anos, passei a poder a usar o gira-discos da sala das refeições, tecnologia intermédia entre o gira-discos de malinha do meu quarto, quase um brinquedo, e a aparelhagem a sério da sala de estar. Com essa permissão, veio o acesso aos discos dos meus pais.




Foi então que descobri Zeca Afonso por minha iniciativa, sozinha, consciente. Durante os meses do Outono, quando não tinha aulas à tarde, punha um disco a tocar, sentava-me à mesa com o álbum aberto e um dicionário. Ali estava a primeira música que tinha conhecido e eu capaz de perceber e de me entusiasmar. Os dias escureciam, as palavras abriam-se, o mundo crescia, e eu não queria ter outro país, nunca mais quis.

A variedade da música, no tempo que veio depois, tem servido para perceber o quanto a música de Zeca é, antes dos poemas sem medo que encheram os portugueses de coragem e esperança, música grande, da melhor que posso ouvir em qualquer lugar do mundo. Continuo a ouvi-lo porque não saberia deixar de o fazer e continuo a ouvi-lo porque tudo o que peço à música está em Zeca. E às vezes regresso intensamente para o redescobrir. Zeca é a fonte essencial do meu ânimo, a água mais pura que conheço. Quando os meus regressos à sua música e aos seus poemas terminam, percebo que estou afinada, reequilibrada, outra vez no lugar, que já não me vou perder durante algum tempo. O meu país é esta música.


Um palíndromo, como devem saber, é uma palavra ou um número que se lê da mesma maneira nos dois sentidos - normalmente, da esquerda para a direita ou ao contrário, da direita para a esquerda. Exemplos: OVO, OSSO, RADAR. O mesmo se aplica às frases, embora a coincidência seja tanto mais difícil de conseguir quanto maior a frase; é o caso do conhecido SOCORRAM-ME, SUBI NO ÓNIBUS EM MARROCOS, que foi o que sucedeu à nossa amiga Tajana. Perante o vosso interesse pelo assunto (confessem que foram todos ler a frase de trás para a frente, vá lá) tomámos a liberdade de seleccionar alguns dos melhores palíndromos da língua de Camões...

ANOTARAM A DATA DA MARATONA

ASSIM A AIA IA A MISSA

A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA

A DROGA DA GORDA

A MALA NADA NA LAMA

A TORRE DA DERROTA

LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL É COR AZUL

O CÉU SUECO

O GALO AMA O LAGO

O LOBO AMA O BOLO

O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO

RIR, O BREVE VERBO RIR

SAIRAM O TIO E OITO MARIAS

ZÉ DE LIMA RUA LAURA MIL E DEZ





Calçada de Carriche

Luísa sobe,

sobe a calçada,

sobe e não pode

que vai cansada.

Sobe, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe

sobe a calçada.

Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Luísa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas

não dá por nada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.



Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu a sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

Anda, Luísa.

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada,

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce o passeio,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga;

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga,

puxa que puxa,

larga que larga.

Regressa a casa

é já noite fechada.

Luísa arqueja

pela calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

Anda, Luísa,

Luísa, sobe,

sobe que sobe,

sobe a calçada.

António Gedeão

Poesias Completas (1956-1967)