sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Helena Frontini



Vento enamorado

Eolo brinca de ser meu namorado

Arrepia meu cabelo e fecha meus olhos.

Passa sua lixa arenosa na suave pele nua

Levanta minha saia e beija minha boca

Num despudor de garoto safado.

Pulsa o vento brejeiro e apaixonado

Gemendo com sua voz rouca.

Empurra o mar para afagos nas ancas

Atrevida marola lambendo as coxas

Ao comando do deus da impulsão.

Fujo arredia do ardor abusado

Antes que me leve despida e tonta

Em seu ventre ladrão.

-Helena Frontini-

Tati Bernardes


Sabrina Garras

 

 

“— Garçom… que dose de mentira você tem?

— Temos: Eu te amo, nunca vou te deixar, eu quero você comigo, sinto saudades e também temos uma que anda saindo bastante: “pode confiar em mim”.

— Ah… Manda todas que hoje eu quero me iludir.”

Tati Bernardes

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Amelie

Margusta


Hoje não me apetece ser forte.
Deixem-me chorar!
Desventrar todas as feridas e mágoas
tatuadas a fogo nas vísceras da alma.
Deixem-me chorar,
não sou essa fortaleza edificada,
onde o sorriso sempre floresce nas janelas...
Hoje sou o sal da água, no azul a alastrar,
gaivota sem peito para nidificar ,
suspiro de luz, sopro de velas,
porto sem abrigo, tempestade de mar...
Deixem-me chorar!!!


©Margusta.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DANIEL DEL ORFANO

DANIEL DEL ORFANO E A PERSPECTIVA DE UM TRANSEUNTE

 

"Tento captar a visão romântica mas realista da vida cotidiana..."

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Nascido e criado em Nova York Daniel Del Orfano estudou na prestigiada Knox Boarding School e ensinou a arte da pintura para crianças de todas as idades.

O artista começou a retratar a vida cotidiana a partir da perspectiva de um transeunte, testemunhando os momentos íntimos da vida. Isto o levou a uma quase autobiografia visual.

"Eu misturo a antiga integridade artística com a percepção moderna. Minhas pinturas retratam a vida, não como ela pode ser, mas como é lembrada; um instante, não de um momento em particular, mas de uma memória global. É a beleza da emoção sentida em um momento exato que eu tento retratar. Tento captar a visão romântica mas realista da vida cotidiana, que é a raiz de todo o meu trabalho."

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A imagem simbólica que Daniel mais retrata é o guarda-chuva vermelho, por dois motivos: em primeiro lugar porque quando caminhava pelas ruas de Nova York era surpreendido por tempestades e sempre se encontrava desprotegido, sua salvação eram os vendedores de esquina (isso lhe trouxe a ideia de que o guarda-chuva simbolizava proteção e segurança); em segundo lugar a cor vermelha, sendo utilizada para retratar a paixão e a determinação.

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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Melody Gardot–Lisboa

Lisboa
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.

Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.
Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Oscar Wilde

Oscar Wilde: o amor que não ousa dizer o seu nome

 

Estamos no ano de 1900. Sebastian Melmoth percorre a cidade de Paris em andrajos. Está triste, desolado e sobretudo pobre. As parcas condições financeiras não lhe permitem voltar à sua verdadeira paixão de sempre: a escrita. Viciado em absinto, Sebastian morre subitamente num quarto de hotel barato a 30 de Novembro. Acabava de morrer um dos mais brilhantes escritores de sempre: Oscar Wilde.

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Retrato de Oscar Wilde.

«O Progresso é a realização das Utopias»

Filho de um médico, Sir William Wilde, e de uma poetisa e jornalista, Jane Francesca Wilde, Oscar Wilde nasce em Dublin, Irlanda, a 16 de Outubro de 1854. Fruto do ambiente intelectual de infância desenvolve cedo o gosto pelo estudo de obras clássicas gregas. Em 1874, Oscar recebe a medalha de Ouro no Colégio de Berkeley pelos seus excelentes resultados na disciplina de Língua Grega. Transfere-se para Oxford, onde a sua escrita poética começa a dar frutos. Ganha o prémio Newdigate pelo seu poema «Ravenna». Depois de concluir o curso em Estudos Clássicos, vai viver para Londres com o seu amigo Frank Miles, um pintor de retratos.

Em 1882 parte para os Estados Unidos da América como líder do movimento por ele criado: o Movimento Estético. Este movimento pretendia eleger o Belo como única solução contra o cinzentismo intelectual e social que a sociedade industrial e vitoriana evidenciava. A fama começava a surgir. Depois de uma produtiva viagem intelectual a Paris, Oscar Wilde casa-se com Constanze Lloyd em 1884. O casal muda-se para o bairro de Chelsea em Londres, tendo dois filhos.

Oscar Wilde é já um exemplo de elegância e glamour nos seus encontros sociais. É visto como um excêntrico, sedutor, usando roupas sofisticadas e ousadas para a época. É cada vez mais respeitado pelo meio literário inglês. Em 1891 escreve o seu único romance: «O Retrato de Dorian Gray», um dos mais aclamados livros da literatura inglesa. Rico, respeitado e famoso, Wilde vê o mundo à sua volta desabar quando se envolve afectivamente com o jovem Lord Alfred Douglas. Os rumores acerca da sua homossexualidade já circulavam por Londres, mas de modo subtil. O pai de Lord Alfred Douglas, o chamado Marquês de Queensberry, apercebe-se do sucedido e através da sua influência e poder instaura um processo em tribunal a Wilde. Na época Vitoriana, a homossexualidade era violentamente reprimida com pena de prisão.

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Retrato de Oscar Wilde.

Oscar Wilde está ciente de que este caso amoroso poderá arruinar-lhe a reputação e a consolidada carreira de escritor e tenta por todos os meios demover o marquês, processando-o por difamação. Sem sucesso. Novas provas são apresentadas, o caso espalha-se na opinião pública e o marquês leva mesmo Oscar Wilde a tribunal. É condenado a 2 anos de prisão com trabalhos forçados por “cometer actos imorais com diversos rapazes”.

Durante este período todos os seus bens são vendidos para pagamento de custas judiciais e os seus livros retirados das livrarias. O amor que Oscar sente por Lord Alfred Douglas ajuda-o a suportar a dolorosa estadia na prisão, mas a sua saúde ressente-se e a sua reputação é manchada irremediavelmente. Amargurado contra a injustiça mas servindo-se da paixão como combustível contra a escuridão existencial em que se encontra, Oscar escreve a célebre «Balada do Cárcere de Reading», a comovente «De Profundis», uma carta de amor dirigida a Lord Alfred Douglas e o visionário «A Alma do Homem sob o Socialismo».

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© Estátua colorida de Oscar Wilde na Praça Merrion, Dublin (Wikicommons, Sandro Schachner).

Com a saúde arruinada pelas degradantes condições da prisão e a alma negra pelo seu amor proibido, Oscar Wilde é libertado a 18 de Maio de 1897. Muda-se para França completamente arruinado financeiramente. O retorno à sua carreira literária é uma miragem. Adopta o pseudónimo Sebastian Melmoth como forma de fugir à conotação negativa que o seu verdadeiro nome tem na sociedade. Vicia-se em absinto e muda constantemente de quarto de hotel, para locais cada vez mais degradantes. A 30 de Novembro de 1900 um ataque de meningite é-lhe mortal. Oscar Wilde morre na pobreza e no esquecimento em Paris.

A sua obra genial é doce, visionária e irreverente. Extremamente inteligente e sensível, Wilde legou-nos escritos polvilhados de amor, liberdade e anti-convencionalismos. Tornou-se uma referência literária do século XIX. O Progresso é a realização das Utopias, e Oscar Wilde sabia-o. Ninguém irá preso hoje em dia, numa sociedade civilizada, por amar alguém do mesmo sexo.

Aleah

Água e Vinho
Estou perdido sem você
Mas agora eu também estou perdido com você
Como posso saber o que fazer
Quando o que você me diz não é verdade
Aprenda a distinguir
É o que você diz
Quando na minha fúria
Eu me afasto
Mostre-me seu sinal
Água e vinho
Eu preciso que você seja
Mais do que uma voz em mim
Mostre-me seu rosto
Ou pelo menos alguma prova de sua graça
Eu preciso que você seja
Mais do que uma luz em mim
Pelo menos hoje...
Abrace-me na minha dor
Mas você tem causado a mesma
Por que você não pratica o que prega?
Que bem veio disso, a maneira que você ensina?
Aprenda a distinguir
É o que você diz
Quando na minha fúria
Eu me afasto
Deixe-me em paz
Deixe-me ser sem minhas esperanças
Sem meus medos
Não, não abandone-me, deixe-me
Veja a verdade
Prove minhas lágrimas, minhas lágrimas amargas
Causadas por você...

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