quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


O RIBEIRÃO DA MINHA INFÂNCIA

Não o reencontro.
Nem o reencontrarei
o ribeirão da minha infância.
Sua morte foi decreto público
de morte inteira.
De evitar qualquer vestígio.
Não teve prestígio.
Não tinha bandeira.

Nunca o fotografei.
Mas guardei-o em mim.
Nunca foi cartão-postal.
Mas é passaporte de saudade.

O ribeirão dorme
sob entulho,
num embrulho de crueldade.
Dorme sob a assinaturado
do decreto.
No esquecimento geral dorme
e dorme na minha inútil lembrança.

Nada o fará ressuscitar.
Riem de minhas perguntas,
caçoam do meu poema,
me apontam na rua,
me nomeiam entre os animais irracionais.

Não à minha frente
em seus disfarces de lobo e raposa.
Não em meus olhos
com seus olhos de enguia.

Mas em festas de família,sim.
E sobretudo aos sussuros,sim.
Ali dizem o que pensam
e se contorcem de rir até as lágrimas.

Lindolf Bell


In O Código das Águas

Sem comentários:

Enviar um comentário