sábado, 5 de março de 2011

Rui Reininho/GNR - Rui veloso

 

 

Rui Reininho/GNR

Bellevue

Leve levemente como quem chama por mim
Fundido na bruma no nevoeiro sem fim
Uma ideia brilhante cintila no escuro
Um odor a tensão do medo puro
Salto o muro, cuidado com o cão
Vejo onde ponho o pé, iço-me a mão
Encosto ao vidro um anel de brilhantes
É de fancaria a fingir diamantes
Salto a janela com muita atenção
Ponho-me à escuta, bate-me o coração
Sabem que me escondo na Bellevue
Ninguém comparece ao meu rendez-vous
Porta atrás porta pelo corredor
O foco de luz no ultimo estertor
No espelho um esgar, um sorriso cruel
Atrás da ultima porta a cama de dossel
Salto para cima experimento o colchão
Onde era sangue é só solidão
Os meus amigos enterrados no jardim
E agora mais ninguém confia em mim
Era só para brincar ao cinema negro
Os corpos no lago eram de gente no desemprego

 

 

 

 

Bairro do Oriente
.

Tenho à janela
uma velha cornucópia
cheia de alfazema
e orquídias da Etiópia
.
Tenho um transistor ao pé da cama
con sons de harpas e oboés
e cantigas de outras terras
que percorri de lés-a-lés
.
Tenho uma lamparina
que trouxe das arábias
para te amar à luz do azeite
num kamasutra de noites sábias
.
Tenho junto ao psyché
um grande cachimbo d'água
que sentados num canapé
fumámos ao cair da mágoa
.
Tenho um astrolábio
que me deram beduínos
para medir no firmamento
os teus olhos astralinos
.
Vem, vem à minha casa
rebolar na cama e no jardim
acender a ignomínia
e a má língua do código pasquim
que nos condena numa alínea
a ter sexo querubim
.
Carlos Tê

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