terça-feira, 6 de abril de 2010


Queria ser lírico
como um xírico
dizer sem perceber
aquilo que faço
embora, no mundo da ébola
onde grilos giram
circulam
afundam
por entre terras tenras
envolvidas no desenvolvimento
onde vidas se escondem
praticando artes profanas

Queria ser alguém
viver de bem
sem ninguém provocar
manifestando apenas alegria
como se estivesse na grande festa
de família também simpática
que não tem problemas graves
apenas dezenas de amores
multiplicadas em cada réplica da vida
despojada neste espaço jocoso
onde vivem bondosos montes
de javalis e aves
em comunhão de bens

Queria ser tudo
menos um rebelde
abandonado pelos donos
como um escravo no deserto
isolado e liberto
sem ninguém p'ra ajudar
apenas oferecer seu magro corpo
ao húmus desértico
e confirmar o fim artístico
de mais uma criatura turística
que veio ao mundo de passagem
como um passageiro estrangeiro
entre mestres megalomaníacos
que não sabem mais nada
senão chorar p'lo que desejam


Domingos Carlos Pedro, Maputo, Moçambique

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