segunda-feira, 5 de abril de 2010

Rasgo minha carne
Tiro as máscaras
Mergulho fundo, me reinvento
Gata com sete vidas
Caio em pé e não me deito
Sou felina, sou mulher
Sou teu desejo e segredo
Perturbo teu silêncio
Me escondo atrás da lua
Me desapego
Apago pegadas e sonetos
Sou dança e cantiga
Não tenho medo
Reconstruo minha vida
Crio meu caminho
Sigo em frente
Jogando versos ao vento

Myriam Valentina


A Torpe Sociedade onde Nasci

I

Ao ver um garotito esfarrapado
Brincando numa rua da cidade,
Senti a nostalgia do passado,
Pensando que já fui daquela idade.

II

Que feliz eu era então e que alegria...
Que loucura a brincar, santo delírio!...
Embora fosse mártir, não sabia
Que o mundo me criava p'ra o martírio!

III

Já quando um homenzinho, é que senti
O dilema terrível que me impôs
A torpe sociedade onde nasci:
— De ser vítima humilde ou ser algoz...

IV

E agora é o acaso quem me guia.
Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,
Sou tudo: mas não sou o que seria
Se o mundo fosse bom — como não é!

V

Tuberculoso!... Mas que triste sorte!
Podia suicidar-me, mas não quero
Que o mundo diga que me desespero
E que me mato por ter medo à morte...

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

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