sábado, 23 de abril de 2011

JESUS CHRIST SUPERSTAR

Para desespero dos conservadores, surgia nos anos 70 um musical que trazia uma visão humanizada e contundente dos últimos dias de Cristo, dando espaço a personagens controversos e explorando questões políticas e sociais. Jesus Christ Superstar superou as críticas e o teste do tempo, e suas canções ecoam até os dias de hoje.

Broadway Christ Cristo Jesus Superstar

My mind is clearer now – at last all too well
I can see where we all soon will be
If you strip away the myth from the man
You will see where we all soon will be

Judas, em “Heaven in Their Minds”

Música e religião. Eis aí dois temas perigosos de abordar, seja pelas paixões que despertam ou pela linha íngreme entre o sublime e o enfadonho em que ambos caminham. Logo, não deixa de surpreender que um musical sobre os últimos dias de Jesus Cristo tenha alcançado tamanho êxito, como é o caso de Jesus Christ Superstar.

Desde sua primeira apresentação nos palcos em 1971, o espetáculo já contabiliza dezenas de montagens nas mais diferentes línguas (incluindo uma versão em português, traduzida por Vinícius de Moraes), um número semelhante de álbuns gravados e duas versões cinematográficas, a mais famosa realizada em 1973 e que ajudou a propagar ainda mais o evangelho contracultural concebido por Andrew Lloyd Webber e Tim Rice.

Não que as coisas tenham sido simples de início para a produção. Assim como Jesus foi um líder espiritual incompreendido em seu tempo, a ideia de um espetáculo musical que privilegiava a perspectiva de um Judas negro, que contestava as atitudes de um Cristo com atitude rocker e sua companheira (groupie?) Maria Madalena não agradou em nada os religiosos da época, principalmente nos Estados Unidos.

As metáforas e críticas às questões políticas e raciais que estavam em ebulição no continente americano e no resto do mundo naquela altura tampouco ajudaram na empatia com o público. Um elenco multirracial em meio a soldados romanos com metralhadoras, tanques de guerra cruzando o deserto e um templo onde se traficavam drogas e prostitutas: assim era a Israel representada nos cânones de Jesus Christ Superstar. Um microcosmo propositalmente exagerado, mas com um apelo inegavelmente realista.

Broadway Christ Cristo Jesus Superstar

O Jesus que Webber & Rice apresentam é o "cara", ídolo das multidões de Jerusalém, mas que antes de tudo é humano e repleto de medos e anseios pelo que acontece - e ainda acontecerá - à sua volta. Cenas-chave como a postura descontraída na funky "What's the Buzz?", a demonstração de fúria em "The Temple" ou o momento contemplativo em Gethsemane mostram estas nuances de um personagem que foi magistralmente interpretado (nas versões da Broadway e no filme de 1973) por Ted Neeley, mas que teve um intérprete mais famoso associado: Ian Gillan, do Deep Purple. Se sua performance representa luz e vitalidade, seus antagonistas estão no espectro oposto: os fariseus têm voz grave, pausada e quase monocórdica, maquinando o destino de Jesus em meio a arranjos fúnebres.

Da mesma maneira, os outros personagens de destaque em Jesus Christ Superstar vão além do maniqueísmo. Mais do que um mero traidor ou um hipster amargurado por seu movimento ter caído nas graças do povo, Judas possui motivações políticas genuínas e uma crítica feroz ao culto à personalidade de Cristo. Sua interpretação cheia de blues e tragédia (cortesia de Carl Anderson, falecido em 2004) é o contraponto perfeito para as potentes vocalizações de Jesus. Maria Madalena, por sua vez, é resgatada do estereótipo de “mulher impura” e também ganha luz própria ao expor a amplitude de seus sentimentos em relação ao Filho do Homem, nomeadamente em "I Don't Know How to Love Him", uma das mais belas canções do musical.

Broadway Christ Cristo Jesus Superstar

Musicalmente, JCS exala (e exalta) o rock and roll dos anos setenta com timbres psicodélicos, guitarras e vocais urgentes, acrescentando uma boa dose de soul music (ouça atentamente a já citada "What's The Buzz", "Simon Zealotes" e "Strange Thing Mistyfing") sem esquecer as tradicionais orquestrações e corais característicos da Broadway.

De fato, se há uma conexão com o divino em Jesus Christ Superstar, ela se dá através das composições e da interpretação do elenco. Por sinal, o musical é objeto de culto entre músicos, cantores e atores até os dias de hoje, o que explica o envolvimento de outros nomes conhecidos do rock e de Hollywood em montagens mais recentes, incluindo Corey Glover (Living Colour) no papel de Judas, Sebastian Bach (Skid Row) como Jesus e até mesmo Alice Cooper como um impagável Herodes.

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É essa conjunção de fatores o grande motivo da longevidade de Jesus Christ Superstar: o casamento entre sagrado e profano, rock e orquestra, o escapismo dos musicais com o dedo na ferida nos problemas e dilemas de nossos tempos. Mesmo se você não for um fã do gênero, é grande a chance de ser arrebatado pelo belo trabalho musical de Mr. Webber e seus intérpretes. (Foi o que aconteceu comigo, aliás: graças a “Jesus”, aprendi a apreciar outros espetáculos clássicos da Broadway.)

Faça o teste, então: caso a sua cabeça não consiga assimilar um grupo de apóstolos dançarinos com roupas coloridas, ouça as canções e letras como se fosse um álbum à parte, sem preconceitos. E não estranhe se sair por aí logo depois, cantando “Hey JC, JC won't you smile at me? Sanna Ho Sanna Hey Superstar!”

 

Os ovos de Páscoa de Peter Carl Fabergé

Os ovos de Páscoa de Peter Carl Fabergé são os mais caros do mundo e considerados até hoje verdadeiras obras-primas da joalharia. Um requinte que lhe valeu a preferência dos czares da Rússia.

pascoa ovos faberge czar russia joia joalharia

A receita para se fazer um ovo de Páscoa como o conhecemos hoje é simples: mistura-se açúcar, cacau e leite com alguns outros ingredientes e temos um presente irresistível que normalmente dura menos de uma semana, para os chocólatras como eu.

Já a receita dos ovos de Páscoa criados pelo joalheiro Peter Carl Fabergé é um tanto mais cara. Em seu ateliê, ele criava ovos com ingredientes como pedras preciosas, metais e esmaltes.

O primeiro ovo Fabergé foi criado em 1885 sob encomenda do czar Alexandre III, que queria presentear com algo especial sua esposa, Maria Feodorovna, por ocasião da Páscoa. O joalheiro criou então um ovo em ouro esmaltado que aparentemente não tinha nada de extraordinário. Mas ao ser aberto descobria-se em seu interior uma gema de ouro que dentro tinha uma galinha com olhos de rubi, que por sua vez continha uma réplica em diamante da coroa imperial.

Ao receber o presente, a imperatriz ficou encantada e assim o czar nomeou Fabergé o joalheiro oficial da corte. Os ovos se tornaram uma tradição da família imperial russa. Todo ano Carl criava uma nova peça e a única condição imposta por Alexandre ao artista era a de que cada ovo devia ser único e conter uma surpresa dentro.

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A tradição permaneceu após a morte de Alexandre III e foi continuada por seu sucessor, Nicolau II, só encontrando seu fim com a queda do império, em 1917. Com a posse do novo czar, Fabergé passou a produzir dois ovos por ano - um para a nova czarina, Alexandra Feodorovna, e outro para a viúva de Alexandre.

Os ovos tinham motivos temáticos sempre ligados ao cotidiano da família imperial e a momentos históricos da Rússia como, por exemplo, a inauguração da estrada Transiberiana. Depois da primeira exposição em que os ovos foram mostrados ao mundo, em 1900, o joalheiro viu seu prestigio atingir o auge. Abriu novos ateliês fora da Rússia e passou a ser procurado por clientes particulares interessados em adquirir ovos e jóias imponentes.

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A joalheria de Fabergé alcançava seu ápice, mas em contrapartida o império russo declinava. A crescente crise da corte czarista afetou a obra de Carl, que começou a optar por materiais semipreciosos na confecção de suas peças. Nesse contexto, os ovos criados pelo joalheiro ficaram para sempre ligados à imagem da decadência do regime czarista, um paradoxo entre a pobreza que assolava o país e a opulência de um Império falido.

Devido ao conturbado momento histórico, Fabergé decidiu em 1916 fechar sua joalheria. Os ovos, que faziam parte das jóias imperiais foram em parte saqueados e outros confiscados pelo novo governo. Sendo visto como um símbolo da luxúria que dominava o antigo governo, o joalheiro teve que buscar exílio na Suíça, onde viveu até a sua morte em 1920.

Décadas depois da revolução, os ovos passaram a ser muito valorizados, tanto pela beleza inigualável como pela mística que se criou em torno da má sorte da família imperial. Colecionadores de todo o planeta disputavam as peças em leilões que acabavam sempre em arremates por valores extremos.

O mais caro deles, vendido por 12,5 milhões, foi leiloado em 2007. E apesar do preço, não era um dos ovos produzidos para os czares, mas um ovo feito para um cliente particular do joalheiro. Estima-se que Fabergé tenha produzido 56 ovos imperiais, mas destes apenas 44 foram localizados.

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Minha Versão do Amor, de Richard J. Lewis

 

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Minha Versão do Amor, de Richard J. Lewis

Um filme que faz refletir sobre a própria vida, sobre as opções que podemos tomar de acordo ou não com a nossa essência.

….(..)

No táxi, indo para o cinema, tive a melhor introdução ao filme que alguém poderia ter tido. O taxista me deu a sua versão de felicidade: a Felicidade está à sua volta, ao alcance dos nossos olhos, está naquilo que interage conosco, que nos toca. As coisas estão aí ao nosso alcance, e podemos pegá-las, o problema é que não podemos segurar muitos elementos ao mesmo tempo; é importante se guiar pela sua própria essência, e saber se apegar ao que é realmente importante. Ele me perguntou se eu era crítico de cinema, de acordo com a conversa que havia tido no celular. Disse que sim, ele anotou o endereço do site, e fui ver o filme.

Paul Giamatti (de Sideways e Anti – Herói Americano) é, em minha opinião, o maior ator de Hollywood em atividade no momento. Ele está fabuloso vivendo o protagonista deste “Minha Versão do Amor”, Barney Panofsky. Barney é um produtor de TV que vive no Canadá; ele tem uma vida marcada por acontecimentos importantes: um crime não solucionado, três casamentos, uma doença incurável.

O filme ganha o espectador pela sua absoluta verdade: tudo o que acontece ali pode acontecer com qualquer um de nós; a diferença é como o personagem (e o ator) reage aos acontecimentos. O herói desta história é um ser humano comum, mas que escolhe ser guiado por uma paixão, Myriam, a mulher que conheceu no dia de seu casamento.

Este amor é tão forte que as escolhas de Barney giram em torno dele. Myriam passa a ser o motivo principal de sua vida; e é um sentimento tão belo, tão verdadeiro, que emociona a platéia. O ator consegue passar então, de forma primorosa, os sentimentos de uma pessoa apaixonada, que descobre a sua própria essência no amor. Mas tudo começa a ruir quando uma doença grave é diagnosticada.

O filme é composto de memórias, de tempos que se interpõe, e é justamente a memória de nosso herói que começa a falhar. O Alzheimer ainda é um mistério para a medicina, e um sofrimento principalmente para aqueles que amam o doente. É neste quadro de perda progressiva de memória que percebemos o quanto esta nossa faculdade é importante. A memória de uma pessoa, a memória de um povo; Hugo Munsterberg, talvez o primeiro teórico de cinema, que comparou o filme à mente humana, dizia que a memória tem a ver com a edição do filme — com a maneira que os planos são arranjados.

Cada vida é uma vida, mas podemos imaginar a tragédia pessoal daqueles que mudam de forma abrupta por algum problema cerebral, e também daqueles que estão junto da pessoa, nesta caminhada pela Terra. O taxista estava certo ao dizer que não devemos segurar muitos elementos; e quem os prende, senão a memória?

Um filme que faz refletir sobre a própria vida, sobre as opções que podemos tomar de acordo ou não com a nossa essência. Aliado ao caráter verdadeiro do filme e a grande interpretação de Giamatti, está a participação de grandes diretores de cinema do Canadá em pequenas pontas no filme: Dennys Arcand, Atom Egoyan e o fantástico David Cronenberg podem ser reconhecidos como o maitre do restaurante e os diretores de TV que trabalham para Panofsky.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Pink Floyd Reunion

Tantas Linguas o mesmo sentimento

 

Eu amo-te

Eu Te Amo
Inglês - I Love You
Francês - Je T'aime
Italiano - Ti amo
Espanhol - Te quiero
Africano - Ek het jou liefe
Albânio - Te dua
Alemão - Ich liebe dich
Árabe - Ana Behibak
Birmanês - Chit pa de
Boliviano - Qanta munani
Búlgaro - Obicham te
Cantonês - Moi oiy neya
Catalão - T"estim
Checo - Miluji te
Chinês - Ngo oi ney
Coreano - Tangsinul sarang ha yo
Croata - Ljubim te
Dinamarquês - Jeg elsker dig
Eslovaco - Lubim ta
Esloveno - Ljubim te
Esperanto- Mi amas vin
Finlandês - Mina rakastan sinua
Grego - S'ayapo
Holandês - Ik hou van jou
Japonês - Kimi o ai shiter

Xutos & Pontapés

Morreu Zé Leonel, membro fundador dos Xutos & Pontapés e dos Ex-Votos -

Morreu Zé Leonel, membro fundador dos Xutos & Pontapés e dos Ex-Votos

Músico português tinha 50 anos e sofria de cancro no fígado. Funeral é sexta-feira, 22 de abril, na Póvoa de Santa Iria.

Zé Leonel, um dos membros fundadores dos Xutos & Pontapés e dos Ex-Votos, faleceu esta madrugada, aos 50 anos.
Segundo notícia da agência Lusa, o vocalista padecia de cancro do fígado, doença que lhe fora diagnosticada há cinco meses.
Zé Leonel (na foto, entre Zé Pedro e Kalu) faleceu em sua casa, na Póvoa de Santa Iria, avançou à Lusa fonte da sua família.
O corpo de Zé Leonel ficará em câmara ardente hoje, 21 de abril, a partir do meio-dia, na Igreja da Póvoa de Santa Iria (Loures). O funeral realiza-se amanhã (22 de abril), às 10h da manhã, na mesma localidade.
Ainda este mês, o músico que fez parte dos Xutos & Pontapés entre 1978 e 1981 subiu ao palco com os Ex-Votos para um último concerto no Centro Cultural da Malaposta. Nesse espetáculo participou também Kalu, seu antigo companheiro dos Xutos & Pontapés.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Esperanza Spalding

O Mahgreb

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O Mahgreb, bloco que agrega os países da África do Norte, do Saara e do Oeste do Nilo (Argélia, Líbia, Marrocos e Tunísia) partilha, além de diversos interesses políticos, a paixão por um tipo específico de música: a raï.

Sua origem remonta dos cheikh (velho) - poetas da tradição melhoun, de Oran, Argélia, que pregavam seus conselhos e sabedoria na forma de poesias cantadas - e vai desaguar na escapatória à moral islâmica mais severa, no início do século XX, permitindo inclusive às mulheres compor e cantarem livremente letras que exaltam, em enérgicas notas, o amor, a vida, o álcool e os prazeres da carne. No contexto popular o cantor também fala de suas desgraças, culpando sempre a si mesmo já que elas são geralmente causadas, em sua opinião, pelo desenfreio de seus comportamentos. A palavra então, que em sua origem, significa “opinião”, toma para si novo conceito tornando-se “discernimento”; a falta da raï, leva o poeta a tristes destinos.
Transformado em movimento musical, foi instrumento de resistência e mobilização contra as agruras da colonização e ditadura argelinas, fazendo emergir debates abertos sobre o direito de expressão demandada por sua temática provocativa e tanto libertária.
O ritmo encerra em si diversas influências que acompanham os movimentos de invasões e colonizações culturais estabelecidas na região: podemos encontrar traços da música judaica, francesa, hispânica e, obviamente, primordialmente árabe, através do estilo mais clássico al-andalous trazido do sul da região onde hoje é a espanha por volta de 1490.
A colonização francesa no século XIX popularizou ainda mais a raï: a sociedade empobrecida recorria com afinco aos cantares dos cheikhs e cheikhas para buscar em sua música, conforto, solidariedade e escape das dificuldades. Após a independência do país, o governo marxista suprimiu totalmente o ritmo.
A partir dos anos 60, a influência do rock, do soul e do reggae mudou completamente a face da raï: ao invés dos cheikh, entravam os cheb (jovem) que hoje utilizam, na mistura tradição-modernidade, instrumentos tradicionais e música eletrônica para produzir um ritmo inebrio-apaixonante-hipnótico, que circula livre pelo bloco Mahgreb agregando especificidades em cada região e que se destaca através de cantores como Cheb Khaled (personagem principal desta nova fase), Cheb Hasni, Cheb Faudel, Cheba Samira, Rachid Taha, DJ Nassim, Cheb Mami (que faz dueto com Sting na canção Desert Rose) e, recentemente, Cheba Djenet que marcou o filme Viva Argélia, de Nadir Moknèche, com sua Matejabdoulich; na película, a canção ajuda a desnudar os contrastes de um povo amante da vida e resistente aos violentos reveses de sua realidade política..
Para conhecer mais, vale uma visita atensiosa ao site Algerie Musique que disponibiliza albuns de raï (em tempo, o áudio de certas canções é tanto precário; toda compreensão é bem-vinda). Abaixo, Matejabdoulich, de Cheba Djenet.

terça-feira, 19 de abril de 2011

JOAN OSBORNE

Ane Brun

 

True colors–Cores verdadeiras

Máquinas fotográficas russas: puro fascínio

 

 

 Fotografia Maquinas Russia Sovietica URSS Cameras Fed Zenit

As linhas austeras e o aspecto peculiar de uma máquina fotográfica russa do tempo da União Soviética são inconfundíveis. É todo outro mundo. O seu peso, sinónimo de uma construção robusta, e as indecifráveis siglas em caracteres cirílicos nada têm de moderno. Talvez tenham algo de eterno, pois eram máquinas feitas para durar. Quem for o feliz possuidor de uma Zenit, de uma Chaika, de uma Smena, de uma Lomo ou de uma Moskva tem nas suas mãos, para além de um equipamento fotográfico de excelência, um pedaço do antigo império soviético...

 Fotografia Maquinas Russia Sovietica URSS Cameras Fed Zenit
A história das máquinas russas acompanha a própria história da Revolução. É nos anos pós-revolucionários que surgem os primeiros exemplares, integrados na eterna estratégia soviética de rivalizar com o Ocidente e demonstrar que a tecnologia socialista era superior à tecnologia capitalista. Uma das primeiras câmaras fotográficas foi, não obstante, uma cópia descarada da alemã Leica, baptizada FED. A sigla utilizava as iniciais do nome de Felix Edmundovich Dzerjinski, fundador da polícia secreta Tcheka, mais tarde o KGB. Muito patriótico.

Em 1934 saiu a FED 1, réplica exacta da Leica 1a, produzida apenas num número limitado de exemplares. A tecnologia socialista estava a partir de então na posse dos conhecimentos necessários para fabricar equipamento fotográfico de qualidade. Mesmo a parte mais delicada, o polimento das lentes, já se conseguia com grande precisão. O resto era construção robusta.

 Fotografia Maquinas Russia Sovietica URSS Cameras Fed Zenit
Se a FED se tornou a marca mais emblemática, outras se seguiram no esforço produtivo e propagandístico soviético de importância e qualidade equivalente. É o caso da Zenit, muito divulgada no Ocidente. A Zenit 3, de 1960, apenas com os mecanismos rudimentares, foi uma das mais interessantes - um excelente aparelho para quem quisesse aprender as bases da técnica fotográfica.

 Fotografia Maquinas Russia Sovietica URSS Cameras Fed Zenit
 Fotografia Maquinas Russia Sovietica URSS Cameras Fed Zenit
A Zorki Stereo, por exemplo, comercializada em 1948, era muito parecida com a FED. Tinha, no entanto, a possibilidade de lhe ser adaptado um dispositivo que permitia fazer fotografia estereoscópica, um género muito em voga na época que posteriormente caiu em desuso. Já a Sputnik, lançada em 1955, tal como o satélite homónimo, estava especificamente concebida para esse tipo de fotografia.

 Fotografia Maquinas Russia Sovietica URSS Cameras Fed Zenit
Uma das mais antigas, a par com a FED, foi a Sport, nome incomum neste contexto. Foi também uma das primeiras portadoras de um sistema de lentes SLR, ou seja, que dispensa um visor, uma vez que se olha através da própria lente. Repare-se no enorme volume do prisma na parte superior.

 Fotografia Maquinas Russia Sovietica URSS Cameras Fed Zenit
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A Estafeta (outro nome incomum), era uma máquina para filmes de grandes formatos, tipicamente 6x6 cm, produzida em 1960. Enorme e pesada. Em contrapartida, no mesmo ano saiu o modelo Vega da Kiev, rivalizando com as pequenas câmaras japonesas. Por fim uma raridade, a Horizont 202, especialmente concebida para efectuar fotos panorâmicas. A objectiva rodava 120º e impressionava um filme de 24 mm num comprimento de 58 mm.

 Fotografia Maquinas Russia Sovietica URSS Cameras Fed Zenit

segunda-feira, 18 de abril de 2011

FUSOES E INFLUÊNCIAS

Fotografia de Gaëna des Bois

 

Como é a casa onde você mora? A última pergunta que fiz à Gaëna, não estava exatamente no lugar certo, estranhamente. O essencial foi por último na nossa conversa, isso talvez porque eu já pensasse conhecê-la bem, além dos dados de endereços ou profissão – essa última, ela nunca me disse. Entre os meses de Maio e Abril, a canadense Gaena des Bois e eu trocamos cartas eletrônicas onde ela falou sobre seu trabalho apaixonado como fotógrafa de universos sonhados.

gaena bois sonho glamour amelie poulin

Por aqui, a neve está derretendo nas montanhas, diz ela em uma das mensagens. Faço algum esforço para imaginar a cena enquanto no Rio de Janeiro o calor mal permitia ficar muito tempo em casa sem ligar o ventilador. Gaëna mora numa casa entre as montanhas na província de Quebec. Gentil e pacientemente, ela respondeu às minhas questões e comentários insanos escritos em um inglês sofrível; melhor que o francês, que arrisco apenas cinco frases. Eu quase esqueci de te dizer que, por parte de mãe, tenho uma pequena porção de sangue português correndo nas veias. Combinamos trocar aulas de línguas e fomos às suas peças.

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Conheci seu trabalho ano passado navegando sem objetivo pela internet. Desde então, me tornei assídua visitante do seu charmoso blog, onde Gaëna publica quase diariamente uma fotografia editada seguida por um pequeno poema seu ou de outros, arrematados quase sempre por uma canção dos Charles Trenet ou Aznavour.

Carregadas de uma peculiar passionalidade feminina, as imagens de Gaëna têm como temática-base a natureza, viva ou em modo still life, essências naturais. Cada captura que faz é violentamente interceptada por um mundo ilusório que lhe deixa à mostra novos lados, luminosos ou escuros. Isso consegue através de suas edições, parte crucial de cada peça, onde a foto é manufaturada e se torna imagem. É desse modo que elas passam a dizer sobre coisas que não estavam antes ali, ao menos não de modo perceptível. Num flerte entre as palavras, as estórias e as imagens, Gaëna busca revelar os sentidos existentes além do que comparece concreto nas coisas ou nos corpos.

Primeiro, o que vem antes: escrever ou fotografar? Você poderia contar um pouco sobre como essas duas coisas se organizam na sua mente e qual a relação entre as suas imagens e a sua poesia?

Desde que me lembro, eu olhava para o mundo como se fosse através de uma janela, de uma moldura. Como uma pintura em movimento. Uma obra de arte pode vir de várias inspirações; desde o lado mais leve e luminoso, até o lado mais obscuro e o escoar dos dias. Todas as minhas memórias são imagens. Sempre procurei, percebi, imaginei histórias, perfumes e tons através de imagens. Quando comecei a escrever, desenhava imagens com as palavras... Costumo dizer que, mesmo nas minhas palavras, eu faço imagens e é assim que eu sinto as coisas.

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Gaëna, você parece criar sempre um mundo onde tudo parece imaginado, mas essa imaginação sempre está existindo nas coisas concretas, nas paredes, nos guarda-chuvas, nos carros. Você costuma falar muito sobre a sua cidade, mas por vezes ela me parece ser uma cidade fantástica, um lugar além do lugar. Estou sendo muito besta? (risos) Como acontece? O que os seus olhos estão procurando?

Eu sou muito instintiva e gosto de tudo por mim mesma. Aqui é um país onde eu me aventuro sem saber às vezes por onde em termos concretos, mas com a certeza de que desconheço alguma coisa e de que alguma coisa pode acontecer pela exploração, pela transformação. Isso é algum tipo de mágica interna (risos)

Bem, há muitos modos de se viajar com as imagens. Pessoas. Paisagens humanas. Veja, tirando um pouco de tempo para explorar as pessoas, aprendendo a conhecer a humanidade, e então ouvi-la com os olhos. Continuam sendo... impressões. Um pouco como em “Wings of Desire” do Wim Wenders, sabe? Ouvindo as pequenas vozes das pessoas. A única que vem de dentro pela apreensão do momento presente, "a plot of time". Olhar, tocar, cheirar talvez, a solidão que está em todas as pessoas. Você sabe, solidão. Não podemos fazer nada a respeito. Constante, momentânea, efêmera, permanente... E suas expressões estão nos mais ínfimos movimentos do corpo. Ah..! Tantas coisas...

Digo isso também pelas suas edições, me parecem falar de visões escondidas. Algumas vezes penso estar me lembrando de sonhos que tive. É uma sensação forte de que estou acordando pela manhã e começo a me lembrar sobre o que sonhei. Me fale dessas insanidades...

As minhas imagens são o meu abrigo. Tenho prazer em saber como, Ao farejar, ao ouvir, que esse abrigo também se torna um para os outros. O outro que viaja, talvez, nas asas dos meus desejos, dos meus sonhos e aqueles que eu vejo no corpo das outras pessoas, perdidos na multidão.
Você me perguntou o que vem primeiro; palavras ou imagens. Isso depende. Quando estou ilustrando a arte de outros artistas: escritos, músicas, a inspiração irá fluir daquela expressão. Quando estou criando meu universo pessoal, tudo está junto como uma totalidade. Normalmente, no La Chambre Noire, é mais a imagem que abre a estrada... É por isso que a fotografia é importante: ela diz sem palavras.

gaena bois sonho glamour amelie poulin

O corpo, o seu corpo principalmente, tem uma grande importância nas suas fotografias. Você tira fotos suas por você mesma ou alguém a auxilia? Qual idioma o seu corpo quer dizer através daquelas cores, vestidos, das texturas. Dos nus. As suas mãos e as cadeiras...

Então.. o corpo, o “país por onde trafego”....O meu, por instância. Por numerosas razões: o simples prazer de “brincar”, aquele “fazer o que quero”, e também por ser mais fácil. Sim, eu quem tiro as fotos de mim mesma. O idioma do corpo? Suavidade, dança, flutuações... Usar o meu corpo é usar uma silhueta “não-comercial”; um corpo feminino vivendo, se movimentando, expressando, brincando... Sendo vivo. Num futuro próximo, pretendo usar outras pessoas. Tomar uma modelo como se tomasse um país. Um outro lado do mundo.

gaena bois sonho glamour amelie poulin

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Os trabalhos de Gaëna Des Bois podem ser encontrados em seu blog La chambre noire, com impressões-souvenir na galeria Imagekind. Em algum ponto de Setembro, ela abrirá a sua própria galeria profissional.

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2008/08/gaena_des_bois_fotografa_de_universos_sonhados.html#ixzz1Ju6PJZZ0

Ligthgraff

 

 Lightgraff - graffiti com luz

O que significa lightgraff? É uma palavra formada pela contracção de "light" (luz) e "graff", abreviatura de graffiti, ou seja graffiti feito de luz. Trata-se de uma disciplina artística recente que combina e unifica a técnica da escrita caligráfica e da fotografia em actos únicos e irrepetíveis. O lightgraff é efémero e é isso que lhe confere beleza.

O lightgraff é puro e espontâneo: não há truques, não há margem para erros, não há tratamento digital posterior para correcção. O artista não vê o que faz. Sente-o, quando muito, pois poderia fazê-lo de olhos fechados. É arte ao vivo. Ao contrário do graffiti convencional não é intrusivo e não vandaliza. Não deixa marcas, apenas registos fotográficos. É imaterial e, ao mesmo tempo, tridimensional. O fotógrafo e o graffitter são as únicas testemunhas: um escreve, o outro regista.

 Lightgraff - graffiti com luz

 Lightgraff - graffiti com luz

 Lightgraff - graffiti com luz

Curisamente esta expressão visual foi iniciada por... Picasso. Recentemente tem vindo a ganhar um número crescente de adeptos e executantes, nomeadamente em França. Artistas como Rézine, Julien Breton (kaalam) e Brusk iluminam as noites de Paris e outras cidades francesas com pincéis de luz feitos de lâmpadas de néon, LEDs e ponteiros laser multicoloridos guiados por mãos precisas. Autodenominam-se "calígrafos". Vestem-se de negro para que as câmaras fotográficas, reguladas para um tempo de exposição longo, captem apenas as suas coreografias e ritmos. Muitas vezes estes espectáculos fugazes são acompanhados de um fundo musical que, infelizmente, não aparece nas fotografias.

É impossível ficar indiferente à beleza, significado e potencial desta expressão artística que reúne num instante fugaz um conteúdo tão intenso. Os calígrafos utilizam caracteres árabes e de outros alfabetos e combinam-os habilmente numa nova síntese. O graffiti convencional empalidece ao pé destes símbolos pujantes. Há muito tempo que a escrita não conhecia uma evolução tão

 

Ligthgraff

 

 Lightgraff - graffiti com luz

O que significa lightgraff? É uma palavra formada pela contracção de "light" (luz) e "graff", abreviatura de graffiti, ou seja graffiti feito de luz. Trata-se de uma disciplina artística recente que combina e unifica a técnica da escrita caligráfica e da fotografia em actos únicos e irrepetíveis. O lightgraff é efémero e é isso que lhe confere beleza.

O lightgraff é puro e espontâneo: não há truques, não há margem para erros, não há tratamento digital posterior para correcção. O artista não vê o que faz. Sente-o, quando muito, pois poderia fazê-lo de olhos fechados. É arte ao vivo. Ao contrário do graffiti convencional não é intrusivo e não vandaliza. Não deixa marcas, apenas registos fotográficos. É imaterial e, ao mesmo tempo, tridimensional. O fotógrafo e o graffitter são as únicas testemunhas: um escreve, o outro regista.

 Lightgraff - graffiti com luz

 Lightgraff - graffiti com luz

 Lightgraff - graffiti com luz

Curisamente esta expressão visual foi iniciada por... Picasso. Recentemente tem vindo a ganhar um número crescente de adeptos e executantes, nomeadamente em França. Artistas como Rézine, Julien Breton (kaalam) e Brusk iluminam as noites de Paris e outras cidades francesas com pincéis de luz feitos de lâmpadas de néon, LEDs e ponteiros laser multicoloridos guiados por mãos precisas. Autodenominam-se "calígrafos". Vestem-se de negro para que as câmaras fotográficas, reguladas para um tempo de exposição longo, captem apenas as suas coreografias e ritmos. Muitas vezes estes espectáculos fugazes são acompanhados de um fundo musical que, infelizmente, não aparece nas fotografias.

É impossível ficar indiferente à beleza, significado e potencial desta expressão artística que reúne num instante fugaz um conteúdo tão intenso. Os calígrafos utilizam caracteres árabes e de outros alfabetos e combinam-os habilmente numa nova síntese. O graffiti convencional empalidece ao pé destes símbolos pujantes. Há muito tempo que a escrita não conhecia uma evolução tão